Detecção e manejo de disfunções cardíacas em pacientes com esclerose sistêmica tratados com altas doses de ciclofosfamida seguidas por transplante de células-tronco hematopoéticas
Detection and management of cardiac disfunction in patients with systemic sclerosis treated with high dose cyclophosphamide followed by hematopoietic stem cell transplantation
Publication year: 2018
O transplante autólogo de células-tronco hematopoéticas (TACTH) é efetivo para o tratamento da esclerose sistêmica (ES), com controle do acometimento pulmonar, e melhora da fibrose cutânea, da qualidade de vida e aumento da sobrevida global, quando comparado a pacientes não transplantados. Neste tratamento, utiliza-se ciclofosfamida em altas doses, uma droga imunossupressora associada a cardiotoxicidade, potencialmente fatal. A avaliação de potenciais fatores de risco e monitorização clínica durante o procedimento podem contribuir para identificar precocemente a lesão cardíaca aguda e, assim, melhorar o desfecho clínico do paciente. O objetivo deste estudo foi identificar a ocorrência de disfunções cardíacas e avaliar os fatores de risco clínicos e laboratoriais para o desenvolvimento de toxicidade cardíaca aguda induzida pela ciclofosfamida, em pacientes com ES submetidos ao TACTH. Trata-se de um estudo longitudinal e prospectivo, conduzido no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, em pacientes com ES com idade superior a 18 anos, no período de novembro de 2016 a maio de 2018, aprovado por Comitê de Ética em Pesquisa. Os pacientes foram avaliados quanto aos dados clínicos e laboratoriais, incluindo dosagem de peptídeo natriurético, no período pré, durante e 6 meses após o transplante. Foram incluídas 16 mulheres com ES, das quais uma optou por descontinuar a participação no estudo, tendo seus dados excluídos. Nenhum dos participantes apresentava história de uso de substâncias psicoativas ou diagnóstico de diabetes mellitus. Uma paciente era tabagista passiva e uma era tabagista ativa há 24 anos, abstinente desde há três meses antes do início do transplante. Duas pacientes eram hipertensas, controladas com medicamentos anti-hipertensivos. Durante o transplante, 7 (46,7%) pacientes apresentaram alterações cardíacas associadas à ciclofosfamida. As pacientes apresentaram taquicardia, ganho ponderal, aumento de pressão venosa central e dispneia iniciados em menos de 24 horas e até 4 dias após o término da infusão da dose total de ciclofosfamida (200mg/kg) do transplante. Em três, de cinco pacientes submetidas a ecocardiografia, foram detectadas alterações sugestivas de disfunção cardíaca, corroborando os achados clínicos. Uma paciente evoluiu com choque refratário e posterior óbito por falência múltipla de órgãos. Uma paciente necessitou de pericardiocentese de alívio e, nos demais, o manejo com medicações reverteu as alterações clínicas. A dosagem dos níveis séricos de peptídeo natriurético mostrouse mais elevada (p<0,0005) nos pacientes que apresentaram sinais de toxicidade cardíaca. Concluímos que as avaliações clínicas sistematizadas por equipe de enfermagem permitiram a detecção de disfunções cardíacas pós-infusão de altas doses de ciclofosfamida, quadros retrospectivamente comprovados por elevação dos níveis sérico de peptídeo natriurético. O número reduzido de participantes não permitiu fazer análises estatísticas preditoras de cardiotoxicidade e foi uma limitação do estudo. Futuramente, objetivamos aumentar o número de pacientes do estudo e identificar marcadores preditivos de toxicidade cardíaca antes e durante o transplante
Autologous hematopoietic stem cell transplantation (AHSCT) is effective for the treatment of systemic sclerosis (SSc), with stabilization of pulmonary involvement and improvement of cutaneous fibrosis, quality of life and overall survival, when compared to non-transplanted patients. Transplant includes high dose cyclophosphamide, an immunosuppressive drug associated with potentially fatal cardiotoxicity. The evaluation of potential risk factors and clinical monitoring during the procedure may contribute to early identification of acute cardiac injury and thus improve the patient's clinical outcome. The aim of this study was to detect cardiac dysfunctions and to evaluate clinical and laboratory risk factors for the development of acute cardiac toxicity induced by cyclophosphamide in SSc patients submitted to AHSCT. This is a longitudinal and prospective study, conducted in the University Hospital of the Ribeirão Preto Medical School (Brazil), in patients with SSc, older than 18 years of age, from November 2016 to May 2018. The protocol has been approved by the Institutional Research Ethics Committee and all patients signed informed consent. Patients were evaluated for clinical and laboratory data, including natriuretic peptide dosage before, during and at the 6 months post-transplant time point Sixteen women with SSc were included, one of whom chose to discontinue participation in the study, having their data excluded. None of the participants had a history of psychoactive substance abuse or a diagnosis of diabetes mellitus. One patient was a passive smoker and another, an active smoker for 24 years, not smoking in the three months before transplantation. Two patients had their blood pressure controlled with antihypertensive drugs. During transplantation, 7 (46.7%) patients had cardiac changes associated with cyclophosphamide. The patients presented tachycardia, weight gain, increased central venous pressure and dyspnoea initiated in less than 24 hours and up to 4 days after the end of the infusion of the total cyclophosphamide dose (200mg / kg) of the transplant. In three of five patients investigated by echocardiography, alterations suggestive of cardiac dysfunction were detected, corroborating the clinical findings of cardiac dysfunction. One patient evolved with refractory shock and subsequent death due to multiple organ failure. One patient required pericardiocentesis due to cardiac tamponade and, in the others, management with medications reversed the clinical alterations. Serum natriuretic peptide levels were higher (p<0,0005) in the patients with than in the patients without any signs of cardiac toxicity. Clinical evaluations by the nursing staff allowed the detection of cardiac dysfunctions after infusion of high dose cyclophosphamide, retrospectively confirmed by elevation of serum levels of natriuretic peptide. The reduced number of participants did not allow for statistical analyzes to predict cardiotoxicity and was a limitation of the study. In the future, we aim to increase the number of patients in the study and to identify predictive markers of cardiotoxicity before and during transplant procedure