Coexistência e prevalência de intervenções obstétricas: análise sobre os modelos de assistência ao parto em maternidades públicas e privadas de Belo Horizonte
Publication year: 2021
Introdução A coexistência de intervenções obstétricas durante o trabalho de parto está associada ao modelo de assistência ao parto e a vários fatores que podem influenciar essa relação. O objetivo deste estudo foi avaliar os perfis de coexistência e prevalência de intervenções obstétricas em maternidades públicas e privadas na cidade de Belo Horizonte e investigar os fatores sociodemográficos, obstétricos e do modelo hospitalar associados a estes perfis.
Métodos:
Trata-se de uma revisão integrativa da literatura e de um estudo observacional com delineamento transversal, realizado com dados da pesquisa “Nascer em Belo Horizonte: Inquérito sobre o Parto e Nascimento”, em sete maternidades que atendem à rede pública de saúde e em quatro maternidades que prestam assistência à rede suplementar de saúde de Belo Horizonte – Minas Gerais, Brasil. Realizou-se a estratégia de busca na base de dados Pubmed, e selecionaram-se artigos sobre o modelo de assistência ao parto. Ao final, incluíram-se 20 artigos. No estudo transversal, as intervenções analisadas foram: oferecimento de dieta, liberdade para movimentação, uso de partograma, métodos não farmacológicos para alívio da dor, enema, tricotomia, posição deitada para o parto, Kristeller, amniotomia, infusão de ocitocina, analgesia e episiotomia. Para a construção dos perfis, consideraram-se as variáveis idade, escolaridade, cor de pele, primigesta, financiamento do local de parto, número de consultas de pré-natal, idade gestacional no parto, presença de enfermeira(o) obstétrica(o), trabalho remunerado e acompanhante durante o parto. Neste estudo, utilizou-se o método do Grade of Membership (GoM). Para verificar a magnitude da associação entre os perfis gerados de coexistência da realização de intervenções obstétricas e seus possíveis determinantes, construíram-se modelos de regressão de Poisson.Resultados:
A análise dos artigos selecionados levou à construção de quatro categorias: caracterização dos modelos; avaliação dos modelos; mudança no modelo e desafios para mudança de modelo. Observou-se, ainda, a existência de dois modelos assistenciais antagônicos nas instituições: o medicalizado e o não medicalizado. No estudo epidemiológico, os resultados apontaram, também, para a existência de dois perfis obstétricos antagônicos: construiu-se o perfil 1 por parturientes que tiveram oferecimento de dieta, liberdade de movimentação, uso de partograma, métodos não farmacológicos para alívio da dor, pariram na posição deitada, não foram submetidas à manobra de Kristeller, episiotomia nem amniotomia e não receberam infusão de ocitocina e uso de analgesia. Ao se analisar os fatores que influenciaram a coexistência das intervenções obstétricas, observou-se que o financiamento do hospital do parto influenciou na maior chance de as mulheres pertencerem ao perfil 2. Entretanto, quando o hospital dispunha, na cena do parto, da presença do profissional enfermeira(o) obstétrica(o) atuante, houve redução na chance de pertencerem ao perfil 2. Estes resultados explicitaram, ainda, que todas as mulheres pertencentes a determinado perfil tenderam a receber o mesmo conjunto de intervenções, demonstrando que a coexistência de intervenções obstétricas nos perfis define dois modelos de assistência ao parto.Conclusão:
Apesar de avanços em direção à adesão a um modelo baseado em evidências científicas, ainda há predominância de um modelo reducionista e medicalizado que remete ao poder profissional. Este estudo contribui nas discussões acerca das intervenções obstétricas, bem como nos modelos de assistência ao parto, visando à implementação de políticas públicas que assegurem uma assistência pautada nas boas práticas ao parto e nascimento.
Introduction The coexistence of obstetric interventions during labor is associated with the model of childbirth care and several factors that may influence this relationship. The aim of this study was to evaluate the coexistence and prevalence profiles of obstetric interventions in public and private maternity hospitals in the city of Belo Horizonte and to investigate the sociodemographic, obstetric and hospital model factors associated with these profiles.