Assertividade da punção venosa periférica orientada por ultrassom versus punção venosa periférica convencional: ensaio clínico randomizado

Publication year: 2022

A punção de um acesso venoso é o procedimento invasivo mais comum no ambiente hospitalar. O uso da ultrassonografia para orientação do cateterismo venoso periférico em populações e ambientes específicos têm demonstrado benefícios assistenciais aos pacientes submetidos ao seu uso. Resultados da aplicação desta tecnologia em pacientes clínicos fora de áreas críticas, com amostra estratificada por faixa etária são inexistentes. O objetivo geral do estudo foi comparar a assertividade na primeira tentativa de inserção de cateteres venosos periféricos orientados por ultrassom realizada por enfermeiros especialistas com a punção venosa periférica convencional (sem ultrassonografia) realizada por enfermeiros assistenciais. Trata-se de um ensaio clínico randomizado (ECR) tipo PROBE (Prospective Randomized Open Blinded End Point), paralelo, controlado e de centro único, registrado na plataforma ClinicalTrials.gov sob o registro NTC04853264, conduzido em um hospital público universitário, entre 22 de junho e 24 de setembro de 2021. Foram incluídos pacientes adultos hospitalizados em unidades de internação clínica, com indicação de terapia intravenosa compatível com rede venosa periférica. Os participantes foram divididos em grupo intervenção (GI) – inserção de cateter venoso periférico orientado por ultrassonografia executada por enfermeiros especializados de um programa de acesso vascular; e grupo controle (GC) – cateterismo venoso periférico por técnica convencional executada por enfermeiros da prática clínica. A randomização foi realizada em blocos de diferentes tamanhos e estratificados por idade, através de uma ferramenta própria do software Research Electronic Data Capture (REDCap). O desfecho primário incluiu a assertividade de punção/inserção do cateter venoso periférico. Desfechos secundários incluíram o tempo em minutos despendido para a inserção do cateter venoso periférico, classificação das condições da rede venosa periférica, tempo de permanência do cateter venoso periférico e os desfechos compostos durante o seguimento.

Foram incluídos um total de 166 pacientes:

GI (n = 82) e GC (n = 84), sexo feminino (62,7%), predomínio de etnia branca (81,9%) e média de idade 59,5 ± 16,5 anos. A assertividade na primeira tentativa de punção venosa periférica no GI foi de 90,2% e no GC foi de 35,7% (P < 0,001), com 2,5 (IC 95% 1,88-3,40] entre os grupos. A taxa geral de assertividade foi de 100% no GI e 71,4 % no GC. Quanto ao tempo de realização do procedimento a mediana no GI foi de 5 (4-7) minutos versus 10 (6-27,5) minutos no GC, (P < 0,001). Referente às condições da rede venosa periférica dos pacientes foi evidenciado que 58,5% do GI e 41,7 GC (P = 0,053) apresentavam alto risco de falha na primeira tentativa de punção, conforme a classificação utilizada. A mediana relativa ao tempo de permanência do acesso venoso não teve diferença significativa entre os grupos 4 (2-6) versus 2 (2- 6) dias no GI e GC, respectivamente (P = 0,256). Para os desfechos compostos, os dispositivos intravenosos periféricos do GI apresentaram menor incidência de desfechos negativos, GI com 39% versus GC com 66,7% (P < 0,001), gerando uma probabilidade 42% menor de desfechos negativos no GI, 0,58 (IC 95% 0,43-0,80). Os resultados deste ECR permitem concluir que a assertividade na primeira tentativa de inserção de um cateter venoso periférico foi superior para o grupo em que foi utilizada a ultrassonografia por enfermeiros com expertise nesse procedimento, sem falhas, com menor tempo de inserção e menos incidência de desfechos desfavoráveis.
Venipuncture is the most common invasive procedure in the hospital environment. Using ultrasound to guide peripheral venipuncture in specific populations and environments has proved beneficial to patients subjected to its use. Results on the application of this technology in clinical practices outside critical areas, with sample stratifies by age group are nonexistent. Overall, this study sought to compare the assertiveness of ultrasound-guided peripheral venipuncture performed by specialist nurses with conventional peripheral venipuncture performed by care nurses. This is a parallel, controlled, single center, PROBE (Prospective Randomized Open Blinded End Point) clinical trial registered on the ClinicalTrials.gov platform under registration NTC04853264 carries out at a public university hospital, between June 22 and September 24, 2021. Adult patients admitted to clinical inpatient units, with indication for intravenous therapy compatible with peripheral venous network were included. Participants were divided into intervention group (IG) – ultrasound-guided peripheral venipuncture performed by specialist nurses from a vascular access program; and control group (CG) – conventional peripheral venipuncture performed by clinical nurses. Randomization was performed in bloc of different sizes and stratified by age group using Research Electronic Data Capture (REDCap) software. Primary outcome included the assertiveness of peripheral venipuncture. Secondary outcomes comprised time in minutes spent for peripheral venipuncture, classification of peripheral venous network condition, peripheral venous catheter length of stay, and composite outcomes during follow-up.

A total of 166 patients were included:

IG (n = 82) and CG (n = 84), women (62.7%), white (81.9%) and mean age 59.5 ± 16.5 years. Assertiveness on the first attempt of peripheral venipuncture in the IG was 90.2% and in the CG was 35.7% (P < 0.001), with 2.5 (95%CI 1.88-3.40] between groups. Median time of the procedure was 5 (4-7) minutes in the IG versus 10 (6-27.5) minutes in the CG, (P < 0.001). Overall assertiveness rate was 100% in the IG and 7.4 % in the CG. Regarding the patients’ peripheral venous network condition, 58.5% of the IG and 41.7% of the CG (P = 0.053) showed high risk of failure in the first attempt, according to the classification used.

Median duration of venous access had no significant difference between groups:

4 (2-6) versus 2 (2-6) days in the IG and CG, respectively (P = 0.256). For the composite outcomes, the IG peripheral intravenous devices had a lower incidence of negative outcomes, with 39% versus CG with 66.7% (P < 0.001), generating a 42% lower probability of negative outcomes in the IG, 0.58 (95%CI 0.3-0.80). The results allow us to conclude that assertiveness in the first attempt of peripheral venipuncture was superior for the ultrasound-guided group, with no failures, shorter insertion time, and less incidence of unfavorable outcomes.