Fatores associados à hemorragia pós-parto primária em um hospital universitário

Publication year: 2021

Introdução:

A hemorragia pós-parto (HPP) é uma emergência obstétrica apontada como uma das principais causas de morte materna. A maioria dos óbitos por HPP ocorre durante as primeiras 24 horas após o parto, sendo classificada como primária. Seu reconhecimento e tratamento precoces impactam diretamente nessa taxa. Dadas a escassez de estudos como este e a importância de identificar os fatores de risco para HPP e de qualificar a assistência visando à redução da mortalidade materna, justifica-se o desenvolvimento deste estudo, pois os dados poderão subsidiar a proposição de readequação e melhorias nas condutas assistenciais voltadas à prevenção da HPP, além de auxiliarem na identificação das mulheres com maior risco de desenvolvê-la.

Questão de pesquisa:

quais são os fatores associados à ocorrência de HPP primária em um hospital universitário? Objetivo geral: identificar os fatores associados à HPP primária em um hospital universitário de Porto Alegre (RS).

Objetivos específicos:

Determinar a prevalência de HPP; averiguar as causas específicas do acionamento do alerta vermelho no pós-parto emum hospital universitário; conhecer os fatores de risco anteparto e intraparto associados à HPP; associar a estratificação do risco para HPP com a sua ocorrência; verificar a associação da HPP com a história obstétrica e o perfil obstétrico e sociodemográfico das mulheres.

Método:

estudo transversal com amostra de 277 puérperas que tiveram a assistência ao parto ou cesárea em um hospital universitário da região Sul do país. Os dados, coletados de junho a setembro de 2020, foram obtidos por consulta ao prontuário eletrônico, considerando-se variáveis de identificação, dados obstétricos atuais, histórico obstétrico, dados do parto e sobre a HPP. Foram incluídos no estudo os prontuários de puérperas internadas na referida instituição, independentemente da idade gestacional e via de parto, com no mínimo 24 horas de pós-parto, contemplando todas as informações necessárias para o preenchimento do instrumento de coleta de dados, sendo excluídos os prontuários de puérperas portadoras de coagulopatias e/ou doenças hematológicas (exceto ocorrência de anemia durante a gestação) e das que estiveram internadas por prestadora de saúde privada (convênio) ou por custeio próprio (particular). Os dados foram analisados utilizando-se testes qui-quadrado de Pearson ou exato de Fisher. Para a análise dos fatores associados à HPP, foi utilizada a Regressão de Poisson (com variâncias robustas, simples e múltipla). A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisado Hospital de Clínicas de Porto Alegre, sob o parecer no 4.038.

769 e CAAE:

27944619.3.0000.5327.

Resultados:

30% (n=83) das puérperas tiveram HPP. Durante a realização da pesquisa, não houve acionamento do alerta vermelho para a amostra em estudo. A estratificação de risco não esteve associada estatisticamente com a ocorrência de HPP. Associaram-se à ocorrência do desfecho o índice de choque (IC) (p=0,023) e a distensão uterina (p<0,001). Mulheres com IC ≥ 0,9 apresentam uma prevalência 61% maior de HPP (RP=1,61; IC 95%: 1,07 – 2,43), e mulheres com distensão uterina apresentam uma prevalência 134% maior de HPP (RP=2,34; IC 95%: 1,63 – 3,36), mostrando-se como fatores de risco intraparto e anteparto, respectivamente, para a ocorrência de HPP.

Conclusão:

o IC e a distensão uterina relacionaram-se com a ocorrência de HPP. O reconhecimento desses fatores pode direcionar a uma qualificação da assistência prestada, sinalizando aspectos de extrema relevância na ocorrência ou não do desfecho, considerando-se as características clínicas das usuárias assistidas. Observa-se a necessidade de homogeneizar os registros em prontuário eletrônico, mediante a criação de um indicador ou aba no sistema informatizado da instituição. Como fatores limitantes deste estudo, destacam-se as diferentes formas de registro dos casos de HPP nos prontuários das pacientes na referida instituição.

Introduction:

Postpartum hemorrhage (PPH) is an obstetric emergency regarded as oneof the main causes of maternal mortality. Most of the deaths caused by PPH occur within 24 hours after birth and are categorized as primary. Early identification and treatment have a direct impact on this rate.

General objective:

To identify the factors associated with primary postpartum hemorrhage in a university hospital in Porto Alegre (RS). Giventhe shortage of studies like this and the importance of both identifying the risk factors for PPH and qualifying the assistance personnel to decrease maternal mortality, the relevanceof this study is justified. Furthermore, data can support the proposal of readjustment andimprovement of assistance conducts to prevent PPH, besides being helpful to identify women at higher risk of developing it.

Research question:

Which are the factors associated with the occurrence of primary PPH in a university hospital? Specific objectives: To determine the prevalence of PPH; To investigate the specific causes of red alert along the postpartum period in a university hospital; To know the risk factors associated with PPH occurring before and along the child birth; To associate the stratification of risk of PPH with its occurrence; To verify the association of PPH with the obstetrical background, and the obstetrical and social-demographic profile of those women.

Method:

Cross-sectional study carried out with a sample of 277 women assistedfor vaginal delivery or cesarean birth in a university hospital in the southern region of the country. Data were collected from June to September 2020, and obtained from electronic patient records comprising variables of identification, current obstetric data, obstetric background, birth data, and data on PPH. The study included records providing all the information required by the data collection instrument, considering women assisted in that institution, regardless of their gestational age and type of delivery, at least 24 hours after giving birth. Records of women presenting with coagulo pathies and/or hematological diseases (except anemia during pregnancy), and those of women with health insurance or private coverage were excluded. Data were analyzed by means of Pearson’s chi-square tests or Fisher’s exact test. To analyze the factors associated with PPH, Poisson Regression was used (with robust, simple and multiple variances). The study was approved by the Research Ethics Committee of Hospital de Clínicas de Porto Alegre, under Nr. 4.038.

769 and CAAE:

27944619.3.0000.5327.

Results:

30% (n=83) of the participants had PPH. Along the research, the red alert was not triggered for the studysample. The stratification of risk was not statically associated with the occurrence of PPH. Shock index (p=0.023) and uterine distension (p<0.001) were associated with the occurrence of hemorrhage and were shown to be factors of risk both during and before birth, respectively, for PPH. Prevalence of PPH was 61% higher (RP=1.61; IC 95%: 1.07 – 2.43) in women with shock index ≥ 0.9, and 134% higher (RP=2.34; IC 95%: 1.63 – 3.36) in women with uterine distension.

Conclusion:

shock index and uterine distension have shown to be related to the occurrence of PPH. The identification of these factors may lead to the qualification of the assistance provided, thus pointing out some extremely important aspects of the possibility of occurrence of PPH by considering the clinical characteristics of the assisted users. There is a need to homogenize the data in electronic records through the inclusion of an index or tab in the information system of the institution. As limiting factors of this study, the different ways of recording PPH cases inpatient records should be highlighted.