Alterações psíquicas em profissionais da enfermagem pertencentes ao grupo de risco para complicações da COVID-19

Publication year: 2021

Introdução:

a pandemia ocasionada pela COVID-19 tem impactado nas rotinas de trabalho das equipes de enfermagem. O grau de mortalidade e gravidade é modificado de acordo com a faixa etária, sendo de maior a prevalência em pessoas com 60 anos ou mais e portadores de outras comorbidades como diabetes, doenças cardiocirculatórias, gestantes de alto risco e imunossuprimidos, sendo estes classificados como grupo de risco. Com o aumento de casos, o afastamento de profissionais da saúde que fazem parte de grupos de risco não foi possível. Com isso, esses indivíduos continuaram nas suas rotinas de trabalho, convivendo com o medo frente à doença, vulneráveis às alterações psíquicas, como os Distúrbios Psíquicos Menores (DPM) e a síndrome de burnout.

Objetivo:

analisar as implicações das alterações psíquicas do trabalhador de enfermagem pertencente aos grupos de risco e atuantes na pandemia da COVID-19 em quatro hospitais públicos referência no atendimento da doença no Rio Grande do Sul.

Métodos:

estudo transversal, multicêntrico, com 845 profissionais de enfermagem de quatro instituições do Sul do Brasil. Foram incluídos enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem atuantes na assistência hospitalar durante o período da Pandemia pela COVID-19. Como critério de exclusão, foi considerado o afastamento da função durante todo o período, ou, maior parte do tempo, da Pandemia da COVID-19. A pesquisa obteve parecer favorável do Certificado de Apresentação para Apreciação Ética (CAAE) sob n°. 33105820.2.0000.0008. Os participantes do estudo receberam o Termo de Consentimento Livre Esclarecido disponibilizado de forma on-line. A coleta de dados ocorreu no período de agosto a outubro de 2020, via questionário on-line. Todos os trabalhadores com vínculo ativo e que tiveram seu contato disponibilizado foram convidados para participar do estudo via e-mail e/ou contato via redes sociais, utilizando amostragem nãoprobabilística. Para a avaliação, foi aplicado o instrumento Self-Reporting Questionnaire (SRQ 20) e o Maslach Burnout Inventory (MBI). A análise dos dados foi realizada por meio da estatística descritiva e inferencial.

Resultados:

25,3% pertencem ao grupo de risco. Esses trabalhadores apresentaram maiores médias nos escores de Desgaste Emocional e Despersonalização (p<0,05) e maiores percentuais de DPM (55,2%) em relação aos trabalhadores que não pertencem ao grupo de risco. Os DPM apresentaram a maior influência negativa sobre a Realização Profissional (10,0% desta variabilidade). DPM, uso de medicações, impacto na saúde mental e fazer parte das instituições HA, HB e HC apresentaram maior influência sobre o Desgaste Emocional (38,7% desta variabilidade). A Despersonalização foi influenciada pelas variáveis DPM, impacto na saúde mental e fazer parte das instituições HA e HB (23,1% desta variabilidade).

Conclusão:

os resultados obtidos evidenciam que 55,2% dos trabalhadores do grupo de risco estavam expostos aos DPM. O grupo de risco apresentou maiores escores de desgaste emocional e despersonalização para síndrome de burnout. Os resultados deste estudo podem contribuir para discussão sobre os trabalhadores de enfermagem atuantes na assistência hospitalar, inseridos no contexto da pandemia de COVID-19 e expostos a fatores estressantes com possibilidade de ocasionar alterações psíquicas no exercício da profissão.

Introduction:

the pandemic caused by COVID-19 has impacted the work routines of nursing teams. The degree of mortality and severity is modified according to the age group, with a higher prevalence in people aged 60 years and over and with other comorbidities such as diabetes, cardiocirculatory diseases, high-risk pregnant women and immunosuppressed women, who are classified as a group of risk. With the increase in cases, the removal of health professionals who are part of risk groups was not possible. Thus, these individuals continued in their work routines, living with fear of the disease, vulnerable to psychological changes, such as Minor Psychic Disorders (MPD) and burnout syndrome.

Objective:

analyze the implications of changes in psychic nursing workers belonging to risk groups and working in pandemic COVID-19 in four public referral hospitals in the care of the disease in Rio Grande do Sul.

Methods:

crosssectional, multicenter study, with 845 professionals of nursing at four institutions in southern Brazil. Nurses, technicians and nursing assistants working in hospital care during the period of the Pandemic by COVID-19 were included. As an exclusion criterion, the absence from the function during the entire period, or, most of the time, of the COVID-19 Pandemic was considered. The research obtained assent from the Certificate of Presentation for Ethical Appreciation (CAAE) under no. 33105820.2.0000.0008. Study participants received the Informed Consent Form available online. Data collection took place from August to October 2020, via an online questionnaire. All workers with active employment and who had their contact available were invited to participate in the study via email and/or contact via social networks, using non-probabilistic sampling. For the evaluation, the instrument Self-Reporting Questionnaire (SRQ 20) and the Maslach Burnout Inventory (MBI) were applied. Data analysis was performed using descriptive and inferential statistics.

Results:

25.3% belong to the risk group. These workers had higher averages in Emotional Burnout and Depersonalization scores (p<0.05) and higher percentages of MPD (55.2%) compared to workers who did not belong to the risk group. MPD had the greatest negative influence on Professional Fulfillment (10.0% of this variability). MPD, use of medications, impact on mental health and being part of the HA, HB and HC institutions had the greatest influence on Emotional Burnout (38.7% of this variability). Depersonalization was influenced by the variables MPD, impact on mental health and being part of the HA and HB institutions (23.1% of this variability).

Conclusion:

the results obtained show that 55.2% of workers in the risk group were exposed to MPD. The at-risk group had higher emotional burnout and depersonalization scores for burnout syndrome. The results of this study can contribute to the discussion of nursing workers working in hospital care, inserted in the context of the COVID-19 pandemic and exposed to stressful factors with the possibility of causing psychological changes in the exercise of their profession.