Espiritualidade relacionada à qualidade de vida, funcionamento familiar e saúde mental em pessoas com doenças crônicas ameaçadoras a continuidade da vida e seus familiares: estudo exploratório
Spirituality in relation to quality of life, family functioning, and mental health among people with chronical life-threatening diseases, life continuity, and their family
Publication year: 2016
Adoecimento crônico envolve afeto e aproximação entre pacientes e familiares, podendo ser impactados diante da necessidade do cuidado. A rotina e dinâmica do sistema familiar sofrem alterações, apontando a necessidade de clarificar a compreensão sobre os processos familiares e pessoais desencadeados pelo adoecimento crônico que ameaça a continuidade da vida. O objetivo geral desse estudo é avaliar funcionamento familiar e espiritualidade relacionada à qualidade de vida de pessoas com doenças crônicas ameaçadoras a continuidade da vida (DCACV) e seus familiares, verificando possíveis associações destas variáveis com saúde mental e qualidade de vida. Amostra foi composta por grupo de 100 pacientes (GP) portadores de (DCACV), acompanhados em um hospital geral e 100 familiares (GF), pareados com o paciente. Aplicou-se Questionário de informações sociodemográficas e familiares; Escala de Avaliação da Coesão e Adaptabilidade Familiar-versão IV (FACES-IV); Questionário para religiosidade, espiritualidade e crenças pessoais relacionadas à qualidade de vida (WHOQOL-SRPB); Questionário para avaliação de qualidade de vida (WHOQOL-breve); Inventário de Ansiedade de Beck (BAI) e Inventário de Depressão de Beck (BDI-II). Os instrumentos foram aplicados no hospital, quando da consulta ou internação; entrevistados em locais separados, na mesma data. Realizou-se análise estatística descritiva dos resultados, teste t comparando os dois grupos e teste de correlação de Pearson para associações entre variáveis. Amostra predominantemente mulheres (51%-GP e 79%- GF), sem companheiro, residindo com família, católicos, classes B e C. Idade média GP 63,6 anos (+14,85) e GF 48,9 anos (+ 14,25). GP 51% apresentaram sintomas de ansiedade e 31% de depressão, GF 45% ansiedade e 23% depressão. Observou-se diferenças significativas nos grupos em qualidade de vida nos domínios social (t=5,296;p<0,001), ambiental (t=4,038;p<0,001) e resultado global (t=3,919;p<0,001), com melhores resultados para GP. Os grupos se diferenciaram quanto a funcionamento familiar nas subescalas Emaranhada (t=2,357;p=0,019), rígida (t=4,469;p<0,001), com resultados melhores para GF, comunicação (t=2,724;p=0,007) e satisfação (t=3,407;p=0,001), melhor para GP. Espiritualidade, na faceta Admiração (t=2,246;p=0,026), com resultado menor para GP. Observou-se correlações entre ansiedade, depressão e diferentes domínios de qualidade de vida tanto para funcionamento familiar quanto espiritualidade. As correlações entre funcionamento familiar e espiritualidade, no GP foram significativas entre algumas subescalas, porém fracas (r<0,40). As facetas, conexão, força e paz, referentes à espiritualidade, se correlacionaram com todas as subescalas de funcionamento familiar, exceto emaranhada (que não se correlacionou com nenhuma faceta), correlações com caótica foram negativas. A subescala satisfação familiar apresentou correlação positiva com todas facetas de espiritualidade. Resultados apontam que DCACV afeta funcionamento familiar e qualidade de vida, incluindo espiritualidade, e é possível que a doença aproxime as relações familiares, favorecendo ao funcionamento, apesar do processo de adaptação tanto pelo paciente quanto familiar. Quanto à espiritualidade, a presença da DCACV parece afetar a capacidade da pessoa de olhar ao redor buscando inspiração para a vida. Viver torna-se o momento presente, uma vez que o adoecimento pode abreviar a vida. Resultados evidenciaram que maior espiritualidade relacionada à qualidade de vida melhor a funcionalidade familiar, reafirmando que DCACV afeta igualmente paciente e familiar, pois foram observadas mais semelhanças que diferenças entre os dois grupos
Becoming chronically sick involves affection and closeness between patients and family and may be impacted due to the care needed. Routine and family dynamics are changed, pointing to the necessity to understand the personal and family processes triggered by the disease that threatens life. The general goal of this study was to assess family functioning and spirituality relative to quality of life among people with chronical life-threatening diseases (CLTD) and their family and identify possible links between these variables and quality of life and mental health. The sample was composed of 100 patients (GP), all of whom with CLTD, followed up in a hospital, and 100 relatives (GF) paired with the patient. The Sociodemographic and Family Information Questionnaire, Family Adaptability and Cohesion Scale (FACES-IV), Questionnaire on Religiousness, Spirituality and Personal Beliefs Relative to Quality of Life (WHOQOL-SRPB), Quality of life Assessment Questionnaire (WHOQOL-brief), Beck Anxiety Inventory (BAI) and Beck Depression Inventory (BDI-II) were all instruments used in the hospital upon visits or admission. Patients were surveyed in separate rooms on the same date. A descriptive statistical analysis of results, t Test comparing both groups, and the Pearson Correlation Test for links between variables were conducted. Predominantly female sample (51%-GP e 79%-GF), without a partner, residing with family, catholic, B and C classes, average age GP 63,6 years (+14,85) and GF 48,9 years (+ 14,25).