Experiências de vida de mulheres usuárias de drogas

Publication year: 2021

Introdução:

quando uma mulher apresenta comportamentos que, de algum modo, destoam do caráter que a sociedade espera da mesma, aparece o estigma como uma construção social. Nesse sentido, a sociedade adota valores e concepções direcionadas por normas moralistas, e as histórias de vida das pessoas são menosprezadas.

Objetivo geral:

Conhecer as experiências de vida de mulheres usuárias de drogas.

Método:

Estudo qualitativo, com o uso de técnicas narrativas, realizado com seis mulheres que fazem ou fizeram uso de drogas, o cenário de estudo foi um Centro de Atenção Psicossocial II de um município do Rio Grande do Sul. O período de coleta foi de novembro à dezembro de 2020. Foram incluídas mulheres que faziam uso de drogas e maiores de 18 anos e que estavam em tratamento. Excluídas aquelas que apresentavam condições clínicas ou psiquiátricas que impediam de participar. A coleta de dados deu-se por observação livre, entrevista e genograma. Foi utilizada a Análise de Conteúdo modalidade Temática. Como referencial teórico utilizam-se os conceitos de estigma na literatura de Erving Goffman. Este estudo respeitou todos os preceitos éticos estabelecidos pela Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde do Ministério da Saúde. Contou com a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital de Clínicas de Porto Alegre da Universidade Federal do Rio Grande do Sul com Certificado de Apreciação Ética número 38368620.3.0000.5327 sob parecer 4.366.261.

Resultados:

Nas mulheres participantes deste estudo, observou-se que as suas experiências de vida, ainda na infância, foram marcadas por vulnerabilidades relacionadas à saúde mental. Embora sem diagnóstico, nos seus relatos, muitas reconheceram sinais sugestivos de transtorno mental. A adolescência, na maioria, foi marcada pelo uso de drogas e, consequentemente, a perpetuação do estigma. Pelo contexto familiar de vulnerabilidade em saúde mental desde a infância, elas mantiveram comportamentos de isolamento social, rebeldia e distanciamento familiar durante essa fase. O uso da droga está associado à sensação de fuga da realidade para evitar determinados sentimentos negativos gerados pelo ambiente familiar. Percebemos, nos depoimentos analisados, que a relação entre as mulheres e seus companheiros foi potencializadora para agravamento de transtornos mentais e uso de drogas. A maternidade era carregada de culpa e buscavam reestabelecer e fortalecer o vínculo com os filhos, que sentiam-se envergonhados.

Considerações finais:

frente aos resultados obtidos, conhecer a repercussão do estigma nessas mulheres nos permite repensar o modelo de ser mulher construído pelo patriarcado, que limita as mulheres e que causa sofrimento àquelas que, de algum modo, não correspondem a um padrão de normalidade que a sociedade espera.

Introduction:

when a woman presents behaviors that, in some way, conflict with the character that society expects of her, stigma appears as a social construction. In this sense, society adopts values and conceptions guided by moralistic norms, and people’s life stories are undervalued.

General objective:

To know the life experiences of women drug users.

Method:

Qualitative study, with the use of narrative techniques, carried out with six women who use or have used drugs, the study setting was a Psychosocial Care Center II in a city in Rio Grande do Sul. The collection period was one of November to December 2020. Women who used drugs and over 18 years of age and who were undergoing treatment were included. Those who had clinical or psychiatric conditions that prevented them from participating were excluded. Data collection took place through free observation, interview and genogram. Content Analysis Thematic modality was used. As a theoretical framework, the concepts of stigma in Erving Goffman’s literature are used. This study complied with all the ethical precepts established by Resolution 466/2012 of the National Health Council of the Ministry of Health. The Free and Informed Consent Term was signed. It was approved by the Research Ethics Committee of the Hospital de Clinicas de Porto Alegre, Federal University of Rio Grande do Sul, with Certificate of Ethical Appreciation number 38368620.3.0000.5327 under opinion 4,366,261.

Results:

In the women participating in this study, it was observed that their life experiences, even in childhood, were marked by vulnerabilities related to mental health. Although undiagnosed, in their reports, many recognized signs suggestive of mental disorder. Adolescence, for the most part, was marked by drug use and, consequently, the perpetuation of stigma. Due to the family context of vulnerability in mental health since childhood, they maintained behaviors of social isolation, rebellion and family distancing during this phase. Drug use is associated with the feeling of escaping from reality to avoid certain negative feelings generated by the family environment. We noticed, in the analyzed statements, that the relationship between women and their partners was potentiating for the aggravation of mental disorders and drug use. Motherhood was loaded with guilt and sought to reestablish and strengthen the bond with the children, who felt ashamed.

Final considerations:

given the results obtained, knowing the repercussion of stigma on these women allows us to rethink the model of being a woman built by patriarchy, which limits women and causes suffering to those who, somehow, do not correspond to a standard of normality that society waits.