Habitus profissional como expressão da identidade das enfermeiras obstétricas: configurações identitárias a partir da inserção no campo laboral
Publication year: 2021
Trata-se de uma pesquisa exploratória, descritiva com abordagem qualitativa, cujo objeto de estudo é identidade profissional das enfermeiras obstétricas. Este estudo teve por objetivo descrever as disposições incorporadas pelas enfermeiras obstétricas e seus nexos com a formação e com o vivido no mundo do trabalho, analisar os atos de pertencimento e a percepção dos atos de atribuição da identidade profissional das enfermeiras obstétricas e discutir as configurações identitárias das enfermeiras obstétricas segundo a perspectiva de Claude Dubar. Após a aprovação pelo Comitê de Ética, através do Parecer sob o número CAAE 18055319.0.0000.5282, foram realizadas 13 entrevistas semiestruturadas mediante a orientação de um roteiro. Foi realizada análise de conteúdo categorial temática, seguindo as três etapas de Bardin (2011): pré-análise, exploração do material e interpretação. Os dados obtidos foram agrupados em três categorias e recortados em Unidades de Registro (URs): “Disposições incorporadas pelas enfermeiras durante seu processo de socialização”, “Atos de pertencimento e atos de atribuição” e “Configurações identitárias apresentadas pelas enfermeiras obstétricas”. Os resultados da primeira categoria apontaram que no decorrer da socialização primária, as disposições incorporadas pelas participantes que influenciaram na escolha pela profissão foram: a autonomia financeira através do estudo; a disciplina; cuidar e respeitar o próximo. Além disso, ao ingressarem na especialização, adquiriram novos capitais somados aos pré-existentes, como: domínio do setor, noção de gênero, cuidados com a gestante, educação em saúde, práticas integrativas, empatia e respeito, escuta ativa, singularidade dos sujeitos e olhar integral. Os resultados da segunda categoria mostraram que as enfermeiras obstétricas se veem como mulheres batalhadoras que cuidam do lar e dos filhos, que amam a profissão, defendem o fisiológico e acreditam no parto normal sem intervenções, que tem empatia, que empoderam as mulheres, que veem a integralidade e a singularidade do indivíduo sem expressar julgamentos, que detém muito conhecimento e são anjos da guarda invisíveis. Os resultados da terceira categoria evidenciaram que as enfermeiras obstétricas apresentam traços compatíveis com as configurações identitárias negociatórias por dominarem saberes profissionais, manterem colaboração com a instituição e por reconstruírem a identidade de forma boa para ambos, e afinitária por não manifestarem pertencimento a empresa, terem certeza que valem mais que o cargo que ocupam e buscarem consolidar projetos pessoais alheios aos da instituição. Conclui-se que a socialização primária das enfermeiras obstétricas influenciou na escolha profissional e no modo como elas se vêem e acreditam ser vistas. Além disso, por estarem inseridas num campo laboral que não é compatível com sua identidade real, tendem, com o passar do tempo, a romper com o campo e procurar um novo espaço onde se sintam mais reconhecidas ou podem também permanecer no campo e sofrer desgaste psíquico, afetando assim sua saúde.
It is an exploratory, descriptive research with a qualitative approach, whose object of study is the professional identity of obstetric nurses. This study aimed to describe the provisions incorporated by obstetric nurses and their links with training and with what they have experienced in the world of work, analyze the acts of belonging and the perception of acts of attribution of the professional identity of obstetric nurses and discuss the identity configurations obstetric nurses from the perspective of Claude Dubar. After approval by the Ethics Committee, through the Opinion under the number CAAE 18055319.0.0000.5282, 13 semi-structured interviews were conducted through the guidance of a script. Thematic categorical content analysis was carried out, following the three stages of Bardin (2011): pre-analysis, material exploration and interpretation. The data obtained were grouped into three categories and cut into Registration Units (URs): “Provisions incorporated by nurses during their socialization process” with 42 URs, “Acts of belonging and acts of attribution” with 61 URs and “Identity configurations presented by obstetric nurses ”with 37 RUs. The results of the first category showed that during the course of primary socialization, the provisions incorporated by the participants that influenced the choice of the profession were: financial autonomy through the study; the discipline; take care and respect others. In addition, when they entered the specialization, they acquired new capital added to the pre-existing ones, such as: administration, domain of the sector, notion of gender, care for pregnant women, health education, integrative practices, empathy and respect, active listening, singularity of subjects and integral look. The results of the second category showed that obstetric nurses see themselves as hardworking women who care for the home and children, who love the profession, defend the physiological and believe in normal childbirth without interventions, who have empathy, who empower women, who see the integrality and uniqueness of the individual without expressing judgments, who have a lot of knowledge and are invisible guardian angels. The results of the third category showed that the obstetric nurses were divided into two groups and showed traits compatible with the negotiating identity configurations for dominating professional knowledge, maintaining reciprocal collaboration with the institution and reconstructing the identity in a good way for themselves and for the institution, and affinity for not expressing belonging to the company, making sure that they are worth more than the position they occupy and for seeking to consolidate personal projects unrelated to those of the institution. It is concluded that a primary socialization of obstetric nurses influenced the professional choice and how they see themselves and believe to be seen. In addition, as they are inserted in a labor field that is not compatible with their real identity, they tend to spend time breaking off with the field and looking for a new space where they feel more recognized or they can also remain in the field and suffer psychological distress thus affecting their health.