Ambiente de prática de enfermagem em terapia intensiva: implicações na segurança do paciente e burnout profissional
Publication year: 2020
Evidências científicas demonstram que a enfermagem está exposta a elevada carga de trabalho, altas taxas de absenteísmo, turnover, insatisfação com o trabalho e exaustão emocional. Na terapia intensiva esse cenário pode apresentar-se de maneira mais acentuada devido à complexidade assistencial inerente ao campo. Nesse contexto tem-se buscado compreender o “ambiente da prática de enfermagem”, que é definido pelos fatores organizacionais que facilitam ou dificultam a realização do trabalho da equipe de enfermagem. Tendo em vista que esses fatores são capazes de afetar a qualidade de vida do indivíduo e repercutir na qualidade do cuidado e que, apesar dos esforços empreendidos para identificar essas variáveis, ainda há lacunas nesta área do conhecimento, o objetivo principal do estudo consiste em avaliar se a presença de características favoráveis ou desfavoráveis dos ambientes de prática de enfermagem repercute em resultados assistenciais e gerenciais, bem como no burnout entre trabalhadores de enfermagem atuantes em Unidades de Terapia Intensiva. Estudo transversal, correlacional e descritivo, realizado em dois hospitais com diferentes contextos, um público e outro privado no Rio Grande do Sul. A população compreendeu todos os profissionais de enfermagem (enfermeiros e técnicos de enfermagem) trabalhando no período de coleta de dados nas unidades de terapia intensiva das instituições e a amostra foi de 296 profissionais, sendo 180 profissionais no hospital público e 116 profissionais no hospital privado. A coleta de dados deu-se por meio de um questionário, semiestruturado e autopreenchido e composto de três partes: a primeira com perguntas sociolaborais e com métricas de intensidade sobre a satisfação no trabalho, segurança do paciente, qualidade do cuidado e intenção de deixar o emprego; o ambiente de prática foi avaliado através do Nursing Work Index Revised; e o burnout foi avaliado pelo Inventory de Burnout de Maslach, instrumentos traduzidos e validados para a cultura brasileira. O período de coleta de dados ocorreu entre outubro de 2018 a março de 2019. Os aspectos éticos foram contemplados, Nº CAEE 96309418.2.1001.5327. Os achados evidenciaram ambientes favoráveis em ambas as instituições, no entanto, com resultados frágeis na subescalas autonomia, controle e suporte organizacional no hospital privado. As correlações demonstraram que quanto melhor o ambiente de prática de enfermagem maior foi a satisfação e realização profissional, além de menor a exaustão emocional dos enfermeiros e técnicos de enfermagem participantes da pesquisa. As subescalas suporte organizacional, autonomia e controle do ambiente obtiveram correlações fortes e moderadas com a satisfação profissional e quanto melhor foi a avaliação do controle do ambiente pelos profissionais, melhor também foi a percepção de segurança do paciente para os mesmos. A prevalência da síndrome de burnout entre enfermeiros foi de 1 (2,5%) no hospital público e 2 (9,1%) no hospital privado. Entre os técnicos de enfermagem a prevalência foi de 13 (9,5%) e 8 (8,5%), respectivamente, sem diferença significativa entre as duas instituições. Os indicadores assistenciais e gerenciais demonstraram-se piores no hospital privado em relação às taxas de infecção de corrente sanguínea associada a cateter venoso, pneumonia associada à ventilação mecânica, turnover e absenteísmo, na comparação com o hospital público. Esse estudo demonstrou correlações moderadas e fortes entre ambientes favoráveis ao ambiente de prática de enfermagem com melhor percepção de segurança do paciente e qualidade do cuidado pelos profissionais, além de maior satisfação profissional, realização profissional e menor exaustão emocional. Além disso, evidenciou que controle do ambiente e autonomia são pontos críticos para os profissionais e repercutem na satisfação profissional e segurança do paciente, nos remetendo à importância de avaliar outros fatores das instituições, estrutura e processos que possam melhorar as condições laborais para a equipe enfermagem e para a segurança dos pacientes.
Scientific evidence demonstrates that nursing professionals are exposed to a heavy workload, high absenteeism rates, turnover, dissatisfaction with their work and emotional exhaustion. In intensive care, this scenario may present itself in an even more pronounced way due to the complexity of care inherent to this area. Within this context, we have sought to understand the “nursing practice environment”, which is defined by the organizational elements that make it easier or more difficult for nursing teams to carry out their activities. Taking into account that these elements may affect people’s quality of life and have an impact in quality of case, and that there are still gaps in this knowledge area despite the efforts made to identify these variables, the main goal of this study is to assess if the existence of these favorable or unfavorable characteristics in nursing practice environment have an impact in health care and managerial results, as well as in the occupational burnout experienced by nursing professionals working in Intensive Care Units. This is a cross-sectional, correlational and descriptive study carried out in two hospitals within specific contexts, one public hospital and one private hospital in the state of Rio Grande do Sul. The population of this study included all nursing professionals (nurses and assistant nurses) working during the time when the data were collected in the intensive care units of the aforementioned institutions, the sample consisting of 296 professionals, 180 working in the public hospital and 116 working in the private hospital. The data were collected through a semi-structured, auto-populated questionnaire made up by three segments: the first consists of social - and labor-related questions with intensity metrics on occupational satisfaction, patient safety, quality of care and intention to leave job; the environment in which practices are carried out was assessed using the Nursing Work Index Revised; and occupational burnout was assessed using the Maslach Burnout Inventory, instruments that were translated and validated in accordance with the Brazilian reality. Data collection took place between October 2019 and March 2019. Ethical aspects have been taken into account, according to CAEE No. 96309418.2.1001.5327. The findings indicated favorable environments in both institutions; however, with fragile results in the autonomy, control and organizational support sub-scales in the private hospital. The correlations indicated that the better the nursing practice environment, the higher professional satisfaction and fulfillment, also indicating lower emotional exhaustion of the nurses and assistant nurses participating in this study. The organizational support, autonomy and environment control sub-scales showed strong and moderate correlations to professional satisfaction, and the better the assessment of the control of the environment by the professionals, the better the perception of patient safety according to these professionals. The prevalence of occupational burnout among nurses was 1 (2.5%) in the public hospital and 2 (9.1%) in the private hospital. Among assistant nurses, the prevalence was 13 (9.5%) and 8 (8.5%), respectively, without a meaningful difference between the two institutions. The health care and managerial indicators were worse for the private hospital in relation to bloodstream infection rates associated with venous catheters, pneumonia associated with mechanical ventilation, turnover and absenteeism, in comparison with the public hospital. This study demonstrated moderate and strong correlations between environments favorable to nursing practice environment with better perception of patient safety and quality of care by professionals, in addition to higher professional satisfaction, professional fulfillment and lower emotional exhaustion. Moreover, it was made evident that environment control and autonomy are critical elements for professionals and have an impact in professional satisfaction and patient safety, which reminds us of the importance to assess other elements of these institutions, as well as structures and processes, that may improve working conditions for nursing teams and patient safety.