Associação entre Diabetes Mellitus Gestacional e práticas obstétricas, por características sociodemográficas, em maternidades de Belo Horizonte, Minas Gerais
Association between gestational diabetes mellitus and obstetric practices, by sociodemographic characteristics, in maternity hospitals in Belo Horizonte Belo Horizonte, Minas Gerais

Publication year: 2022

Introdução:

A assistência ao parto tem passado por transformações ao longo dos anos, e a incorporação de diversas tecnologias à prática obstétrica contribuiu para que a mulher deixasse de ser protagonista do processo parturitivo em muitas das circunstâncias. Dados populacionais demonstram que menos de 5% das gestantes brasileiras tiveram experiência de parto sem intervenções e que há uma baixa prevalência de práticas obstétricas recomendadas durante a assistência ao trabalho de parto e uma alta prevalência de práticas obstétricas não recomendadas. Existem estudos que relacionam a presença de comorbidades, como a diabetes mellitus gestacional (DMG), a um elevado número de práticas obstétricas não recomendadas. Dessa forma, estudar a associação entre DMG e as práticas obstétricas em diferentes grupos etários e contextos socioeconômicos torna-se importante, na medida em que há poucos estudos sobre DMG no Brasil e aqueles sobre intervenções obstétricas são limitados, considerando que avaliam poucas intervenções ou não as associam a doenças crônicas, em especial à DMG.

Objetivo:

Estimar a associação entre diagnóstico de DMG e práticas obstétricas, com base nas características sociodemográficas das gestantes, em maternidades de Belo Horizonte, Minas Gerais.

Métodos:

Trata-se de um estudo transversal, desenvolvido com dados da pesquisa “Nascer em Belo Horizonte: Inquérito sobre parto e Nascimento”, envolvendo 1.088 mulheres.

Foram realizados dois tipos de análise:

PCA (Análise de Componentes Principais) e Cluster. Para avaliar a coexistência entre presença de DMG, plano de saúde e idade materna acima dos 35 anos (exposição) e a presença de intervenções obstétricas (desfechos), criou-se um score em tercis do padrão encontrado e utilizouse o teste qui-quadrado. Para a segregação de grupos correlacionados, utilizou-se a análise de clusters, para gerar grupos que unissem informações sobre a presença ou não da DMG em diferentes médias de idade. A diferença de médias de idade entre os grupos foi avaliada por meio do teste t. As associações entre o diagnóstico de DMG (exposição) e cada prática obstétrica (desfechos) foram com base nos testes quiquadrado de Pearson ou Exato de Fisher, por clusters de idade materna, considerando a significância de 5%.

Resultados:

A análise de PCA mostrou que o padrão foi composto pelas variáveis posse de plano de saúde, idade materna avançada e presença de DMG, e esse padrão foi associado às seguintes práticas obstétricas durante o trabalho de parto: posição deitada, enema, ausência de deambulação, utilização de acesso intravenoso, não oferecimento de dieta e via de nascimento cesariana. Foram encontradas maiores proporções dessas práticas no terceiro tercil do padrão obtido pela análise de componentes principais (p < 0,05). Os resultados apontaram associações estatisticamente significativas entre ter DMG e as seguintes práticas obstétricas, no cluster de mulheres mais jovens: maior proporção de analgesia durante o parto (50%) em comparação com mulheres sem DMG do mesmo cluster (26,13%) e uso de fórceps ou vácuo extrator (23,08%) em comparação com mulheres sem DMG (4,85%). No cluster de mulheres mais velhas que apresentaram DMG houve associação estatisticamente significativa para oferecimento de dieta (16,67%) em comparação com mulheres sem DMG do mesmo cluster (13,61%) e maior uso de antibiótico durante o trabalho de parto (24,14%) em comparação com mulheres sem DMG do mesmo cluster (9,05%). No cluster de mulheres mais jovens, aquelas com diabetes, em comparação com mulheres sem DMG, deambularam mais durante o trabalho de parto (93,33%), fizeram mais uso de CTG (cardiotocografia) (12,50%), amamentaram menos na primeira hora de vida do recém-nascido (40,00%), tiveram menor contato pele a pele com o bebê (52,00%), fizeram maior uso de métodos não farmacológicos para alívio da dor (96,00%), apresentaram maior uso de medicamento intravaginal para indução do parto (37,50%) e apresentaram mais episódios de infecção urinária (68,00%).

Conclusão:

Demonstrou-se que a presença do diagnóstico de DMG pode ser apontada como potencial fator de risco para o uso de práticas obstétricas não recomendadas e que essa relação também é potencializada ao se considerar idade elevada, bem como posse de plano de saúde.