Eu caminho, tu caminhas, nós caminhamos: (re)conhecendo as trajetórias de cuidado de familiares de usuários de drogas
Publication year: 2020
As intervenções no grupo familiar ou na rede social de usuários de drogas trazem um impacto positivo nas famílias e na vida dos usuários. Apesar da efetividade bem documentada de diversas abordagens terapêuticas voltadas às famílias de usuários de drogas, apenas 10% das famílias recebem este apoio. Tais dados sugerem a existência de barreiras na implementação dessas abordagens terapêuticas e ilustram a dificuldade das equipes de saúde em assistir tais famílias.
A trajetória de cuidado percorrida por esses familiares engloba uma série de ações terapêuticas que se dão em três setores de assistência à saúde:
o informal, o popular (folk) e o profissional. As escolhas por essas alternativas de cuidado são realizadas conforme a necessidade, a disponibilidade, a condição socioeconômica e cultural da família. Assim se estabelece o fluxo de assistência à saúde, compreendido como a trajetória percorrida pelo usuário em busca de atendimento para resolver o seu problema. Considerando esta complexidade, o presente estudo teve como objetivo compreender as trajetórias de cuidado percorridas por familiares de usuários de drogas, apoiando-se no referencial teórico dos Setores de Assistência à Saúde de Helman e no conceito de fluxo proposto por Ramos. Este projeto utilizou os dados coletados em uma pesquisa maior intitulada “Familiares de usuários de drogas: um olhar compreensivo de suas vivências e trajetórias assistenciais”. Tal pesquisa trata-se um estudo de abordagem qualitativa, descritiva, exploratória que se deu por meio de entrevistas semiestruturadas a partir de um roteiro com questões que contemplam a temática pesquisada. Os participantes da pesquisa foram 15 familiares de usuários de drogas acompanhados na internação e no ambulatório de um serviço em pertencente a uma instituição hospitalar do sul do Brasil. Para a análise e interpretação dos dados foi utilizado o método de análise de conteúdo de Bardin, que ocorreu em três etapas: 1) pré análise, 2) exploração do material e 3) tratamento dos dados obtidos e interpretação. Este projeto respeitou a todos aspectos éticos previstos na Resolução nº 466/12 do Conselho Nacional de Saúde, que trata sobre os aspectos éticos com pesquisa envolvendo seres humanos. Os familiares pesquisados percorrem pelos três setores de cuidado em saúde, sendo o informal o mais prevalente entre as 15 trajetórias de cuidado. A família foi o destaque neste setor, por ter sido a fonte de ajuda mais citada. No entanto, foi no setor profissional que os familiares encontraram os apoios mais efetivos para o tratamento do usuário. Porém, revelou se a escassez na oferta de espaços que oferecem assistência ao familiar do usuário de drogas no setor público de saúde. É urgente que as equipes se apropriem de atitudes e técnicas de intervenção no cuidado a essas famílias, tomando para si a responsabilidade em catalisar o processo de inseri-las no tratamento, trazendo-as de uma posição periférica e coadjuvante para o interior da cena, para que junto ao usuário possam atuar como protagonistas no tratamento.
Interventions in the family group or social network of drug users have a positive impact on families and the lives of users. Despite the well documented effectiveness of several therapeutic approaches aimed at drug users’ families, only 10% of families receive this support. These data suggest the existence of barriers in the implementation of these therapeutic approaches and illustrate the difficulty of health teams in assisting such families.