Práticas em movimento: contradições no processo de atenção à pessoa em crise no campo psicossocial
Publication year: 2019
O presente estudo tem como objetivo analisar as contradições no processo de Atenção à pessoa em crise no CAPS. Para realizar o estudo foi utilizado o referencial teórico- metodológico materialista dialético. O estudo é de abordagem qualitativa, do tipo estudo de caso. A produção de dados ocorreu nos meses de novembro e dezembro de 2018, por meio de uma roda de conversa com trabalhadores de um CAPS II do Município de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, e entrevistas individuais semiestruturada. Os participantes do estudo foram 11 profissionais do CAPS II. Para realizar a análise dos dados foi utilizada a análise de conteúdo, modalidade temática. A análise evidenciou duas categorias, a saber: processo de trabalho na atenção à pessoa em crise no CAPS II: as entrelinhas do cuidado e suas contradições e a segunda desafios e potencialidades no processo de atenção à pessoa em crise: entre o CAPS e a RAPS. Os resultados apontaram que o cuidado à pessoa em crise no CAPS II é atravessado pelas concepções de crise dos trabalhadores e da equipe, ao mesmo tempo percebe-se que as próprias concepções dos trabalhadores em relação à crise assumem perspectivas diferentes no momento do cuidado. Identifica-se uma concepção de crise baseada no modelo psiquiátrico e uma necessidade de não deixar a crise acontecer, no entanto no momento do cuidado há um encontro de uma teoria psiquiátrica com uma prática baseada no modelo psicossocial de cuidado, nesse sentido observa-se uma relação pendular entre o modelo manicomial e o psicossocial, na qual o meio entre um ponto e outro produz novas relações que se desvelam no cotidiano e nos movimentos do cuidado. Identifica-se entre os desafios da Atenção à pessoa em crise no CAPS II, a estrutura física do CAPS, falta de recursos materiais e medicamentosos, a articulação e comunicação com a rede. Entre as potencialidades identifica-se a não internação da pessoa em crise, o trabalho multidisciplinar no CAPS e a comunicação em equipe. Visualiza-se a necessidade de uma melhor articulação entre os pontos da RAPS, a melhor comunicação entre a emergência, o CAPS e a internação de maneira que possa haver um alinhamento no projeto terapêutico do usuário.
This study aims to analyze the contradictions in the care process of people in crisis in a Center for Psychosocial Care (CAPS). In order to carry it out, the dialectical materialist theoretical-methodological reference was used. This is a qualitative study with a case study approach. Data production took place in November and December of 2018, through a conversation circle with workers of a CAPS II in the city of Porto Alegre, in Rio Grande do Sul, and individual semi-structured interviews. The study participants were 10 professionals who work for the CAPS II. Content analysis, in its thematic modality, was used for data analysis. The analysis revealed two categories, namely: working process in the care of people in crisis in the CAPS II: between the lines of care and its contradictions; and challenges and potentialities in the care process of people in crisis: between the Center for Psychosocial Care and the Psychosocial Care Network (RAPS). The results pointed out that the care process of people in crisis in the CAPS II is overpassed by crisis conceptions of workers and team and that, at the same time, workers’ own crisis conceptions assume different perspectives in the moment of care. A crisis conception based on the psychiatric model and a need not to let the crisis happen were detected, however, in the moment of care, psychiatric theory meets a practice based on the psychosocial model of care, therefore, there is an oscillation between the asylum model and the psychosocial model, in which the space between the two points produces new relationships that are revealed in daily life and in attitudes of care. Among the challenges in the care process of people in crisis in CAPS II, the physical structure of CAPS, a lack of material and medical resources as well as articulation and communication with the network were observed. Among the potentialities, the non-hospitalization of the person in crisis, multidisciplinary work in the CAPS and communication within the team were identified. The need for better articulation among RAPS centers, better communication between emergency, CAPS and hospitalization are noticed, so that there could be an alignment in the therapeutic project of the user.