Representações sociais da aids entre pessoas vivendo com HIV: uma análise das memórias comuns
Publication year: 2019
Este estudo objetiva analisar as diferenças na composição das representações sociais da aids de pessoas que vivem com o vírus da imunodeficiência humana (HIV) e que vivenciaram diferentes momentos epidemiológicos da síndrome. Trata-se de um estudo exploratório-descritivo, com abordagem qualitativa, apoiado na Teoria das Representações Sociais (TRS), a partir de uma abordagem estrutural, e nos preceitos teóricos da memória. Participaram do estudo 384 sujeitos que vivem com HIV e realizam acompanhamento em Serviços de Atenção Especializada localizados nos municípios do Rio de Janeiro, Niterói e Macaé. Foi aplicado um questionário de caracterização dos participantes, outro para coleta de evocações livres ao termo indutor “aids” e realizada uma entrevista semiestruturada. Os dados foram analisados pelos softwares SPSS e Ensemble de Programmes Permettant l'Analyse des Evocations (EVOC) 2005, com a construção de um quadro de quatro casas. As entrevistas passaram por um processo de análise de conteúdo temática, para contextualizar os conteúdos representacionais identificados na análise estrutural. Para o grupo geral, foram definidos no possível núcleo central os elementos “preconceito”, “medo”, “morte”, “tristeza”, “doença-normal” e “tratamento”. Os quatro primeiros sugerem a manutenção de significados negativos como elementos de permanência e memórias. Os elementos “doença-normal” e “tratamento” são conceitos positivos incorporados mais recentemente à representação e refletem os elementos trazidos na 1ª periferia pelas evocações “força-de-vontade” e “cuidados-saúde”. A 2ª periferia possui os elementos positivos “prevenção”, “vida-normal”, “adaptação” e “medicações” e os elementos negativos “depressão” e “isolamento”. Na zona de contraste constam os elementos “ruim”, “sofrimento”, “adoecimento”, “família” e “cura”. Observou-se a existência de muitos elementos compartilhados nas representações do grupo com idade menor ou igual a 40 anos e com mais de 40 anos. Dessa forma, sugere-se a existência de uma mesma representação que recebe diferentes influências a partir da idade dos sujeitos de cada grupo. Os elementos negativos preservados das memórias do início da epidemia são diferentes, estando mais presentes no grupo mais jovem. Conclui-se que a representação da aids possui elementos presentes desde o início da epidemia associados a conceitos construídos mais recentemente, os quais demonstram o processo de transformação da representação da aids. Há maior presença de elementos negativos preservados das memórias do início da epidemia no grupo mais jovem e maior positividade no grupo mais velho, fato que pode incentivar ações de cuidado de si para esse grupo.
This study aims to analyze the differences in the composition of the social representations of AIDS of people living with the Human Immunodeficiency Virus (HIV) and who experienced different epidemiological moments of the syndrome. This is a descriptive exploratory study with a qualitative approach, based on the Social Representation Theory (SRT), based on a structural approach and theoretical precepts of memory. A total of 384 subjects living with HIV and followed up in Specialized Care Services located in the cities of Rio de Janeiro, Niterói and Macaé participated in this study. A questionnaire was applied to characterize the participants, another to collect free evocations to the term “aids” and a semi-structured interview was conducted. Data were analyzed by the softwares SPSS and Ensemble de Programmes Permettant l'Analyse des Evocations (EVOC) 2005, with the construction of a table of four houses. The interviews underwent a process of thematic content analysis, to contextualize the representational content identified in the structural analysis. In the analysis of the general group, the elements “prejudice”, “fear”, “death”, “sadness”, “normal-disease” and “treatment” were defined in the possible central core of the representation. The first four suggest the maintenance of negative meanings as elements of permanence and memories of this group. The elements “normal-disease” and “treatment” are positive concepts incorporated more recently to the representation and reflect the elements brought in the 1st periphery by the evocations “will-power” and “health-care”. The second periphery has the positive elements “prevention”, “normal-life”, “adaptation” and “medications” and the negative elements “depression” and “isolation”. In the contrast zone are the elements “bad”, “suffering”, “illness”, “family” and “cure”. In relation to the comparison between individuals of different age groups, we observed the existence of many elements shared in the representations of the group with age less than or equal to 40 years and the group with more than 40 years. Thus, it is suggested the existence of a same representation that receives different influences bases on the age of the subjects in each group. The negative elements preserved regarding memories of the beginning of the epidemic in each group are different, being more present in the younger group. It is concluded that the representation of AIDS has elements that are present since the beginning of the epidemic associated with concepts built more recently, which demonstrate the process of transformation of the representation of AIDS. With respect to the different age groups, there is a greater presence of negative elements preserved regarding the memories of the beginning of the epidemic in the younger group and greater positivity in the older group, a fact that may encourage selfcare actions for this group.