Cultura de segurança da mulher no parto hospitalar: um estudo misto das percepções dos profissionais de enfermagem e médicos
Publication year: 2019
O modelo obstétrico dominante nos hospitais é caracterizado por uma assistência medicalizada e intervenções excessivas, que estão em desacordo com a cultura organizacional de segurança da mulher e do seu filho.
Os objetivos do estudo são:
descrever a avaliação da cultura de segurança da mulher e do filho na assistência ao parto hospitalar; conhecer as percepções da equipe de enfermagem e médicas(os) sobre a segurança dessa assistência; identificar os fatores envolvidos na cultura de segurança segundo essa equipe de profissionais. Trata-se de um estudo misto, quan QUAL, com desenho sequencial explanatório, realizado numa maternidade pública do município do Rio de Janeiro. A fase quantitativa foi do tipo survey, e para a coleta de dados foi utilizado o questionário validado e adaptado transculturalmente para o português, denominado Hospital Survey on Patient Safety Culture (HSOPSC), criado pela Agency for Healthcare Research and Quality (AHRQ). Os dados receberam tratamento estatístico descritivo, pelas frequências absolutas e relativas. Na fase qualitativa, foi um estudo descritivo. Os dados foram coletados por meio de entrevistas semiestruturadas, transcritas e analisadas através da análise de conteúdo temática. Obteve-se uma amostra válida de 26 (100%) participantes, selecionados aleatoriamente no ambiente de trabalho, sendo: 9 (34,6%) enfermeiras(os) obstetras, 9 (34,6%) técnicas(os) de enfermagem e 8 médicas(os). Verificou-se que nenhuma das dimensões avaliadas alcançou o nível de cultura de segurança fortalecida. A média das frequências das repostas positivas nas 12 dimensões avaliadas foi de 48,14%, o que representa uma cultura de segurança fragilizada na maternidade pesquisada. A percepção geral de segurança do paciente foi de 31,8%, sendo a dimensão pessoal um dos pontos críticos de comprometimento da segurança, com apenas 31,5% das respostas positivas, ao passo que a dimensão com maior percentual de respostas positivas foi a aprendizagem organizacional e melhorias contínuas, com 70,4%. Na etapa qualitativa participaram 12 profissionais, sendo 4 enfermeiras(os) obstetras, 4 técnicas(os) de enfermagem, 2 médicas(os) obstetras e 2 médicas(os) pediatras. As entrevistas revelaram que as percepções da equipe sobre a assistência obstétrica segura se referem à prevenção de incidentes e cuidados técnicos adequados. Ademais, os fatores que interferem na cultura de segurança na ótica da equipe são: o desconhecimento das ações de segurança, deficiência na uniformidade de condutas e quantitativo de pessoal limitado frente à demanda assistencial. Portanto, há fragilidades na cultura de segurança da mulher e do seu filho no parto hospitalar. As(os) profissionais da equipe consideram que seguir os protocolos nacionais, da rede municipal de saúde, da instituição e as evidências científicas é necessário para a assistência segura, o que expressa uma visão ainda incipiente sobre as questões, medidas e ferramentas que envolvem a segurança do paciente.
The dominant obstetric model in hospitals is characterized by medicalized care and excessive interventions, which conflict with the organizational safety culture for the woman and her child.