Sobre cartografar a articulação entre o centro de atenção psicossocial infantojuvenil e a atenção básica: um percurso pelo cuidado em saúde mental

Publication year: 2019

O redirecionamento das Políticas de Saúde para desenvolver ações integradas entre a Saúde Mental de Crianças e Adolescentes e a Atenção Básica faz emergir a necessidade de superar a fragmentação do cuidado, sendo necessário lançar um “novo olhar” sobre o lugar psicossocial dos sujeitos, e estendê-lo para aonde a vida deles acontece, ou seja, no seu território. Este estudo objetivou cartografar os movimentos e conexões, as linhas de forças e de fuga a partir da articulação entre o Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil e a Atenção Básica. Trata-se de uma pesquisa de natureza qualitativa, com abordagem cartográfica, apoiada nos conceitos da Filosofia da Diferença e Análise Institucional. Os locais da pesquisa foram um Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil, um Núcleo Ampliado de Saúde da Família, um serviço de Redução de Danos, duas Unidades Básicas de Saúde, 14 Estratégias da Saúde da Família de um município do interior do Rio Grande do Sul. Participaram desta pesquisa nove profissionais da saúde vinculados aos serviços de saúde mental, 28 profissionais da Atenção Básica e três profissionais ligados à gestão municipal da saúde. Para a produção dos dados e acompanhamento desse processo, as ferramentas utilizadas foram: o diário de campo, observação participante e entrevista semiestruturada, entre os meses de agosto a dezembro de 2017. O estudo obteve aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, via Plataforma Brasil, sob Parecer nº 2.350.300 e CAAE 76389817.7.0000.5347. Nesse percurso cartográfico, identificou-se um agenciamento coletivo em ação como estratégia de articulação, apostando na micropolítica do encontro como plano de produção do cuidado, e na multiplicidade das conexões existenciais, incluindo movimentos de desterritorialização e reterritorialização das práticas que limitam o cuidado a uma perspectiva de procedimentos clínicos e olhares biopatológicos, para um modo que considera o sujeito na sua singularidade. Há deslocamentos no processo de cuidado e reconhecimento da necessidade de quebrar fluxos burocráticos para fortalecer a articulação e criar novo agires instituintes de saúde psicossociais. Os profissionais reconhecem, no trabalho intersetorial, uma aposta na transversalidade de ações e uma prática necessária capaz de engendrar outras redes para atender as necessidades dos usuários, e criar novos arranjos instituintes de trabalho e produção de subjetividades, indicando a potência da construção de ações intersetoriais. Conclui-se que o cuidado à população infantojuvenil, quando articulado entre o Centro de Atenção Psicossocial e os serviços de Atenção Básica, amplia as possibilidades de conexão entre os diferentes serviços e trabalhadores, cria espaços de encontros e discussões que favorecem ações integradas, possibilitando um cuidado em saúde mental compartilhado, resolutivo, acolhedor e integral.
The redirection of Health Policies to develop integrated actions between Mental Health of Children and Teenagers and Primary Care arises the need to overcome the fragmentation of care, therefore it is necessary to have a “new look” on the psycho-social place of the subjects and expand it to where their lives take place, that is, their territory. This study aimed to map the movements and connections, the lines of force and of escape from the connection between the Center of Children and Teenagers Psycho-Social Care and Primary Care. It consists of a qualitative nature research, with a mapping approach, supported on the concepts of Philosophy of Difference and Institutional Analysis. The research locations were a Center of Children and Teenagers Psycho-Social Care, an Expanded Center of Family Health, a service of Harm Reduction, two Basic Health Units, 14 Family Health Strategies of a municipality in the interior of Rio Grande do Sul. Nine healthcare professionals in mental health services, 28 Primary Care professionals and three professionals associated to the health city management participated in the research. In order to produce data and follow up this process, the tools used were the following: the field diary, participant observation and semi-structured interview, between the months of August and December 2017. The study was approved by the Ethics Committee in Research of the Federal University of Rio Grande do Sul, via Plataforma Brasil, under Opinion n. 2.350.300 and CAAE 76389817.7.0000.5347. In this cartographic path, a collective agencying in action as a connection strategy was identified, investing in the micro politics of this joint as care production plan, and in the multiplicity of existential connections, including movements of deterritorialization and reterritorialization of practices which limit the care to a perspective of clinical procedures and biopathological perspectives, for a method which considers the subject in his/her singularity. There are displacements in the care process and acknowledgement of the need to break bureaucratic flows to strengthen the connection and create new instituting actions of psycho-social health. The professionals acknowledge, in the intersectoral work, a stake in the cross-cutting of actions and a necessary practice able to engender other networks to meet the needs of users, and create new instituting arrangements of work and production of subjectivities, indicating the potential to build intersectoral actions. It can be concluded that the care for the children and teenagers population, when connected between the Center of Psycho-Social Care and the Primary Care services increase the possibilities of connection between the different services and workers, creates meeting spaces and discussions that favor integrated actions, enabling a shared, remedial, welcoming and complete mental health care.