Pessoas com transtornos alimentares e isolamento social na pandemia de COVID-19

Publication year: 2022

Introdução:

Este estudo tem como objeto avaliar as consequências geradas pelas medidas de isolamento social na saúde mental de pessoas com transtornos alimentares atendidas em um ambulatório especializados no município do Rio de Janeiro.

Objetivos:

descrever características sociodemográficas e clínicas de pessoas com transtornos alimentares em um ambulatório especializado; analisar as consequências da pandemia de COVID-19 na saúde mental de pessoas com transtornos alimentares em acompanhamento ambulatorial; discutir as ferramentas de acompanhamento em saúde mental no período de isolamento social em um ambulatório especializado em transtornos alimentares.

Método:

Pesquisa descritiva de caráter qualitativo com usuários de 18 a 60 anos diagnosticados com anorexia nervosa, bulimia nervosa ou transtorno de compulsão alimentar e suas formas subclínicas, em tratamento especializado durante a pandemia de COVID-19. O cenário foi o ambulatório do Grupo de Obesidade e Transtornos Alimentares (GOTA) de um Instituto de Psiquiatria universitário. Foram utilizados dados retrospectivos sobre características clínicas e demográficas dos usuários, coletados nos prontuários clínicos e de entrevistassemi-estruturadas aplicadas de forma remota. Os dados foram analisados através dos softwares ALCESTE e Microsoft Excel 2019 e discutidos a partir da literatura científica sobre o tema. As análises realizadas pelo ALCESTE evidenciaram 4 classes de palavras predominantes, sendo a de impactos socioeconômicos a mais relevante, seguida da classe referente ao suporte profissional em saúde mental recebido durante a pandemia, da classe referente aos impactos na autoestima e autopercepção dos participantes e por fim, da classe referente aos impactos na rotina de alimentação.

Resultados:

A amostra foi constituída de 16 mulheres com predomínio da cor branca, com faixa etária de 18 à 30 anos, sendo o diagnóstico de transtorno de compulsão alimentar o mais frequente. A pandemia resultou em sensação de perda de controle devido a modificações na rotina, tendo culminado em piora do comportamento alimentar e aumento de mecanismos compensatórios. Em alguns casos, o isolamento social foi considerado pelos participantes como ferramenta para reestruturação emocional. Os impactos socioeconômicos ocorreram de maneira indiferente a estrato social. A introdução do atendimento remoto no serviço foi considerado um fator protetor na manutenção do tratamento, com vantagens como economia financeira e maior flexibilidade de horário. Foram apontadas desvantagens como dificuldade de monitoramento de dados antropométricos e exame físico.

Conclusão:

Os desdobramentos do isolamento social refletiram em diferentes campos da vida dos participantes, tais como saúde física, mental, convivência intradomiciliar, impactos socioeconômicos e modificações no suporte profissional para o transtorno alimentar. O atendimento remoto foi apontado como uma estratégia promissora para prestação de assistência a esse público, necessitando melhor sistematização para o futuro, com potencial de permanência não somente em períodos pandêmicos. Para os profissionais de saúde, a pesquisa indica que os usuários com transtornos alimentares reconhecem o valor do atendimento no ambulatório, o que requer capacitação e maior participação da enfermagem na equipe interdisciplinar.

Introduction:

This research has as aim to evaluate the consequences caused by social restriction measures in the mental health of clients with eating disorders attended in a specialized ambulatory in the city of Rio de Janeiro.

Objectives:

to describe sociodemographic and clinical characteristics of people with eating disorders in a specialized ambulatory; to analyse the consequences of the COVID-19 pandemic in the mental health of people with eating disorders; to discuss tools of mental health support during the social isolation in an ambulatory specialized on eating disorders.

Methods:

Descriptive study with qualitative design including clients between 18-60 years old diagnosed with anorexia nervosa, bulimia nervosa or binge eating disorders and its subclinical presentations in specialized treatment during the pandemic. The place of the study it was the Grupo de Obesidade e Transtornos Alimentares (GOTA) ambulatory of an academic psychiatric institute. It was used restropective data about clinical and demographical characteristics collected of the medical records and it was applied a semi-structured interview by remote mode. Data was analysed by the softwares ALCESTE and Microsoft Excel 2019, and discussed by the cientific literature about the subject. The analysis presented 4 classes of predominant words, within the socioeconomical impacts one being the most relevant, followed by the class referring to the professional mental health support during the pandemic, by the class referring to the impacts on self steem and self perception of the participants and finally, by the class referring to impacts on the food routine.

Results:

The sample was constituted by 16 women, with white skin color predominance, ages between 18 to 30 years old, with binge eating disorder being the most frequent diagnose. The pandemic resulted in a sense of loss of controle because of changes in the routine, resulting in worsening of food behaviour and increasing in compensatory behaviour. In some cases, social restriction was considered by participants as a tool for emotional reestructuration. The socioeconomical impacts existed regardless of social stratum. The introduction of the remote consultation was considered a protective factor on the treatment maintenance, including benefits such as financial economy and greater time flexibility. It were considered disadvantagens such as difficulty on monitoring anthropometric data and physical examination.

Conclusion:

The outspread of social restriction reflected in diverse life fields of the participants, such as physical health, mental health, household coexistency and changes on the professional support to eating disorders. The remote consultation was pointed as a promissory strategy to provide assistance to this public, and it needs better systematization to the future, within potential of implementation not only in pandemic periods. To healthcare professionals, the study indicates that users with eating disorders recognize the value of an ambulatory assistance, which requires training courses and a bigger participation of nursing on interdisciplinary teams.