Preditores de bullying escolar em adolescentes
Publication year: 2019
O bullying é uma forma de comportamento agressivo, usualmente maldosa, deliberada e persistente. É considerado uma forma de violência e um problema de saúde coletiva. Estudos têm comprovado prejuízos em curto e em longo prazo, além da alta prevalência de problemas educacionais, emocionais e legais associados ao bullying. No entanto, estudos de seguimento que avaliem fatores que determinam o comportamento de bullying em ambiente escolar ainda são escassos. O objetivo da presente pesquisa foi o de avaliar os preditores de comportamento de bullying relacionados às características demográficas, psicossociais (problemas de saúde mental e temperamento) e de desempenho escolar no período de seguimento de três anos. Tratase de um estudo de seguimento para avaliar os fatores preditores de bullying em adolescentes escolares. A população foi de alunos das turmas do 8º e 9º ano diurno de três escolas da rede pública de ensino de Porto Alegre/RS. Na ocasião da primeira coleta, os alunos estavam cursando o 5º e o 6º ano. Os instrumentos foram aplicados nas escolas pela equipe de pesquisa, em sala de aula, no último trimestre de 2017. O comportamento de bullying foi avaliado com o Questionário de Bullying (QB) – versão agressor e versão vítima. As características de temperamento foram identificadas por meio do Inventory of callous-Unemotional Traits (ICU) e do Índice de Reatividade Afetiva - versão de criança (ARI-C) e o Questionário de Capacidades e Dificuldades - versão criança (SDQ-C) avaliou os problemas de saúde mental. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Prefeitura Municipal de Porto Alegre e do CEP da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) (CAEE nº19651113.5.0000.5338). Um total 248 alunos responderam aos questionários nos dois momentos do estudo, sendo que 129(52%) eram meninos, com média de idade de 14,6 (DP=1,12) anos e com 110(44,4%) de etnia autodeclarada branca. Na comparação entre os dois períodos do estudo, observou-se que houve mudanças significativas em relação ao bullying, sendo que os escores aumentaram significativamente para o agressor (p<0,001) e houve diminuição para vítima (p=0,024). Os traços de temperamento também aumentaram significativamente para a irritabilidade (p=0,004) e indiferença (p<0,001), porém, houve diminuição significativa para insensibilidade (p=0,039). Foi encontrada correlação positiva significativa fraca entre a vítima e o agressor com os traços de irritabilidade, insensibilidade e o total do ICU. Já a indiferença foi correlacionada, significativamente, com o agressor e não com o envolvimento como bullying vítima. O problema de saúde mental que apresentou correlação positiva significativa foi no domínio conduta, tanto para vítima como para agressor. Observou-se modificação significativa no tipo de prática de bullying ao longo dos três anos, com aumento significativo no comportamento de vítima-agressor. Foi encontrado que a repetência escolar, a irritabilidade e a insensibilidade aumentam o risco para o comportamento como vítima-agressor. Por outro lado, menor escore do domínio emocional diminui o risco para o envolvimento como vítima-agressor. Os achados evidenciaram que a mudança no comportamento de bullying, sobretudo, para o envolvimento como vítima-agressor tem relação com o desempenho escolar, com determinados traços de temperamento e com problemas do domínio de conduta entre adolescentes ao longo de três anos de pesquisa.
Bullying is a form of aggressive behavior that is usually malicious, deliberate, and persistent. It is considered a form of violence and a collective health problem. Studies have shown short and long term harm, as well as a high rate of educational, emotional, and legal problems associated with bullying. However, follow-up studies evaluating factors that determine bullying behavior in the school environment are still scarce. The purpose of this study is to evaluate predictors of bullying behavior related to demographic, psychosocial (mental health and temperament problems) and school performance characteristics during a three-year follow-up period. This is a follow-up study to evaluate predictors of bullying in school aged adolescents. The population consisted of students from the 8th and 9th grade morning shift classes at three public schools in Porto Alegre/RS. At the time of the first collection, the students were in the 5th and 6th grade. The instruments were applied in schools by the research team in the classroom during the last quarter of 2017. Bullying behavior was assessed with the Bullying Questionnaire (BQ) - aggressor version and victim version. Temperament characteristics were identified using the Inventory of callous-Unemotional Traits (ICU) and the Affective Reactivity Index - child version (ARI-C), and the Strengths and Difficulties Questionnaire - child version (SDQ-C) evaluated any mental health problems. The study was approved by the Research Ethics Committee (CEP) of Porto Alegre City Hall and the CEP of the Federal University of Rio Grande do Sul (UFRGS) (CAEE No. 19651113.5.0000.5338). A total of 248 individuals answered the questionnaires at both stud intervals, where 129 (52%) were boys, with a mean age of 14.6 (SD = 1.12) years and 110 (44.4%) self-reporting their ethnicity as white. In the comparison between the two study periods, there were significant changes found in relation to bullying, and the scores increased significantly for the aggressor (p <0.001) and there was a decrease for the victim (p = 0.024). Temperament traits also increased significantly for irritability (p = 0.004) and indifference (p <0.001), but there was a significant decrease for insensitivity (p = 0.039). A weak significant positive correlation was found between the victim and the aggressor with the traits of irritability, insensitivity and the total ICU score. However, indifference was significantly correlated with the aggressor and not the bullying victim. The mental health problem that showed a significant positive correlation was in behavior control, for both victim and the aggressor. There was a significant change in the type of bullying practice during the three years, with a significant increase in victim-aggressor behavior. School grade repetition, irritability and insensitivity were found to increase the risk for victim-aggressor behavior. On the other hand, a lower emotional domain score decreases the risk for involvement as a victim-aggressor The findings showed that the change in bullying behavior, especially regarding involvement as a victim-aggressor, is related to school performance, with certain temperament traits, and behavior control problems among adolescents during the three years of research.