Porque a alma na escola também dói: Consulta de enfermagem de saúde mental e psiquiátrica em contexto escola

Publication year: 2023

A adolescência é um período de intensas mudanças e transformações que colocam inúmeros desafios até à conquista da autonomia. Este período de transformação poderá ser vivenciado de forma negativa pelo adolescente se persistirem as dificuldades em procurar e percepcionar a necessidade de ajuda (World Health Organization, 2002; 2020). Este estudo surge na sequênia da realização de uma consulta de Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica (ESMP) em contexto escolar após três suicídios num agrupamento de escolas com o intuito de desenvolver um espaço de ajuda acessível aos adolescentes. Contudo, após a criação deste espaço em contexto escolar, não houve um aumento da procura por parte do adolescente nos últimos cinco anos. Neste sentido, foi desenvolvido um estudo exploratório-descritivo que tem como objectivo geral analisar a perspectiva dos adolescentes sobre a intervenção em saúde mental na escola para o desenvolvimento da consulta de ESMP em contexto escolar. Foram realizadas observação e análise de documentos e práticas que permitissem caracterizar a consulta de ESMP em contexto escolar. Posteriormente, foram realizados quatro grupos focais, no primeiro trimestre de 2022, com a participação de 29 adolescentes com idades compreendidas entre os 12 e os 18 anos. As entrevistas foram transcritas na íntegra e a análise dos dados foi realizada de acordo com a análise de conteúdo preconizada por Bardin (2006). Todos os participantes e responsáveis legais assinaram o consentimento livre e informado e de tratamento de dados pessoais preconizados pela comissão de ética. A realização do estudo no agrupamento escolar foi autorizada pelo respectivo director. Os resultados demonstram que os adolescentes percepcionam a saúde mental no contexto da saúde em geral e identificam diferentes factores que possam envolver um pedido de ajuda no âmbito do sofrimento mental, nomeadamente individuais, familiares e sociais. Identificam diferentes recursos de ajuda e as características desses recursos. Procuram alguém que os ouça e acolha com uma atitude compreensiva e empática e enfatizam a importância do sigilo e confidencialidade. Procuram ajuda prática (conselhos e resolução de problemas), um espaço de relação e reconhecem com resistência a possibilidade de ajuda medicamentosa. Identificam diferentes factores que facilitam ou inibem a procura de ajuda, designadamente individuais, sociais e organizacionais. Em conclusão, releva-se a importância de ouvir o adolescente e de o envolver na criação e desenvolvimento de uma consulta de ESMP, destacando as características que procuram nos profissionais e a ajuda que procuram nos mesmos de modo a minimizar factores que inibam o acesso aos cuidados e a potenciar os que facilitam o acesso aos mesmos.
Adolescence is a period of intense changes and transformations that pose countless challenges until the achievement of autonomy. Therefore, this period of transformation may be experienced negatively by adolescents, who may have difficulties in seeking and perceiving the need for help (World Health Organization, 2002; 2020) This study derives from carrying out a mental health nursing consultation in school context, following three suicides in that school cluster, with the aim to develop a space for accessible help for adolescents. However, despite the creation of this space, this has not translated into an increase in the demand from adolescents in the last five years. This is an exploratory-descriptive study developed with the general objective of analysing the adolescents' perspective on the intervention in mental health, envisaging the development of a mental health nursing consultation in school context. Observation and analysis of documents and practices were carried out to characterise the mental health nursing consultation in the school context. Subsequently, four focus groups were conducted in the first quarter of 2022, with the participation of 29 adolescents aged between 12 and 18 years. The interviews were fully transcribed and data analysis was performed according to the content analysis preconized by Bardin (2006). All participants and legal guardians signed the free and informed consent and personal data processing form recommended by the ethics committee. The study was authorised by the school cluster's director. Results show that adolescents consider mental health as a part of general health and they identify different factors that may involve a request for help in the context of mental distress, namely individual, family and social ones. They identify different help resources and the characteristics of those resources. They look for someone who will listen and welcome them with an understanding and empathetic attitude and emphasise the importance of secrecy and confidentiality. They seek practical help (advice and problem-solving), a space for relationships and recognise with resistance the possibility of pharmacological help. They identify different factors that facilitate or inhibit help-seeking, namely individual, social and organizational ones. In conclusion, the importance of listening to adolescents and involving them in the creation and development of a mental health nursing consultation is underlined, particularly the characteristics that they seek in professionals and the help that they seek in them, so as to minimise factors that inhibit access to care and enhance those that facilitate access to care.