Publication year: 2023
O relatório final de estágio, inserido na unidade curricular estágio com relatório em Enfermagem de Saúde Materna e Obstétrica da ESEnFC, surge com o intuito da obtenção do grau de mestre em Enfermagem de Saúde Materna e Obstétrica.
A Violência Obstétrica (VO) pode ser definida como qualquer ato de desrespeito ou agressão direcionado à mulher. Sendo um problema que envolve os profissionais de saúde, a grávida, o bebé e a família, com impacto em toda a comunidade. Este tipo de violência contra a mulher numa fase específica da sua vida, a gravidez, tem por base a violação daqueles que são os direitos humanos da mulher, considerado um atentado à saúde pública, que não é valorizada tanto quanto a outras formas de violência de que as mulheres são vítimas. A VO que pode ocorrer em diferentes momentos da gravidez, parto, pós-parto e aborto, constitui um problema presente nas unidades de saúde e praticado pelos profissionais de saúde, tornando-se importante refletirmos sobre as práticas que afetam o cuidado integral e humanizado da mulher, onde são poucos os autores que exploram a VO em situações de abortamento.
Objetivo:
Identificar formas de VO contra as mulheres nos processos de abortamento, e as características sociodemográficas dessas mulheres.
Materiais e métodos:
Trata-se de um estudo exploratório, retrospetivo e descritivo, tendo sido recolhido dados através de um questionário elaborado com o recurso ao Google Forms, partilhado no Facebook. As participantes do estudo foram mulheres com idade igual ou superior a dezasseis anos que vivenciaram pelo menos um processo de abortamento nos últimos dois anos, com atendimento em serviços de saúde em Portugal. Resultados:
No presente estudo foram 100 as mulheres que aceitaram participar no questionário, no entanto apenas 28 participantes, tiveram algum episódio de aborto nos últimos dois anos. Durante os processos de abortamento mais de metade das participantes procurou assistência em Hospitais Públicos. O tipo de aborto com maior prevalência é o aborto espontâneo. A idade mínima de quem respondeu ao presente questionário era 22 anos e a idade máxima de 43 anos. Mais de metade das participantes tinham como
escolaridade o ensino superior e profissões ligadas à área da saúde. A prevalência do concelho de residência no momento do aborto 43% residia na região Centro. Relativamente à forma de manifestação da VO nos processos de abortamento 24,4% mencionou ter sido alvo de abuso psicológico. Quando questionadas sobre os profissionais de saúde que participaram com atos de VO apontaram para o médico como promotor desses atos.
Conclusão:
A VO em Portugal, ocorre maioritariamente nas unidades de saúde públicas. Dentro dos diversos tipos de aborto, a VO tem maior incidência nas situações de interrupção médica da gravidez, onde o profissional de saúde que mais se destaca como promotor da VO é o médico. Verificou-se também que quanto maior a idade e a escolaridade, maior a probabilidade de incidência de abusos, uma vez que estas estão mais despertas para distinguir situações de violência. Nos processos de abortamento, o abuso psicológico e a falta de informação sobre os cuidados/procedimentos são as formas de VO mais comuns. Em suma, VO em situações de abortamento merece ser estudada e valorizada assim como qualquer outra forma de violência contra a mulher.