Publication year: 2022
Introdução:
O direito à saúde é um dos direitos sociais constitucionalmente garantidos. A realidade brasileira ainda é excludente e também reflete as dificuldades estudadas e superadas por outros países desenvolvidos. No Brasil, menos de 20% dos pacientes que saem de uma internação hospitalar por problemas cardíacos, recebe a indicação para a reabilitação cardíaca. Uma vez inserido em um programa de reabilitação cardíaca (PRC), as maiores barreiras para sua participação estão relacionadas com as comorbidades e/ou estado funcional, necessidades percebidas e acesso. Objetivos:
1) avaliar as barreiras para participação em PRC, na perspectiva de um grupo de participantes, antes da ocorrência da pandemia da COVID-19 (Etapa 1); 2) avaliar as barreiras percebidas pelos participantes para retornarem ao PRC, durante a pandemia da COVID-19 (Etapa 2); 3) comparar as barreiras percebidas nas duas etapas; e 4) avaliar os aspectos físicos e emocionais da qualidade de vida relacionada à saúde (QVRS) dos participantes durante a pandemia da COVID-19. Método:
Estudo observacional, analítico e longitudinal realizado em duas etapas com pacientes inseridos em um PCR, fases 2 ou 3, de um hospital universitário do interior paulista. Na primeira etapa, antes da pandemia, 23 participantes responderam presencialmente aos 21 itens da Escala de Barreiras para a Reabilitação Cardíaca (EBRC), usando uma escala ordinal de 1 a 5 (escore total de 21 a 105, com maiores escores indicando maiores barreiras percebidas). Na segunda etapa, realizada por telefone durante o período pandêmico, 18 desses participantes responderam novamente aos itens da EBRC, bem como aos itens dos domínios Aspectos Físicos e Aspectos Emocionais do instrumento Medical Outcomes Study (MOS): 36-Item Short Form Survey (SF-36). Resultados:
Na primeira etapa foram entrevistados 23 indivíduos, dos quais três faleceram e dois não apresentaram condições físicas para participarem da segunda entrevista. Concluímos o seguimento de 18 pacientes, sendo a maioria do sexo masculino (66,7%), casada/união estável (60,9%), sem desempenhar atividade ocupacional (91,3%) e residentes da cidade de Ribeirão Preto (52,2%). A média de idade foi de 58,9 (D.P.=12,5) anos, com renda mensal familiar média de R$ 2.072,78 (D.P.=1.397,40) e baixa escolaridade (oito anos de estudo formal, em média). Ao compararmos as barreiras percebidas, antes e durante a pandemia, constatamos a diminuição na percepção dos pacientes sobre as barreiras para a participação em um PRC sendo as diferenças estatisticamente significantes para o escore total da EBRC (p<0,001), para a média total dos itens (p<0,001) e para a maioria dos itens (81%). Durante a pandemia, os participantes avaliaram melhor os aspectos emocionais (M=72,2; D.P.=34,8) do que físicos (M=40,3; D.P.=41,2) da QVRS. Conclusão:
No grupo investigado, após a interrupção da participação em um PRC em decorrência da pandemia da COVID-19, os participantes consideraram as barreiras para a adesão ao programa como sendo menores do que aquelas percebidas enquanto estavam inseridos na reabilitação cardíaca. Os resultados encontrados podem ser compreendidos no contexto do isolamento social imposto aos indivíduos com doenças cardíacas e com outras doenças consideradas de risco para o agravamento da condição de saúde diante da contaminação pelo novo coronavírus
Introduction:
Health care is one of the social rights constitutionally guaranteed. The Brazilian reality is still exclusionary and also reflects the difficulties studied and overcome by other developed countries. In Brazil, less than 20% of the patients that leave hospitalization due to cardiac problems receive a referral to cardiac rehabilitation. Once inserted in a cardiac rehabilitation program (CRP), the biggest barriers to patients' participation are related to comorbidities and/or functional status, perceived needs and access. Objectives:
1) assess barriers to participation in CRP, from the perspective of a group of participants, before the occurrence of the COVID-19 pandemic (Step 1); 2) assess the barriers perceived by the participants to return to the CRP, during the COVID-19 pandemic (Step 2); 3) compare the perceived barriers in the two phases; e 4) assess the physical and emotional aspects of the participants' health-related quality of life (HRQoL) during the COVID-19 pandemic. Method:
Observational, analytical and longitudinal study carried out in two stages with patients enrolled in a CRP, phase 2 or 3, at a university hospital in the countryside of São Paulo. In the first step, before the pandemic, 23 participants responded face-to-face to the 21 items of the Cardiac Rehabilitation Barriers Scale (CRBS), using an ordinal scale from 1 to 5 (total score ranging from 21 to 105, with higher scores indicating greater perceived barriers). In the second step, carried out by telephone during the pandemic period, 18 of those participants responded again to the CRBS items, as well as to the items in the Physical Aspects and Emotional Aspects domains of the Medical Outcomes Study (MOS): 36-Item Short Form Survey (SF -36). Results:
In the first step, 23 individuals were interviewed, of which three died and two were not physically able to participate in the second interview. We concluded the follow-up of 18 patients, most of them male (66.7%), married/in a stable relationship (60.9%), with no occupational activity (91.3%) and residents of the city of Ribeirão Preto (52.2%). The mean age was 58.9 (SD=12.5) years, with an average monthly family income of BRL 2,072.78 (SD=1,397.40) and low schooling (eight years of formal schooling, on average). When comparing perceived barriers, before and during the pandemic, we found a decrease in patients' perception of barriers to participation in a CRP, with statistically significant differences for the total CRBS score (p<0.001), for the total average of the items (p<0.001) and for 81% of the items. During the pandemic, participants better rated the emotional (M=72.2; SPD=34.8) than physical (M=40.3; SD=41.2) aspects of HRQoL. Conclusion:
In the investigated group, after the interruption of participation in a CRP due to the COVID-19 pandemic, the participants considered the barriers to adherence to the program to be lower than those perceived while they were in cardiac rehabilitation. The results found can be understood in the context of the social isolation imposed on individuals with heart disease and other diseases considered to be at risk for the worsening of their health condition in the face of contamination by the new coronavirus