Gestão da dor aguda pós-operatória na artroplastia da anca: eficácia analgésica do bloqueio de nervo periférico de dose única

Publication year: 2024

O Estágio Profissional visa o desenvolvimento das competências comuns e especificas para uma determinada área de especialidade, neste caso a Enfermagem de Médico-cirúrgica na área da pessoa em situação critica. As competências de investigação foram desenvolvidas com um estudo sobre a dor aguda do pós-operatório, uma vez que é um problema de saúde pública fundamentado pela sua prevalência, potenciais complicações e subtratamento. A opção pela gestão da dor aguda nos doentes submetidos a artroplastia primária da anca justificou-se por ser uma cirurgia cada vez mais comum, pela relação que se estabelece com a patologia osteoarticular degenerativa e o envelhecimento da população, e porque a dor pós-operatória associada a este procedimento se manifesta habitualmente por dor moderada a intensa.

Objetivos:

Analisar o processo de aquisição de competências para a prestação de cuidados à pessoa em situação critica. Caracterizar os níveis de intensidade de dor (em repouso e em movimento), os efeitos adversos (bloqueio motor, sensitivo e efeitos sistémicos) e a necessidade de analgesia de resgate, em doentes submetidos a artroplastia primária da anca, com recurso a técnicas de bloqueio de nervo periférico dose única; verificar a relação existente entre os níveis de intensidade de dor, os efeitos adversos, a necessidade de analgesia de resgate e de reavaliação depois das 24 horas, com as técnicas de bloqueio de nervo periférico dose única; verificar a relação entre a presença de efeitos secundários sistémicos com o uso de analgesia de resgate e de analgesia sistémica.

Métodos:

Estudo analítico-correlacional e retrospetivo. Foram incluídos 994 doentes submetidos a Artroplastia Total Primária da Anca e submetidos a técnicas de bloqueio de nervo periférico dose única [bloqueio de nervo femoral (BNF) + cutâneo lateral da coxa (CLC); bloqueio do grupo nervoso pericapsular (PENG) + Cutâneo lateral da coxa (CLC); Bloqueio da fáscia ilíaca (BFI)], seguidos numa Unidade de Dor Aguda de um hospital da região Norte, no período compreendido entre 1 de janeiro de 2013 e 15 outubro de 2023. Foram salvaguardados os princípios éticos. Os dados foram submetidos a análise descritiva e inferencial, com recurso ao programa Python Programming Language (versão 3.12).

Resultados:

O estágio permitiu o desenvolvimento de competências para a prestação de cuidados à pessoa em situação critica. No estudo, no total de doentes, o BNF+CLC foi utilizado em 77,5%, o PENG+CLC em 14,4% e o BFI em 8,1%, todos os doentes foram avaliados às 24 horas após o procedimento cirúrgico. A maioria doentes referiu ausência de dor em repouso (82,7%) e dor ligeira em movimento (55,2%). Os principais efeitos adversos identificados foram o bloqueio sensitivo com parestesias em pequena área (13%), o bloqueio motor com ligeira diminuição da força muscular (4,9%) e as náuseas e vómitos (3,5%). Apenas 7,8% necessitaram de analgesia de resgate. As hipóteses propostas não se confirmaram, exceto uma diferença estatisticamente significativa quando comparados os grupos de BNF+CLC e PENG+CLC em relação ao bloqueio sensitivo (p = 0.036) e a comparação dos grupos com administração de paracetamol e paracetamol+tramadol em relação aos efeitos adversos sistémicos (p = 0.047).

Conclusão:

A avaliação efetuada pelos enfermeiros da UDA, nas primeiras 24 horas após ATA, com recurso a técnicas de bloqueio de nervo periférico dose única em combinação com analgesia sistémica, revela uma adequada gestão da dor aguda do pós-operatório. A necessidade de analgesia de resgate foi muito reduzida e os efeitos adversos associados à analgesia estiveram ausentes na maioria dos doentes. Os doentes submetidos a PENG+CLC apresentaram menor grau de bloqueio sensitivo do que os submetidos a BNF+CLC.
The Professional Internship aims at developing common and specific skills for a particular area of expertise, in this case, Medical-Surgical Nursing in the individual critical care setting. Research skills were developed through a study on acute postoperative pain, as it is a public health problem justified by its prevalence, potential complications, and under treatment. The choice to focus on the management of acute pain in patients undergoing primary hip arthroplasty was justified due to its increasing prevalence, its relationship with degenerative osteoarticular pathology and the aging population, and because postoperative pain associated with this procedure typically manifests as moderate to severe pain.

Objective:

Analyse the process of acquiring skills for providing care to individuals in critical situations. Characterize the levels of pain intensity (at rest and in motion), adverse effects (motor and sensory block, systemic effects), and the need for rescue analgesia in patients undergoing primary hip arthroplasty using single-dose peripheral nerve block techniques. Examine the relationship between pain intensity levels, adverse effects, the need for rescue analgesia, and reassessment after 24 hours with single-dose peripheral nerve block techniques. Investigate the correlation between the presence of systemic side effects and the use of rescue analgesia and systemic analgesia.

Methodology:

Analytical-correlational and retrospective study. A total of 994 patients who underwent Primary Total Hip Arthroplasty and received single-dose peripheral nerve block techniques [femoral nerve block (FNB) + Lateral cutaneous nerve of the thigh (LFCN); Pericapsular nerve block (PENG) + Lateral cutaneous nerve of the thigh (LFCN); Iliac fascia block (IFB)] were included in the study. These patients were followed in an Acute Pain Unit of a hospital in the Northern region between January 1, 2013, and October 15, 2023. Ethical principles were adhered to. The data underwent descriptive and inferential analysis using the Python Programming Language (version 3.12).

Results:

The internship allowed the development of skills for providing care to individuals in critical situations. In the study, among the total number of patients, FNB+LFCN was used in 77.5%, PENG+LFCN in 14.4%, and IFB in 8.1%. All patients were assessed 24 hours after the surgical procedure. The majority of patients reported no pain at rest (82.7%) and mild pain during movement (55.2%). The main identified adverse effects were sensory block with paresthesias in a small area (13%), motor block with slight decrease in muscle strength (4.9%), and nausea and vomiting (3.5%). Only 7.8% required rescue analgesia. The proposed hypotheses were not confirmed, except for a statistically significant difference when comparing the FNB+LFCN and PENG+LFCN groups regarding sensory block (p = 0.036) and the comparison of groups with administration of paracetamol and paracetamol+tramadol regarding systemic adverse effects (p = 0.047).

Conclusion:

The evaluation conducted by the nurses in the Acute Pain Unit (UDA) in the first 24 hours after Primary Total Hip Arthroplasty, using single-dose peripheral nerve block techniques in combination with systemic analgesia, reveals an adequate management of acute postoperative pain. The need for rescue analgesia was greatly reduced, and adverse effects associated with analgesia were absent in the majority of patients. Patients undergoing PENG+LFCN showed a lower degree of sensory block than those undergoing FNB+LFCN.