Stresse nos enfermeiros de urgência na abordagem à pessoa em situação crítica

Publication year: 2024

Os enfermeiros são um grupo profissional particularmente suscetível de experienciar com o stresse, pela natureza das suas funções. A exposição permanente ao contacto humano com doentes e familiares, a gestão de situações de emergência, em que um pequeno erro pode comprometer a sobrevivência ou o prognóstico do doente, a interação com outros profissionais de saúde, o trabalho por turnos e a disrupção de ritmos circadianos, a morte de doentes, de entre outros fatores, criam uma conjuntura em que o enfermeiro experiencie níveis elevados de stresse no seu dia-a-dia.

Objetivos:

Caracterizar o perfil sociodemográfico e profissional dos enfermeiros do Serviço de Urgência de um Centro Hospitalar da região norte de Portugal; Identificar os principais fatores indutores de stresse nos enfermeiros do Serviço de Urgência de um Centro Hospitalar da região norte de Portugal; Avaliar a relação entre os fatores indutores de stresse e as variáveis sociodemográficas e profissionais.

Métodos:

Foi realizado um estudo descritivo, transversal correlacional, avaliando os níveis de stresse numa amostra de 54 enfermeiros de um serviço de urgência de um hospital da região do norte de Portugal através da aplicação da Escala de Stresse Profissional dos Enfermeiros e de um questionário para fazer o levantamento de aspetos sociodemográficos e profissionais.

Resultados:

Os participantes no estudo (n=54) eram maioritariamente do sexo feminino (68,5%). A classe etária dominante (63%) foi a dos 31-40 anos. O estado civil dos enfermeiros dividiu-se quase equitativamente entre os que estão sozinhos e aqueles casados ou união de facto. Quarenta enfermeiros (74,1%) eram licenciados, e os restantes 25,9% mestres. Trinta e três eram enfermeiros (61.1%), os restantes eram especialistas (38,9%). O tempo de serviço mais frequente (46,3%) foi 11 a 20 anos, e 2 a 10 anos no Serviço de Urgência. O contrato sem termo foi a modalidade de vínculo mais frequente (74,1%). Só 35,2% dos enfermeiros indicou acumular funções noutra instituição. O valor médio observado para o conjunto de profissionais que constituíram a amostra foi de 80,94±11,95. Considerando que o ponto médio da escala é de 85 pontos, pode considerar-se que os enfermeiros do SU apresentam, em média, níveis medianos de stresse. Das várias componentes da escala, a “carga de trabalho” integrada na componente “ambiente físico” foi um domínio onde foram registados níveis de stresse elevados. Na componente de “ambiente psicológico” a morte do doente e a incerteza quanto aos tratamentos representaram maior stresse para os enfermeiros. No “ambiente social” a relação com os médicos mostrou-se como um fator importante na perceção de stresse pelos enfermeiros. Atendendo aos resultados da relação das variáveis sociodemográficas na perceção do stresse percecionado pelos enfermeiros, avaliado com a ESPE, os enfermeiros do sexo masculino e aqueles que têm a habilitação de mestre apontam para níveis mais elevados de perceção de stresse. Também ao nível do estado civil verifica-se que os enfermeiros casados percecionarem níveis mais elevados de stresse. Pelo contrário, a idade dos enfermeiros, avaliada em classes de 10 anos, não evidenciou ter influência na perceção de stresse. Não se observou uma relação entre as variáveis profissionais e a perceção do stresse pelos enfermeiros, avaliado pela pontuação total da ESPE. Há, porém, diferenças pontuais em fatores da escala que apontam para os enfermeiros que trabalham há pouco tempo no SU e aqueles que aí trabalham entre 11 e 20 anos percecionarem mais stresse associado ao conflito com outros profissionais, assim como uma tendência para os profissionais com contrato a termo certo sentirem percecionarem mais stresse Conclusão: O enfermeiro que trabalha num serviço de urgência está sujeito a inúmeros stressores. Há aspetos técnicos, relacionais e emocionais que potencial o agravamento do stresse nos enfermeiros. Tratando-se de um serviço que lida permanentemente com a vida ou morte do doente, particularmente na área do doente crítico, o stresse do enfermeiro deve ser olhado com atenção, pois as implicações cognitivas do stresse crónico podem fazer o profissional ter uma prestação de menor qualidade. Particularmente na área dedicada a doentes críticos, todas as capacidades cognitivas do enfermeiro são valiosas, pelo que é determinante que se consiga criar um ambiente de reduzido stresse para que os cuidados prestados sejam de elevada qualidade, como se espera e exige que aconteça.
Nurses are a professional group particularly susceptible to experiencing stress due to the nature of their work. The constant exposure to human contact with patients and their families, the management of emergency situations where a small error can compromise the patient's survival or prognosis, interaction with other healthcare professionals, shift work and disruption of circadian rhythms, and the death of patients, among other factors, create a situation in which nurses experience high levels of stress in their daily lives.

Objectives:

Characterize the sociodemographic and professional profile of nurses in the Emergency Service of a Hospital Center in the north of Portugal; Identify the main factors that induce stress in nurses in the Emergency Department of a Hospital Center in the north of Portugal; Assess the relationship between stress-inducing factors and sociodemographic and professional variables.

Methods:

A descriptive, cross-sectional correlational study was conducted, evaluating stress levels in a sample of 54 nurses from an emergency department in a hospital in the northern region of Portugal. This was done through the application of the Nurses' Professional Stress Scale and a questionnaire to collect sociodemographic and professional information.

Results:

The study participants (n=54) were predominantly female (68.5%). The dominant age group (63%) was between 31 and 40 years old. The marital status of the nurses was almost equally divided between those who are single and those who are married or in a domestic partnership. Forty nurses (74.1%) had a bachelor's degree, and the remaining 25.9% had a master's degree. Thirty-three were general nurses (61.1%), while the remaining were specialists (38.9%). The most frequent length of service was 11 to 20 years (46.3%), both overall and in the Emergency Department. Permanent contracts were the most common employment type (74.1%). Only 35.2% of nurses indicated that they held additional positions in another institution. The average observed value for the professionals in the sample was 80.94±11.95. Considering that the midpoint of the scale is 85 points, it can be considered that nurses in the Emergency Department have, on average, moderate to high levels of stress. Among the various components of the scale, "workload" within the "physical environment" domain was an area where high levels of stress were reported. In the "psychological environment" component, the death of patients and uncertainty about treatments were identified as major sources of stress for nurses. In the "social environment," the relationship with doctors was found to be an important factor in nurses' perception of stress. Regarding the relationship between sociodemographic variables and the perceived stress reported by nurses, as evaluated by the Nurses' Professional Stress Scale, male nurses and those with a master's degree reported higher levels of perceived stress. Additionally, married nurses indicated higher levels of stress. On the other hand, the age of nurses, assessed in 10-year intervals, did not show any influence on the perception of stress. There was no significant relationship between professional variables and nurses' perception of stress, as measured by the total score of the Nurses' Professional Stress Scale. However, there were some isolated differences in scale factors indicating that nurses who had recently started working in the Emergency Department and those who had been working there for 11 to 20 years perceived more stress related to conflicts with other professionals. There was also a tendency for professionals with fixed-term contracts to report higher levels of perceived stress.

Conclusion:

Nurses working in an emergency department are exposed to numerous stressors. Technical, relational, and emotional aspects contribute to the exacerbation of stress in nurses. Considering that this department deals constantly with life or death situations, particularly in critical care, nurses' stress should be closely monitored, as the cognitive implications of chronic stress can impair their performance. In the field dedicated to critical patients, all cognitive abilities of the nurse are valuable, so it is crucial to create a low-stress environment to ensure the provision of high-quality care, as expected and demanded.