A gravidade oculta da pandemia de COVID-19 em crianças e adolescentes no Brasil sob uma perspectiva tempo-espacial

Publication year: 2022

Introdução:

A covid-19 foi declarada como pandemia pela Organização Mundial de Saúde em março de 2020 e, ainda no primeiro semestre da pandemia, o Brasil alcançou o segundo lugar no número total de óbitos acumulados no mundo. Crianças e adolescentes, incialmente, foram os menos atingidos pela covid-19, contudo, a notificação de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) encontrou-se elevada neste grupo. Tem-se por objetivo geral neste estudo: Descrever a mortalidade hospitalar de crianças e adolescentes hospitalizados com SRAG por covid-19 e SRAG não especificado no Brasil, segundo as características sociodemográficas e clínicas, durante a pandemia da covid-19 no território brasileiro em 2020-2021.

Objetivos específicos:

a) Descrever casos, óbitos e mortalidade hospitalar por covid-19 em crianças e adolescentes no Brasil, conforme faixas etárias, durante as fases de evolução da pandemia em 2020-2021; b) Descrever a distribuição geográfica da mortalidade hospitalar por covid-19 em crianças e adolescentes, entre as cinco macrorregiões geopolíticas, e entre os três tipos de aglomerados urbanos: capitais, municípios pertencentes às regiões metropolitanas e municípios do interior das Unidades Federativas do Brasil, durante a pandemia nos anos 2020 e 2021.

Metodologia:

Censo de pacientes até 19 anos, internados com SRAG por covid-19 ou SRAG não especificado, notificados ao Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica da Gripe do Brasil, entre 01/01/2020 e 31/12/2021. Optou-se metodologicamente por atribuir o SRAG não especificado como latente subnotificação da covid-19. A mortalidade hospitalar foi o desfecho principal, avaliado por meio de duas abordagens: transversal e ecológica.

Resultados:

Totalizaram 144.041 pacientes nos dois anos, sendo 18,2% covid-19 confirmados. Menores de 5 anos (lactentes e pré-escolares) corresponderam a 62,8% dos hospitalizados. Evoluíram a óbito 4.471 pacientes, representando cerca 6,1 óbitos por dia. Verificou-se no âmbito nacional subnotificação de 81,8% de casos e 57,8% dos óbitos com grande variação entre as regiões. Os lactentes foram os que mais evoluíram para UTI (24,7%) e apresentaram o maior número bruto de óbito (n=2.012), porém, a mortalidade foi maior entre os adolescentes (5,7%). A mortalidade hospitalar na população pediátrica foi maior na primeira, quarta e sexta fases da covid-19. A mortalidade hospitalar foi mais que o dobro nas macrorregiões brasileiras quando considerados apenas os casos de covid-19, em relação aos que incluíram a SRAG não especificada, com exceção das regiões Norte e Centro-oeste. Registrou-se também maior mortalidade hospitalar em municípios do interior, destacando-se Região Norte e Nordeste.

Conclusão:

O contexto urbano, as faixas etárias e as fases da pandemia estiveram associadas à mortalidade hospitalar por SRAG durante a pandemia de covid-19 no Brasil.

Introduction:

Covid-19 was declared a pandemic by the World Health Organization in March 2020, and even in the first half of the pandemic, Brazil has achieved second place in the total number of cumulative deaths worldwide. Children and adolescents, initially, were the least affected by covid-19, however, the notification of cases of Severe Acute Respiratory Syndrome (SARS) was found to be high in this group. The overall objective of this study was to describe in-hospital mortality of children and adolescents hospitalized with SARS due to covid-19 and unspecified SARS in Brazil, according to sociodemographic and clinical characteristics, during the covid-19 pandemic in the Brazilian territory in 2020-2021.

Specific objectives:

a) Describe cases, deaths and hospital mortality for covid-19 in children and adolescents in Brazil, according to age groups, during the pandemic evolution phases in 2020-2021; b) Describe the geographical distribution of hospital mortality for covid-19 in children and adolescents, among the five geopolitical macro-regions, and among the three types of urban agglomerations: capital cities, municipalities belonging to metropolitan regions and inland municipalities of the Federative Units of Brazil, during the pandemic in the years 2020 and 2021.

Methodology:

Census of patients up to 19 years of age, hospitalized with SARS by covid-19 or unspecified SARS, reported to the Brazilian Influenza Epidemiological Surveillance Information System, between 01/01/2020 and 31/12/2021. We methodologically chose to attribute unspecified SARS as latent underreporting of covid-19. Hospital mortality was the primary outcome, assessed using two approaches: cross-sectional and ecological.

Results:

A total of 144,041 patients were enrolled in the two years, with 18.2% confirmed covid-19. Children under 5 years of age (infants and preschoolers) accounted for 62.8% of those hospitalized. A total of 4,471 patients died, representing about 6.1 deaths per day. Nationwide, 81.8% of cases and 57.8% of deaths were underreported, with great variation among the regions. Infants were those who evolved most often to the ICU (24.7%) and presented the highest gross number of deaths (n=2,012), but mortality was higher among adolescents (5.7%). In-hospital mortality in the pediatric population was highest in the first, fourth, and sixth stages of covid-19. Hospital mortality was more than double in the Brazilian macro-regions when considering only the cases of covid-19 compared to those that included unspecified SARS, with the exception of the Northern and Midwestern regions. Higher hospital mortality was also recorded in inland municipalities, especially in the North and Northeast regions.

Conclusion:

Urban settings, age groups, and pandemic phases were associated with SARS hospital mortality during the covid-19 pandemic in Brazil.