Publication year: 2023
Enquadramento Teórico:
Segundo a Organização Mundial de Saúde cerca de 450
milhões de pessoas no mundo inteiro padecem de doença mental, as quais representam
12% da carga global das doenças. Contudo, os Governos continuam a não disponibilizar
mais de 1% de seu recurso orçamentário para o setor, portanto, cerca de 40% dos
Países não possuem políticas de saúde mental e 90% nem se quer incluem crianças e
adolescentes em suas políticas de saúde mental.
A Guiné-Bissau conta apenas com um único Centro de Saúde Mental e não possui
Política de Saúde Mental, fazendo parte dos 40% das nações que não possuem uma
política específica relacionada com a saúde mental. A literatura científica sobre
prevalência das doenças mentais na Guiné-Bissau é tão escassa que o último estudo
data de 1991, no qual se concretizou o défice na identificação da doença mental na
pessoa que procura os cuidados de saúde. Se a pesquisa se direcionar para as
conceções e representações da doença mental na Guiné- Bissau, então a evidência
científica é ainda mais deficitária. Os estudos sobre as representações sociais da
doença mental, especialmente junto de estudantes e profissionais de saúde pode ser
um fator importante para que se possa compreender de que forma estes profissionais
encaram e podem ajudar a pessoa com doença mental. A compreensão da doença
mental é condiciona por diversos determinais sociais, nos quais se incluem a educação,
a idade, o género, a cultura, as crenças religiosas. Também as práticas religiosas e
culturais parecem ter uma grande influência na perceção dos guineenses sobre a
doença mental, o que, juntamente com a baixa literacia contribuem para a
estigmatização da pessoa com doença mental. Neste sentido, este estudo pretende dar
a conhecer as representações da doença mental nos estudantes e profissionais, da área
da saúde, na Guiné-Bissau mental, considerando que são estes profissionais
capacitados para melhorar a literacia da saúde mental na comunidade.
Metodologia:
Estudo de abordagem qualitativa e caráter exploratório com recurso a
entrevistas semiestruturadas. Foram incluídas 9 pessoas (3 estudantes de enfermagem,
2 estudantes de medicina, 2 enfermeiros (sendo 1 do centro de saúde mental e 1 do
centro de saúde de Quelele), 2 médicos (1 afeto ao Centro de Saúde Mental ?Osvaldo
Máximo Vieira? e 1 do Centro de Saúde de Quelele), na Guiné-Bissau.
Resultados:
Dos dados analisados emergiram dois domínios: Representações
sobre a Doença Mental, Representações sobre a Pessoa com Doença Mental.
Das Representações sobre a Doença Mental, emergem categorias relacionadas
com: Conceção da Doença Mental; Causas da Doença Mental, Tratamento da
Doença Mental e Doença Mental relacionada com o Sobrenatural. Das
Representações sobre a Pessoa com Doença Mental, emergem as seguintes
categorias: A pessoa com Doença Mental, Impacto da Doença Mental.
Conclusões:
O estudo permitiu compreender a representação da doença mental junto
dos profissionais e estudantes de saúde na Guiné-Bissau. Dos dados compreendemos
que os participantes têm uma representação da doença mental, e uma representação
da pessoa que tem doença mental. Essas representações, de certa forma, parecem ser
influenciadas pela formação biomédica, crença religiosa e valores culturais de cada um.
A integração da saúde mental nos cuidados de saúde primários em todas as regiões e
áreas sanitárias, associados a outros serviços de saúde mental a nível de atenção
secundária e terciária podem ser o caminho para uma abordagem compreensiva e
menos estigmatizante para com pessoa com doença mental. Esta integração exige uma
priorização de formação e qualificação dos recursos humanos que inclua uma
abordagem do ser humano de forma integrada, intervenções psicoeducativas, com foco
em literacia em saúde mental, realizadas individualmente e em grupo.