Reabilitação da bexiga neurogênica: métodos de manejo, complicações urológicas, estilo de vida e satisfação pessoal em pessoas com lesão medular
Neurogenic bladder rehabilitation: management methods, urological complications, lifestyle and personal satisfaction in people with spinal cord injury
Publication year: 2022
Os danos neurológicos após a lesao medular (LM) são responsáveis por alterações nas funções de armazenamento de urina e da micção, as quais representam a causa mais frequente de reinternações hospitalares e prejuízo da qualidade de vida (QV). No Brasil estudos sobre essa temática ainda são incipientes. Diante disso, o objetivo deste estudo foi analisar os métodos de manejo da bexiga neurogênica e sua relação com as complicações urológicas de incontinência urinária (IU) e infecção de trato urinário (ITU), estilo de vida e satisfação pessoal em brasileiros com LM. Tratou-se de um estudo quantitativo, exploratório, analítico e de corte transversal, com 290 adultos, cadastrados em um banco de dados do Núcleo de Pesquisa e Atenção em Reabilitação Neuropsicomotora (NeuroRehab) para participação voluntária em pesquisas em LM. Os dados foram coletados com o instrumento validado, índice de tratamento do intestino e da bexiga (BBTI), por meio de entrevista telefônica. A maioria eram homens (70,0%), jovens, com média de idade de 41,02 anos (DP=10,43), beneficiários da previdência social (58,6%), com renda familiar entre 1 e três salários mínimos, com LM no nível torácico (62,8%), predominante traumática (77,6%), e causada por acidentes de trânsito (44,1%). A principal forma de esvaziamento da bexiga foi o cateterismo intermitente limpo (CIL) (74,1%). A satisfação com a rotina de manejo vesical (p = 0,0261), flexibilidade com a rotina (p = 0,007), e menor impacto na qualidade de vida (p ≤ 0,001) estavam relacionados ao esvaziamento vesical por micção normal, assim como uma melhor adaptação para trabalho fora de casa (p < 0,001), a realização de atividades do dia a dia (p ≤0,001) e uma menor interferência na vida social(p = 0,001). Entre os que realizavam o CIL, o método exigiu uma adaptação na rotina (p = 0,014), maior impossibilidade para trabalhar fora de casa (p = 0,004) e ser visto como um problema (p=0,014). Por outro lado, quando é realizado pelo próprio indivíduo (autocateterismo) essas associações não ocorreram (p=0,064). Mais da metade dos participantes relataram episódios de IU (55,6%) e de ITU (58,6%). O manejo com o uso do estímulo do reflexo da bexiga foi associado à IU (p=0,046).A IU alterou negativamente a satisfação com a rotina (p≤0,001), a eficácia do manejo vesical (p≤0,001), a QV (p=0,008), os relacionamentos pessoais (p=0,001), sociais(p=0,002), e as atividades laborais(p≤0,001). Houve associação entre o CIL com maiores episódios de ITU (p=0,001), enquanto a micção normal (p≤0,001) e compressão da bexiga (p=0,029) com menores episódios de ITU. A ITU apresentou impacto negativo em todas as variáveis que avaliaram a satisfação e o estilo de vida, como QV (p=0,040), satisfação com sua rotina (p=0,008), atividades laborais (p=0,012), sair de casa (p=0,030) e relacionamento social (p=0,005). Os dados apresentados neste estudo mostram os desafios das pessoas com LM no manejo vesical e podem indicar a demanda do contínuo desenvolvimento do tratamento da bexiga neurogênica. Nessa direção, são necessários mais estudos que busquem alternativas que considerem tanto a preservação do trato urinário quanto as questões pessoais do manejo vesical após a LM
Neurological damage caused to spinal cord injury (SCI) is responsible for changes in the functions of urine storage and urination, which represent the most frequent cause of hospital readmissions and impaired quality of life (QOL).In Brazil, studies on life satisfaction and urinary complications related to forms of bladder emptying are still incipient. Therefore, interest in studying issues related to the method of bladder management, its relationship with urinary complications of urinary incontinence (UI) and Urinary Tract Infection (UTI) and with satisfaction and lifestyle. This was a quantitative, exploratory, analytical and cross-sectional study, with 290 adults, registered in a database of the Center for Research and Care in Neuropsychomotor Rehabilitation (NeuroRehab) for voluntary participation in research in SCI. The sociodemographic data, SCI and bladder characterization from the Bowel and Bladder Treatment Index (BBTI) were collected through telephone interviews. Most participants were male(70,0%), young, with an average age of 41.02 years (SD=10,43), social security beneficiaries(58,6%), with low family income (between one and three minimum wages), with predominantly traumatic SCI (77,6%) at the thoracic level (62,8%) and of main cause traffic accidents (44,1%). Most participants used clean intermittent catheterization (CIC) as the main way to empty the bladder (74,1%). Satisfaction with the bladder management routine (p = 0,0261), flexibility with the routine (p = 0,007) and less impact on quality of life (p < 0,001) were related to bladder emptying by normal urination, as well as better adaptation to working outside the home (p < 0,001), performing daily activities (p < 0,001) and a less interference in social life (p = 0,001). Participants who performed the CIC evaluated that the method requires an adaptation in the routine, brings greater impossibility to work outside the home (p = 0,014) and is seen as a problem (p =0,014). On the other hand, when it is performed by the individual, these associations did not occur (p=0,064). More than half of the participants reported episodes of UI (55,6%) and UTI (58,6%). Management using bladder reflex stimulation was associated with UI IU (p=0,046). Incontinence negatively changed satisfaction with routine (p<0,001), effectiveness of bladder management (p<0,001), QOL(p=0,008), personal (p=0,001), and social relationships (p=0,002) and work activities (p<0,001). Regarding UTI, there was an association between CIC with more episodes of UTI (p=0,001) and normal urination (p<0,001) and bladder compression(p=0,029) with fewer episodes, with UTI having a negative impact on all variables that assessed satisfaction and lifestyle. The data presented in this study show the challenges faced by people with SCI in bladder management and may indicate the demand for the continued development of the treatment of neurogenic bladder. In this sense, further studies are needed that seek alternatives that consider both the preservation of the urinary tract and personal issues in bladder management after SCI.