Fatores de risco no desenvolvimento da linguagem de crianças menores de dois anos atendidas em serviço especializado
Risk factors in language development of children under two years of age at a specialized service
Publication year: 2017
Estudo exploratório, transversal que objetivou identificar os fatores de risco para o desenvolvimento associados às alterações de linguagem em crianças aos 18 meses acompanhadas em um serviço especializado de um município paulista. Participaram crianças atendidas no Serviço de Estimulação Precoce entre 01 de janeiro de 2013 e 31 de dezembro de 2015. Os dados foram obtidos através dos prontuários do serviço.
As variáveis estudadas foram:
peso ao nascer, idade gestacional, índice de Apgar, ocorrências clínicas (pré-natal, parto e pós-parto) e anomalias congênitas. Na fase descritiva, caracterizou-se os participantes, a partir das variáveis de interesse, sendo calculadas frequências e porcentagens das variáveis. Na fase analítica, buscou-se associações entre a variável dependente (atraso no desenvolvimento) e as demais variáveis, utilizou-se ainda modelos de regressão logística multinomial para estimar a chance de ocorrência das variáveis categóricas. O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (CAAE 61587916.0.0000.5393; Ofício CEP-EERP-USP nº373/2016), após anuência da Secretaria Municipal de Saúde. Nos três anos elencados para o estudo observou-se que 78 prontuários (56,9%) eram de crianças que deram entrada no serviço no ano de 2013, 49 (35,8%) em 2014, e 10 (7,3%) no ano de 2015. A maioria das crianças era do sexo masculino, com nascimentos distribuídos em sua maioria, entre os hospitais 1 e 2 e grande parte foi identificada com mais de um risco ao nascimento. A média da idade materna foi de 28 anos, com registros que indicavam, em sua maioria, mais de uma intercorrência durante a gestação, parto e pós-parto. Após a caracterização inicial das variáveis, as crianças foram divididas em três grupos: G1 - detectadas com atrasos no desenvolvimento da linguagem, encaminhadas para terapia fonoaudiológica aos 18 meses; G2 - crianças que passaram pelo retorno aos 18 meses e foram reagendadas para retorno aos dois anos, devido a dúvida quanto ao atraso ou não nas habilidades esperadas, recebendo alta neste; G3 - encaminhadas antes dos 18 meses para terapia, devido atraso significativo no desenvolvimento global. A partir dessa distribuição, buscou-se verificar associação entre os grupos e as variáveis mencionadas. O teste exato de Fisher indicou associação significante (p<0,001) entre os grupos em relação à variável anomalias congênitas. A análise de regressão logística indicou que crianças sem registros de intercorrências durante a gestação e no parto e nascimento, tiveram menores chances de evoluir com atrasos no desenvolvimento da linguagem. Aquelas nascidas prematuras apresentaram chance 8,51 vezes maior de terem, como desfecho, atraso na linguagem do que as crianças nascidas a termo e pós-termo. Crianças com valores de Apgar inferior a 4 no primeiro minuto e 7 no 5º minuto tiveram maior chance de apresentar atrasos; o baixo peso ao nascer também aumentou as chances deste desfecho. Os resultados deste estudo apontam para a necessidade da pronta detecção e encaminhamento precoce dessas crianças para serviços especializados, visando minimizar e/ou até evitar agravos futuros
This exploratory, cross-sectional study aimed at identifying the developmental risk factors associated with language changes in children at 18 months followed at a specialized service in a city of São Paulo. Participants were children attending the Early Stimulation Service between January 1, 2013 and December 31, 2015. Data were obtained from the service charts. The variables studied were birth weight, gestational age, Apgar score, clinical occurrences (prenatal, delivery and postpartum) and congenital anomalies. In the descriptive phase, the participants were characterized by the variables of interest, and the frequencies and percentages were calculated. In the analytical phase, we sought associations between the dependent variable (developmental delay) and the other variables, and multinomial logistic regression models were used to estimate the chance of occurrence of the categorical variables. The study was approved by the Research Ethics Committee of the University of São Paulo at Ribeirão Preto College of Nursing (CAAE 61587916.0.0000.5393; CEP-EERP-USP no. 373/2016), after consent of the Municipal Health Department. In the three years listed for the study, it was observed that 78 medical records (56.9%) belonged to the children who entered the service in 2013, 49 (35.8%) in 2014, and 10 (7.3%), in the year 2015. Most of the children were male, with births mostly distributed between hospitals 1 and 2, and most of them were identified as having more than one birth risk. The mean of maternal age was 28 years, with records indicating, for the most part, more than one intercurrence during pregnancy, delivery and postpartum. After the initial characterization of the variables, children were divided into three groups: G1 - children who were detected with delays in language development, referred for speech therapy at 18 months. G2 was related to children who returned for appointment at 18 months of age, and were rescheduled for return with two years, due to doubts related to delay or due they had no expected abilities; those children received discharge at two years old; and G3 was for children who was referred before 18 months for therapy, due to significant delay in overall development. From this distribution, we sought to verify association between the groups and the mentioned variables. The Fisher exact test indicated a significant association (p<0.001) between the groups in relation to the variable congenital anomalies. Logistic regression analysis indicated that children with no records of intercurrences during gestation, delivery and childbirth were less likely to evolve with delays in language development. Those children born premature presented an 8.51 times greater chance of having, as an outcome, delay in language than children born at term and post-term. Children with Apgar values less than 4 in the first minute and 7 in the fifth minute had a greater chance of delays; low birth weight also increased the odds of this outcome. The results of this study point to the need for prompt detection and early referral of these children to specialized services, in order to minimize and / or avoid future disorders