O enfermeiro e a pessoa com perturbação da personalidade: construção de uma relação terapêutica

Publication year: 2018

As pessoas (clientes) com Perturbação Borderline da Personalidade são alvo de interações desagradáveis ou de evitamento por parte dos enfermeiros, uma vez que são entendidos como irritantes, manipuladores, difíceis, más pessoas e não como doentes. Esta constatação motivou o interesse pela aquisição de competências com vista á construção de relações terapêuticas com estes clientes, que apresentam uma prevalência estimada na população de 1,6% a 5;9% e de 20% entre doentes internados em serviços de psiquiatria (American Psychiatric Association, 2013). A construção desta relação terapêutica baseou-se nos pressupostos de Peplau (1990), que definiu sem ambiguidades e numa base científica o papel do enfermeiro. Contudo outros contributos importantes foram dados por Rogers (1974) e Chalifour (2008) para quem esta relação é encarada como central, uma vez que a recuperação do equilíbrio do cliente em sofrimento mental deve ter por base relações interpessoais significativas, que o “valorizem” como um todo á luz da sua individualidade. As competências adquiridas junto dos clientes com esta perturbação resultaram das intervenções realizadas em grupo e individualmente, bem como de todos os pensamentos, emoções e comportamentos emergentes durante os estágios, que se realizaram no Hospital de Dia de Saúde Mental e Psiquiatria de um Hospital da Região Sul e Vale do Tejo e posteriormente no Serviço de Internamento do Hospital Prisional. Durante este processo de aprendizagem foram realizadas reflexões estruturadas, segundo o Ciclo reflexivo de Gibbs (1988), importantes para o profissional refletir sobre Si, o Outro, a inter-relação estabelecida, bem como sobre temas importantes para o seu desenvolvimento pessoal e profissional, com reflexo nas relações terapêuticas estabelecidas.
People (clients) with Borderline Personality Disorder are subject to unpleasant interactions or avoidance on the part of nurses, since they are understood as annoying, manipulators, difficult, bad people and not as patients. This finding motivated the interest in acquiring skills to build therapeutic relationships with these clients, who present an estimated prevalence in the population of 1.6% to 5,9% and 20% among patients hospitalized in psychiatric services (American Psychiatric Association, 2013). The creation of this therapeutic relationship was based on the assumptions of Peplau (1990), who unambiguously and on a scientific base defined the role of nurses. However, other important contributions were made by Rogers (1951) and Chalifour (2008) for whom this relationship is perceived as essential, since the recovery of the client's stability must be based on meaningful interpersonal relationships that "value" the clients as a whole in the light of their individuality. The skills acquired with clients with this disorder resulted from group and individual interventions, as well as from all the thoughts, emotions and behaviors that emerged during the internships, which took place at the Mental Health and Psychiatry Day Hospital of a Hospital of the South Region and Vale do Tejo and after in the Prison Hospital Internment Service. During this learning process, structured reflections were carried out, according to Gibbs's Reflective Cycle (1988), important for the self-knowledge of the professional to reflect on them, the Other, the established relationship, as well as on themes important for their personal and professional development, with repercussion in the established therapeutic relations.