HIV/aids no cárcere: desafios relacionados à regularidade no uso da terapia antirretroviral
HIV/aids in prison: challenges related to the regularity in the use of antiretroviral therapy
Publication year: 2017
Considerando a infecção pelo HIV uma condição crônica e de alta prevalência no ambiente carcerário, este estudo objetivou analisar os desafios relacionados à regularidade no uso da terapia antirretroviral (TARV) pelas pessoas vivendo com HIV em unidades prisionais (UP) da região de Ribeirão Preto (RP), São Paulo. Tratase de um estudo descritivo, do tipo inquérito. Foram incluídos indivíduos reclusos há mais de seis meses, com diagnóstico de HIV e em uso de TARV. Utilizou-se um banco de dados contendo variáveis sociodemográficas, clínicas e de acompanhamento dos casos; adesão à TARV e ações desenvolvidas pelas equipes de saúde das UP para o monitoramento da ingestão medicamentosa. Os dados foram analisados por meio de técnicas descritivas e testes de associação (Quiquadrado e Exato de Fisher). Identificou-se 67 indivíduos em uso de TARV, dos quais, 80,6% cumpriam pena em regime fechado e 38,8% possuíam de dois a cinco anos de clausura. Houve o predomínio de homens (79,1%); 25 a 39 anos (52,2%); não brancos (64,2%); solteiros (47,8%); ensino fundamental I e II (67,1%); possuíam profissão (88,1%) e ganhavam de um a três salários mínimos (50,7%) antes da reclusão.
Quanto ao perfil clínico e de acompanhamento:
44,8% diagnosticaram HIV na prisão; 86,6% faziam acompanhamento em serviço de assistência especializada em HIV (SAE); 41,7% interromperam o tratamento em algum momento; 31,3% possuíam TCD4+ acima de 500 cópias e em 62,7% a carga viral era indetectável. Identificou-se o uso de drogas ilícitas (71,6%) e lícitas (80%) prévias ao encarceramento. Em relação ao atraso na entrega da TARV, 70,3% referiram nunca ou quase nunca ocorrer tal situação; 42,2% referiram nunca ou quase nunca perderem consultas nos SAE; 79,1% informaram que nunca ou quase nunca recebem os resultados dos exames laboratoriais processados fora das UP.Sobre o questionamento acerca do uso da TARV nos últimos sete dias:
76,1% tomaram medicamentos fora do horário; 80,6% deixaram de tomar medicamentos; 91% tomaram menos ou mais compridos. Em 58,2% dos casos houve retirada regular da TARV junto às unidades dispensadoras de medicamentos situadas na rede pública de saúde de Ribeirão Preto. Quanto às ações desenvolvidas dentro das UP voltadas ao monitoramento da TARV, considerou-se regular apenas o questionamento sobre o uso contínuo dos medicamentos, sendo que as demais foram insatisfatórias. A adesão à TARV apresentou associação estatisticamente significante com o sexo feminino (p=0,028); o uso de drogas lícitas (p=0,006) e a interrupção do acompanhamento médico (p=0,014) estiveram associadas à não adesão. Os achados deste estudo permitem refletir sobre a complexidade da assistência prestada às pessoas que vivem com HIV/aids no ambiente prisional, principalmente no que tange o monitoramento do uso da TARV, sinalizando a necessidade de desenvolvimento e incorporação de estratégias de intervenção que qualifiquem a produção do cuidado em saúde na perspectiva integral e resolutiva, capaz de produzir impactos condizentes com os desafios que perpassam a prevenção e o manejo do HIV
Considering that the HIV/aids infection constitutes a chronic condition with high prevalence in prisons, this study aimed to analyze the challenges related to regularity in the use of antiretroviral therapy (ART) by people living with HIV in prisons (UP) in the region of Ribeirão Preto (PR), São Paulo. This is a descriptive, inquiry-type study. We included individuals who had been incarcerated for more than six months, diagnosed with HIV/aids and using ART. We used a database containing sociodemographic and clinical information and variables on the case follow-up, ART adherence and actions developed by PU health teams to monitor drug intake. Data were analyzed using descriptive techniques and association tests (Chi-square and Fisher's Exact). A total of 67 individuals using ART were identified, of whom 80.6% were in closed regime and 38.8% had two to five years of incarceration. There was a predominance of men (79.1%); 25 to 39 years old (52.2%); non-white (64.2%); single (47.8%); elementary education I and II (67.1%); having a profession (88.1%) and earning one to three minimum wages (50.7%) before incarceration. In regard of the clinical and follow-up profile: 44.8% had HIV diagnosed in prison; 86.6% were attending a specialized HIV care service (SAE); 41.7% discontinued treatment at some point of time; 31.3% had TCD4+ over 500 copies and in 62.7% of participants the viral load was undetectable. The use of illicit drugs (71.6%) and licit drugs (80%) prior to incarceration was also identified. Regarding delays in ART delivery, 70.3% reported that a delayed delivery never or almost never occurred; 42.2% reported that they never or almost never miss appointments in SAE; 79.1% reported that they never or almost never receive the results of laboratory tests processed outside the PU.