Trabalho emocional na realidade do sobrevivente oncológico: do distress à autorregulação emocional

Publication year: 2017

O processo de saúde-doença é frequentemente pautado por respostas emocionais intensas e que exigem do enfermeiro a gestão partilhada da emocionalidade experienciada. No presente relatório, propõe escrutinar-se a temática do trabalho emocional no sobrevivente de cancro, perspetivada em torno de três domínios: avaliação da saúde mental, psicologia positiva e psico-oncologia. Visando a aquisição de competências na área de especialização em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria, foram desenvolvidas intervenções em três contextos onde vulnerabilidade emocional dos clientes é indelével: Serviço de Internamento de Psiquiatria, Hospital de Dia de Psiquiatria e Consulta Externa de Reabilitação Oncológica. Perseguindo a lógica construtivista, procurou recorrer-se à metodologia de resolução de problemas em situação real, sustentar-se o trabalho emocional na teoria do Cuidado Humano de Watson e no Modelo Conceptual de Sistemas de Neuman e, paralelamente firmar-se a aprendizagem na reflexividade. Complementarmente, para a obtenção de competências de mestrado foi efetuado o desenho de um estudo investigativo que visou explorar o significado pessoal atribuído à experiência de cancro e averiguar a influência desta perceção nas respostas emocionais e na adaptação ao processo de doença. Em concreto, pretendeu analisar-se a experiência de distress, o ajustamento psicológico e a aferição de estados psicopatológicos, no sobrevivente oncológico. O estudo efetuado foi de pendor exploratório descritivo de natureza quantitativa, foi encetado entre os meses de julho e setembro de 2015 e implicou a seleção de uma amostra não probabilística intencional constituída por cinquenta adultos em remissão.

A obtenção dos dados pressupôs a aplicação de um questionário sociodemográfico e clínico e de três instrumentos de autoavaliação:

Termómetro Emocional (adaptado), Escala de Dificuldades de Regulação Emocional e Inventário de Saúde Mental. Numa perspetiva crítica e interpretativa, foi possível identificar respostas emocionais consideradas disruptivas compatíveis com a exibição de distress significativo em pouco mais de um terço dos participantes, decorrentes do impacto do cancro e dos efeitos colaterais dos tratamentos. Ficou ainda documentado existir uma correlação entre o sofrimento emocional, a desregulação emocional e menores índices de saúde mental. Deste resultado, sobressai a pertinência do investimento na promoção do bem-estar psíquico e aquisição de estratégias de coping adaptativas providenciado por peritos.
The health-disease process is often framed by intense emotional responses that require the nurse to share the shared emotionality experienced. The aim of this study is to explore the emotionality of a cancer survivor, with the perspective of three domains which are considered related in terms of theoretical knowledge and empirical assumptions: mental health evaluation, positive psychology, and psychooncology. In order to acquire skills in the area of specialization in Mental Health Nursing and Psychiatry, interventions were developed in three contexts where clients' emotional vulnerability is indelible: Psychiatry Internment Service, Psychiatric Day Hospital, and Oncology Rehabilitation External Consultation. Pursuing the constructivist logic, it was tried to resort to the methodology of problem-solving in a real situation, to support the emotional work in Watson's Human Care theory and Neuman's Conceptual Systems Model and, at the same time, to establish learning in reflexivity. In addition, to obtain masters' skills, a research study was designed to explore the personal meaning attributed to the cancer experience and to evaluate the influence of this perception on the emotional responses and the ability to adapt to the course of the disease. In particular, we intended to analyze the experience of distress, the psychological adjustment and the measurement of psychopathological states in the cancer survivor. We carried out a quantitative exploratory study between July and September 2015 and involved the selection of an intentional non-probabilistic sample consisting of fifty (50) adults in remission. Data collection assumed the application of a sociodemographic and clinical questionnaire and three (3) self-evaluation tools: Emotional Thermometer (adapted), Difficulties in Emotion Regulation Scale and Mental Health Inventory. From a critical and interpretive perspective, it was possible to identify disruptive emotional responses compatible with a significant degree of distress in a few more than a third of the participants, due to the impact of cancer and the treatment side-effects. We also showed that there is a correlation between the distress, emotional dysregulation and lower rates of mental health. From this result, the importance of investing in the promotion of psychic well-being and acquisition of adaptive coping strategies provided by experts stands out.