Publication year: 2023
Esta pesquisa tem como objetivo geral analisar a interface da identidade profissional da
enfermeira com o processo de trabalho no campo da saúde mental e como objetivos
específicos:
conhecer o processo de trabalho das enfermeiras que atuam no campo da saúde
mental; apontar os determinantes de contexto da identidade profissional da enfermeira no
campo da saúde mental e seu processo de trabalho e identificar a interface da identidade
profissional da enfermeira com o processo de trabalho no campo da saúde mental. Trata-se de
uma pesquisa qualitativa na modalidade de estudo de caso múltiplo. A coleta de dados
ocorreu mediante entrevista semiestruturada com 10 enfermeiras trabalhadoras de seis
Centros de Atenção Psicossocial no Município de Salvador – Brasil e análise documental de
dados extraídos a partir de prontuários. Os dados foram processados pelo software N-vivo 10
e analisados de acordo com a análise temática. A execução da pesquisa foi autorizada por
meio de parecer consubstanciado pelo Comitê de Ética e Pesquisa com Seres Humanos da
Universidade Estadual de Feira de Santana (CAAE: 95311918.4.0000.0053). Foram
identificadas quatro categorias de análise:
(1)Identidade Profissional da Enfermeira do Campo
da Saúde Mental;(2)Processo de Trabalho da Enfermeira no Campo da Saúde Mental; (3)A
interface da identidade profissional da enfermeira com o processo de trabalho no CAPS; e
(4)Análise documental dos prontuários. Os achados deste estudo apontaram que a percepção
que as enfermeiras têm de si apresenta forte relação com as representações históricas
vinculadas à origem do campo da enfermagem ligadas à religião cristã e ao papel de gênero
atribuído às mulheres, o que as situa em lugar desprivilegiado quando inseridas em uma
estrutura social marcada por relações de poder no universo do trabalho. Dentre os achados
significativos acerca da caracterização dos seus processos de trabalho, destaca-se a ausência
de métodos para sistematização e/ou planejamento do cuidado, ancorados em referenciais
teórico-práticos, seja da clínica psicossocial ou do seu próprio núcleo de saber, o que tende a
reforçar a indefinição de atribuições tradicionalmente vivenciada pela categoria, condição esta
que interfere sobre o reconhecimento de uma identidade profissional própria. As atividades de
prevenção e acompanhamento de comorbidades clínicas e cuidados com as medicações foram
as atribuições reconhecidas pelas enfermeiras como próprias de seu núcleo profissional, sendo
este achado congruente com a análise documental dos prontuários, o que reforça uma
perspectiva de cuidado pautada no modelo biomédico. O dispositivo da referência técnica em
saúde mental foi observado como elemento de autorreconhecimento das enfermeiras em seu
contexto de trabalho, sendo observada a compreensão de uma identidade profissional diluída,
acentuada pela dificuldade que essas profissionais têm de distinguirem seu próprio saber-fazer
neste cenário de atuação. Os resultados apontam para a necessidade de investimentos dos
Conselhos, Associações, Sindicatos de Enfermagem e espaços formativos para discussão e
construção de um dispositivo de produção de identidades que opere a favor da valorização e
reconhecimento profissional das enfermeiras que atuam no campo da saúde mental. (AU)