VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER: UM ESTUDO DE REPRESENTAÇÕES SOCIAIS COM POLICIAIS MILITARES

Publication year: 2023

A violência é um fenômeno sócio-histórico complexo que afeta a população mundial, com destaque para as mulheres que vivenciam a violência doméstica. Conhecida também como violência de gênero, trata-se de um fenômeno social, estruturado em desrespeito aos direitos e agressões às mulheres. Diante disso, a organização e luta dos movimentos de mulheres e feministas resultaram em marcos históricos como a implementação da Lei 11.340/2006 “Maria da Penha” e da Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres, com vistas a envolver os vários setores da sociedade e os serviços, dentre os quais o realizado pela polícia. Esse estudo tem como objetivo apreender a estrutura das Representações Sociais (RS) de policiais militares acerca da violência doméstica contra a mulher. Trata-se de um estudo qualitativo, fundamentado na abordagem estrutural da Teoria das Representações Sociais (TRS). Participaram do estudo 110 policiais militares de uma unidade operacional da Polícia Militar, Salvador, Bahia. Para a coleta das evocações foi aplicado o Teste de Associação Livre de Palavras (TALP) para os estímulos indutores: violência; violência doméstica contra a mulher; e o que as outras pessoas pensam sobre a violência doméstica contra a mulher; e, entrevistas. O corpus com as evocações e entrevistas foram processadas no programa adaptado do Ensemble de programmes permettant L'analyse des Evocations (openEvoc) e no software Interface de R pourles Analyses Multidimensionnelles de Textes et de Questionnaires (IRaMuTeQ), resultando no quadro de quatro casas e na árvore máxima de similitude, respectivamente. Sequencial as 22 entrevistas foram submetidas a análise lexical e classificação hierárquica descendente (CHD). O estudo respeitou os princípios Éticos e Bioéticos, conforme as resoluções nº 466/2012 e 510/2016. Os participantes eram, em sua maioria soldados, adultos jovens, negros e com formação superior. As representações sociais de policiais militares objetivam a violência doméstica como decorrente do “machismo” e “dependência” que por sua vez gera: “desrespeito”, “poder”; os elementos “álcool” e “drogas” emergem como precipitadores da violência; “agressão”, “covardia”, “medo” e “impunidade” expressam os conceitos e sentimentos identificados nas práticas dos atendimentos das ocorrências pelos/as policiais. Para o grupo investigado, a estrutura da representação social da violência doméstica está ancorada em termos que remetem a uma construção social e cultural histórica centrado no machismo, e que ocasionam situações que dificultam o enfrentamento da violência pelas mulheres. As falas das policiais indicam que os atendimentos às mulheres pelos policiais são permeados por pensamentos e condutas machistas. As classes de palavras identificadas na CHD apontam que os filhos/as que crescem nessa vivência tendem a reproduzir o comportamento dos pais, e o medo sentido pelas mulheres dificulta a denúncia do agressor e o enfrentamento da violência. Nesse sentido, a maioria dos policiais homens referem que no cotidiano dos atendimentos adotam postura imparcial e realizam a condução do casal à delegacia. O estudo poderá direcionar ações educativas e políticas públicas para aperfeiçoamento de policiais militares referente a questões de gênero e (res)significação dos atendimentos, favorecendo a melhoria dos serviços e redução dos agravos à saúde das mulheres.(AU)