Autonomia reprodutiva intergeracional em mulheres quilombolas
Intergenerational reproductive autonomy in quilombola women

Publication year: 2021

A autonomia reprodutiva é definida como o poder que cada mulher tem para decidir e controlar questões associadas ao seu corpo, no que concerne ao uso de contraceptivos, a gravidez e à maternidade. As práticas sexuais e reprodutivas são imbricadas por questões socioeconômicas, culturais, assimetrias de gênero por raça/etnia e por padrões patriarcais, diversificando pelas crenças e conhecimentos vividos em época e contextos históricos diferentes. Esta pesquisa teve como objetivos analisar a autonomia reprodutiva em mulheres quilombolas e os fatores intervenientes na transmissão intergeracional entre mães e filhas; analisar às práticas reprodutivas de mulheres quilombolas e fatores intervenientes em diferentes gerações; verificar a associação entre a autonomia reprodutiva e características sociodemográficas, sexual e reprodutiva em mulheres quilombolas e verificar associação entre o perfil de saúde sexual e reprodutiva e as características sociodemográficas em mulheres quilombolas. Trata-se de estudo analítico do tipo transversal. A pesquisa foi desenvolvida em comunidades quilombolas em município do sudoeste baiano com 160 mulheres (80 mães e 80 filhas) em idade reprodutiva de 18 a 49 anos. Optou-se por um estudo de amostragem estratificada Os dados foram coletados por meio de entrevistas, utilizou-se dois instrumentos: questionário semiestruturado da Pesquisa Nacional de Saúde adaptado para o estudo e a Escala de Autonomia Reprodutiva. A análise dos dados foi realizada por procedimentos da estatística descritiva para expressar os resultados como frequências, medidas de tendência central, dispersão e valores mínimos e máximos. Com o intuito de avaliar a transmissão intergeracional da autonomia reprodutiva e das características sexuais e reprodutivas, cada filha foi pareada a sua mãe. Para comparação das características sociodemográficas, utilizou-se os testes qui-quadrado para as variáveis qualitativas, e o teste Mann-Whitney, para as variáveis quantitativas. Foram respeitados os aspectos éticos dispostos na Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde. Os resultados evidenciaram que a vida das mulheres quilombolas é marcada por dificuldade de informações e de acesso aos serviços de saúde o que implica em limitações de práticas e planejamento reprodutivo. O grupo das mães apresentou maior frequência de mulheres casadas ou com companheiro (66,2%), que trabalhavam atualmente (51,2%) maior renda (mediana = 358 reais) e maior frequência de realização de exame citopatológico de colo uterino (72,5%). Por outro lado, as filhas apresentaram mais anos de estudo (10,5 anos), maior frequência de participação em grupo de planejamento familiar (37,2%) e uso de método contraceptivo (80,5%). As mulheres quilombolas apresentaram elevada autonomia reprodutiva, principalmente nos domínios tomada de decisão (2,33) e ausência de coerção (3,40), sendo que mulheres solteiras ou sem companheiro apresentaram maior autonomia reprodutiva geral (3,07), comparadas as mulheres casadas ou com companheiros (2,93). A transmissão intergeracional entre mães e filhas quilombolas, foi identificada sobretudo nos domínios ausência de coerção e comunicação. Os resultados oferecem elementos para a construção de estratégias para melhoria da qualidade de vida e da saúde sexual e reprodutiva garantidos quando as políticas públicas garantirem liberdades individuais considerando as dimensões sociais que essas mulheres quilombolas estão inseridas de modo a reconhecê-las pelas singularidades. (AU)