Saúde mental, resiliência, religiosidade/espiritualidade e adesão à terapia antirretroviral em pessoas vivendo com HIV/aids
Mental health, resilience, religiosity/spirituality and adherence to antiretroviral therapy in people living with HIV/AIDS

Publication year: 2022

A infecção por HIV/aids continua a representar um problema mundial de saúde pública. Durante as últimas décadas, a Terapia Antirretroviral (TARV) levou a uma diminuição relevante da morbi-mortalidade relacionada à doença. Para aprimoramento da adesão à TARV e, por consequência, da qualidade de vida das pessoas vivendo com HIV/aids (PVHA), a resposta à epidemia deve combinar intervenções biomédicas e também de saúde mental. Diante desse panorama, o objetivo geral desta Tese foi investigar as associações entre saúde mental, resiliência, religiosidade/espiritualidade (R/E) e adesão à TARV em PVHA. A partir de duas revisões integrativas de literatura, foi evidenciado que a R/E é uma dimensão psicossocial que pode ser preditora da adesão à TARV, assim como a resiliência. Contudo, poucos estudos avaliaram essas dimensões em PVHA e, principalmente, sua relação com a adesão. Posteriormente, foram realizados três estudos empíricos com 237 PVHA atendidas em um serviço de referência para doenças infecciosas de uma cidade de médio porte de Minas Gerais, Brasil, utilizando os seguintes instrumentos: (a) Questionário estruturado para a caracterização dos participantes; (b) Escala de Depressão, Ansiedade e Estresse - DASS-21; (c) Escala de Avaliação de Resiliência - EAR; (d) Índice de Religiosidade de Duke - DUREL; (e) Spirituality Self Rating Scale - SSRS e (e) Questionário para a avaliação da adesão ao tratamento antirretroviral - CEAT-VIH. O primeiro estudo foi descritivo, com o objetivo de conhecer o perfil de PVHA em termos do acesso aos cuidados do HIV, da adesão à TARV e da saúde mental durante a pandemia da COVID-19, enquanto o segundo e o terceiro trabalho foram inferenciais, com o objetivo de investigar os fatores associados à adesão à TARV e à saúde mental das PVHA, respectivamente. O perfil predominante foi de mulheres (51,5%), com idade média de 46,9 anos (DP + 12,2), pessoas pretas e pardas (67%), com baixa renda familiar (65,4%), baixa escolaridade (62,8%), CD4 maior que 500 cels/mm³ (59,9%) e carga viral indetectável (82,3%). Foram considerados aderentes 72,6% dos entrevistados e 33,3% apresentaram adoecimento emocional. Os resultados evidenciaram que o valor do CD4, o fator de competência pessoal avaliado pela escala de resiliência e o uso de bebidas alcoólicas nos últimos seis meses tiveram um impacto positivo sobre a adesão, enquanto que a maior frequência do uso de bebidas alcoólicas, o uso de drogas ilícitas, a carga viral detectável e sintomas de ansiedade aumentaram as chances da não adesão. Já a satisfação com a imagem corporal, o apoio social dirigido a questões emocionais, o fator de resiliência de persistência diante das dificuldades, a religiosidade não organizacional e a presença de morbidades tiveram um impacto positivo sobre a saúde mental, enquanto que o uso de drogas ilícitas, ser mulher, o estresse vivenciado na pandemia pela COVID-19 e o uso de medicações psiquiátricas aumentaram as chances de adoecimento emocional. Esses achados podem contribuir para o planejamento e a implementação de intervenções baseadas em evidências nos serviços de saúde para o aprimoramento da adesão aos antirretrovirais e cuidado em saúde mental das PVHA, com destaque para os fatores protetivos em saúde representados pela R/E e pela resiliência.
The HIV/AIDS infection continues to represent a global public health problem. Over the past decades, Antiretroviral Therapy (ART) has led to a significant decrease in morbidity and mortality related to the disease, in addition to affecting the transmission of the virus by means of its suppression. These benefits, however, require adherence to treatment. To improve adherence and, consequently, the quality of life of people living with HIV/AIDS (PLWHA), the response to this epidemic must combine biomedical and mental health interventions. Given this scenario, the overall objective of this thesis was to investigate the associations between mental health, resilience, religiosity/spirituality (R/S) and adherence to ART in PLWHA. Based on two integrative literature reviews, it was evidenced that R/S is a psychosocial dimension that can be a predictor of adherence to ART, as well as resilience. However, few studies have assessed these dimensions in PLWHA and, particularly, their association with adherence. Subsequently, three empirical studies were conducted with 237 PLWHA treated in a renown service for infectious diseases in a medium-sized city in the countryside of Minas Gerais, Brazil, using the following instruments: (a) Structured questionnaire for the characterization of the participants; (b) Depression, Anxiety and Stress Scale - DASS-21; (c) Resilience Appraisal Scale - RAS; (d) Duke University Religion Index - DUREL; (e) Spirituality Self Rating Scale - SSRS and (e) Questionnaire for the assessment of adherence to antiretroviral treatment - CEAT-VIH. The first study was descriptive, aiming to know the profile of PLWHA in terms of their access to HIV care, ART adherence and mental health during the pandemic of COVID-19, while the second and third studies were inferential, aiming to investigate the factors associated with ART adherence and mental health of PLWHA, respectively.The predominant profile was of women (51.5%), mean age 46.9 years (SD + 12.2), black and brown people (67%), with low family income (65.4%), low education (62.8%), CD4 greater than 500 cells/mm³ (59.9%) and undetectable viral load (82.3%). Were considered adherent 72.6% of the interviewees and 33.3% showed emotional distress. The results showed that the CD4 value, the personal competence factor appraised by the resilience scale, and the use of alcoholic beverages in the last six months had a positive impact on adherence, while the higher frequency of alcoholic beverages use, use of illicit drugs, detectable viral load, and anxiety symptoms increased the chances of non-adherence. On the other hand, satisfaction with body image, social support directed to emotional issues, resilience factor, persistence in the face of difficulties, non-organizational religiosity and the presence of morbidities had a positive impact on mental health, while the use of illicit drugs, being a woman, the stress experienced in the COVID-19 pandemic and the use of psychiatric medications increased the chances of emotional illness. These findings may contribute to the planning and implementation of evidence-based interventions in health services to improve antiretroviral adherence and mental health care for PLWHA, with emphasis on the protective health factors represented by R/S and resilience.