Cultura de segurança do paciente: elementos que influenciam a percepção dos profissionais de saúde Título equivalente
Publication year: 2018
A segurança do paciente, como dimensão da qualidade do cuidado em saúde, é tema de destaque no mundo. Os danos causados durante a assistência constituem-se um grave problema de saúde pública, com significativas implicações de morbimortalidade e qualidade de vida aos pacientes, além de afetar negativamente a imagem das instituições e dos profissionais de saúde. O maior desafio para a transformação do sistema vigente é a mudança cultural do paradigma punitivo para uma cultura de segurança. Nesta perspectiva, o objetivo deste estudo foi analisar a cultura de segurança do paciente percebida pelos profissionais de saúde e os elementos que influenciam esta percepção em uma instituição hospitalar. Foi delineado como pesquisa de métodos mistos caracterizando-se pelo desenho sequencial explanatório onde a primeira etapa foi quantitativa para identificação do status da cultura mediante aplicação do Hospital Survey on Patient Safety Culture e, na sequência a etapa qualitativa que explorou os resultados iniciais e os elementos que influenciam a percepção dos profissionais utilizando-se a técnica de grupo focal. A pesquisa foi realizada em um hospital geral de Porto Alegre, de abril a outubro de 2017, e a amostra constituída por 618 profissionais assistenciais e de apoio técnico administrativo para a primeira etapa e 10 assistenciais de nível superior para os dois encontros de grupo focal. A análise dos resultados foi sequencial, sendo os dados quantitativos e as informações qualitativas analisadas separadamente, num primeiro momento, e posteriormente submetidos à uma análise integrada. Os resultados evidenciaram uma cultura fragilizada, com sete dimensões consideradas como áreas frágeis para segurança do paciente, sendo a mais crítica “respostas não punitivas aos erros” com índice de respostas positivas de 29,0%, seguida da “passagem de plantão ou de turno e transferências” (32,6%), “trabalho em equipe entre unidades” (36,8%), “adequação de profissionais” (44,2%), “abertura da comunicação” (48,7%), “percepção geral da segurança do paciente” (49,2%) e “retorno da informação e comunicação sobre o erro” (49,9%). Profissionais de nível superior, especialmente médicos, têm uma percepção mais fortalecida, com significância estatística (p<0,05), quando comparados com os de nível técnico nas dimensões “trabalho em equipe dentro das unidades”, “expectativas sobre seu líder imediato e ações promotoras da segurança do paciente” e “aprendizado organizacional e melhoria contínua”. A emergência foi o setor que evidenciou os índices mais elevados de respostas positivas. Elementos relacionados à organização do trabalho (processos burocratizados, mal desenhados e descoordenados, decisões regionais, falhas de comunicação) somados aos elementos da gestão de pessoas (gradientes de hierarquia, sobrecarga, alta rotatividade, pressão por produção, punição, falta de respeito e empatia) e judicialização foram apontados pelo grupo focal como contribuintes para a percepção fragilizada da cultura de segurança e a liderança, como elemento que influencia positivamente as dimensões fortalecidas no serviço de emergência. Os resultados encontrados são consistentes e refletem a realidade das instituições de saúde no mundo. É compreensível que os avanços para a disseminação da cultura de segurança do paciente sejam desafiadores, contudo é imperativo a efetiva mobilização dos profissionais, gestores, governantes, educadores, pesquisadores, pacientes e sociedade, a fim de consolidar uma cultura construtiva nos sistemas de saúde onde todos serão beneficiados.
Patient safety, as a dimension of quality of health care, is a subject of prominence in the world. The damage caused during the assistance constitute a serious public health problem, with significant implications of morbidity and quality of life for patients, in addition to negatively affect the image of the institutions and health professionals. The greatest challenge for the transformation of the current system is the cultural change from the punitive paradigm to a culture of security. In this perspective, the aim of this study was to analyze the patient safety culture perceived by health professionals and the factors that influence this perception in a hospital institution. It was outlined as a research of mixed methods characterized by sequential explanatory drawing where the first step was quantitative to identify the status of culture through the application of the Hospital Survey on Patient Safety Culture and, following the qualitative step that explored the initial results and the elements that influence the perception of professionals using the focal group technique. The research was conducted in a general hospital of Porto Alegre, from April to October of 2017, and the sample consisted of 618 healthcare professionals and administrative support for the first stage and 10 senior care assistants for the two meetings of the focal group. The analysis of results was sequential, being the quantitative data and qualitative information analyzed separately, at first, and subsequently submitted to an integrated analysis.
The results showed a weakened culture, with seven dimensions considered fragile areas for patient safety, being the most critical "nonpunitive responses to errors" with an index of positive responses from 29.0%, followed by the "handoffs and transitions" (32.6%), "teamwork across units" (36.8%), "staffing" (44.2%), "Communication openness" (48.7%), "management support for patient safety" (49.2%) and "Feedback and communication about errors" (49.9%). Upper-level professionals, especially physicians, have a stronger perception, with statistical significance (p<0.05), when compared with the technical level in the dimensions "teamwork within units", "supervisor/manager expectations and actions promoting patient safety" and "organizational learning and continuous improvement". The emergency was the sector that showed the highest rates of positive responses. Elements related to work organization (bureaucratic, poorly designed and uncoordinated, regional decisions, communication failures) added to the elements of people management (hierarchy gradients, overload, high turnover, pressure for production, punishment, lack of respect and empathy) and judicialization were pointed out by the focal group as contributors to the fragile perception of safety culture and leadership, as an element that influences positively the strengthened dimensions in emergency service. The results are consistent and reflect the reality of health institutions in the world. It is understandable that the advances for the dissemination of patient safety culture are challenging, however it is essential to effectively mobilize professionals, managers, leaders, educators, researchers, patients and society, in order to consolidate a constructive culture in health systems where everyone will benefit.