Ocorrência de pneumonia associada à ventilação mecânica em pacientes com SARS-COV-2 em unidades de terapia intensiva de Curitiba

Publication year: 2023

Resumo:

O SARS-CoV-2, identificado em janeiro de 2020, disseminou-se rapidamente, dando origem a uma pandemia em escala mundial que vitimou mais de 700 mil pessoas no Brasil e 6 milhões no mundo. A Pneumonia Associada à Ventilação Mecânica (PAV) foi frequente entre os pacientes críticos. Este estudo objetivou analisar a ocorrência de PAV em pacientes com SARS-CoV-2 internados em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para adultos de Curitiba e os fatores de risco associados. Coorte, retrospectiva, multicêntrica, que incluiu quatro hospitais com UTI. Foram elegíveis pacientes com idade = 18 anos, com diagnóstico de COVID-19, admitidos em 2020 nas UTIs participantes, e que fizeram uso de ventilação mecânica (VM) por período >48 horas. As associações e comparações entre a variável dependente e independentes foram testadas, e as variáveis que apresentaram potenciais associações (p<0,05) foram incluídas no modelo de regressão logística multivariada. Foram triados 1354 prontuários, e incluídos 330 pacientes. A amostra é composta por 192 (58,18%) do sexo masculino, mais de 80% com idade superior a 40 anos e 71,51% (236) com múltiplas comorbidades. Dispneia, tosse e dessaturação foram os sintomas mais prevalentes. Mais de 50% dos participantes evoluíram com IRAS e 243 (73,64%) evoluíram com óbito. Um terço dos pacientes apresentaram pelo menos um episódio de PAV durante sua estadia na UTI, com densidade de incidência de 34,97 casos por 1000 dias de VM, 67,57% (75) com >7 dias de VM. Dos microrganismos causadores de PAV, 42,37% (50) eram multirresistentes, com predominância de bactérias gramnegativas (61,32%).

Os fatores associados a maiores chances de PAV na análise bivariada foram:

Índice de Massa Corporal (IMC) entre 25 e 29,9, hospital de admissão H1, dispneia, tempo de internação na UTI, prona e maior número de pronações, lesão por pressão, uso de pancurônio e aspirado traqueal positivo. Para a análise multivariada mantiveram-se as associações para: prona (OR= 3,77), IMC 25-29 kg/m² (OR= 4,76), lesão por pressão (OR= 4,41), tempo de internamento na UTI (OR= 1,06), aspirado traqueal positivo antes da PAV (OR= 5,41) e dispneia (OR= 3,80). Os indivíduos com COVID-19 apresentam alto risco de PAV, o que impacta no aumento da mortalidade (OR = 2,18), e requer o cumprimento estrito das medidas de controle e prevenção de infecção, e implementação de medidas preventivas adicionais. Múltiplos fatores aumentam as chances dos pacientes com COVID-19 desenvolverem PAV: sobrecarga de trabalho nas instituições de saúde, posição de prona, tempo prolongado de UTI, infusão de múltiplas drogas, uso de dispositivos invasivos e, em especial, a imobilidade no leito, traduzida nesta pesquisa pela presença de lesão por pressão, uso de pancurônio e prona. Espera-se que o conhecimento inédito e original produzido, sistematizado e discutido amplamente nesse estudo impacte a realidade do cuidado ao paciente crítico, e inspire o aprofundamento na investigação sobre o tema. O estudo é passível de ser replicado em outras realidades, e suas evidências são elegíveis para compor estudos de revisão sistemática, que subsidiem a discussão de novos achados sobre PAV no mundo, bem como contribuir na produção de novas evidências na temática.

Abstract:

SARS-CoV-2, identified in January 2020, spread rapidly, giving rise to a global pandemic that killed more than 700,000 people in Brazil and 6 million worldwide. Ventilator-Associated Pneumonia (VAP) was common among critically ill patients. This study aimed to analyze the occurrence of VAP in patients with SARS-CoV-2 admitted to an adult Intensive Care Unit (ICU) in Curitiba and the associated risk factors. Retrospective, multicenter cohort, which included four hospitals with ICU. Patients aged = 18 years, diagnosed with COVID-19, admitted in 2020 to the participating ICUs, and who used mechanical ventilation (MV) for a period >48 hours were eligible. Associations and comparisons between the dependent and independent variables were tested, and the variables that showed potential associations (p<0.05) were included in the multivariate logistic regression model. 1354 medical records were screened, and 330 patients were included. The sample consists of 192 (58.18%) males, more than 80% over 40 years of age and 71.51% (236) with multiple comorbidities. Dyspnea, cough and desaturation were the most prevalent symptoms. More than 50% of participants developed HAIs and 243 (73.64%) died. One third of patients had at least one episode of VAP during their stay in the ICU, with an incidence density of 34.97 cases per 1000 days of MV, 67.57% (75) with >7 days of MV. Of the microorganisms that cause VAP, 42.37% (50) were multidrug-resistant, with a predominance of gram-negative bacteria (61.32%).

The factors associated with greater chances of VAP in the bivariate analysis were:

Body Mass Index (BMI) between 25 and 29.9, admission hospital H1, dyspnea, length of stay in the ICU, prone and greater number of pronations, pressure injury , use of pancuronium and positive tracheal aspirate. For the multivariate analysis, the associations were maintained for: prone (OR= 3.77), BMI 25-29 kg/m² (OR= 4.76), pressure injury (OR= 4.41), length of stay in the ICU (OR= 1.06), positive tracheal aspirate before VAP (OR= 5.41) and dyspnea (OR= 3.80). Individuals with COVID-19 are at high risk of VAP, which impacts increased mortality (OR = 2.18), and requires strict compliance with infection control and prevention measures, and implementation of additional preventive measures. Multiple factors increase the chances of patients with COVID-19 developing VAP: work overload in healthcare institutions, prone position, prolonged ICU time, infusion of multiple drugs, use of invasive devices and, in particular, immobility in bed, translated in this research by the presence of pressure injury, use of pancuronium and prone position. It is expected that the new and original knowledge produced, systematized and widely discussed in this study will impact the reality of care for critically ill patients, and inspire further research on the topic. The study can be replicated in other realities, and its evidence is eligible to be part of systematic review studies, which support the discussion of new findings on VAP in the world, as well as contributing to the production of new evidence on the subject.