Análise de eventos adversos a medicamentos provenientes do sistema on-line brasileiro e o impacto global da pandemia da COVID-19 nas notificações
Analysis of adverse drug events from the Brazilian online system and the global impact of the COVID-19 pandemic on notifications

Publication year: 2023

Justificativa:

Os eventos adversos a medicamentos são uma das principais causas de mortes evitáveis nos sistemas de assistência à saúde e este problema se tornou ainda mais desafiador durante a pandemia da COVID-19, devido à falta de evidências robustas acerca de medicamentos efetivos para o tratamento da doença. Ademais, uma das principais barreiras para a compreensão aprofundada deste fenômeno é a problemática da subnotificação, especialmente em países de baixa e média renda.

Objetivos:

Analisar o perfil e a ocorrência de eventos adversos a medicamentos notificados por profissionais da saúde, pacientes e empresas/fabricantes no sistema nacional de informação on-line (NOTIVISA) nas cinco regiões brasileiras e avaliar o impacto da pandemia de COVID-19 nas notificações de eventos adversos a medicamentos às autoridades sanitárias em âmbito global.

Método:

Para o alcance dos objetivos propostos, foram realizados dois estudos. O primeiro estudo consistiu em um estudo epidemiológico e foram analisadas as notificações de eventos adversos a medicamentos inseridos no banco de dados do sistema brasileiro NOTIVISA, no período de 18 março de 2014 a 04 de dezembro de 2018, por duas pesquisadoras de forma independente. Procedeu-se à análise descritiva das variáveis desfecho e preditoras de eventos adversos a medicamentos, características dos pacientes, região brasileira, grau do dano e classificação do erro de medicação.

O segundo estudo envolveu revisão sistemática da literatura conduzida nas bases de dados eletrônicas:

Medline, Embase, Cinahl, Scielo e literatura cinzenta, utilizando os Descritores em Ciências da Saúde (DECs) e Medical Subject Heading (MeSH). A revisão foi relatada de acordo com as diretrizes PRISMA-2020 e a seleção dos estudos, bem como a extração de dados, foram realizadas por três revisores independentes. O risco de viés foi verificado por meio da ferramenta ROBINS-I.

Resultados:

Um total de 6.289 notificações foram analisadas e foi verificado um crescente aumento em seu número até o ano de 2016; posteriormente, queda gradual das notificações de eventos adversos a medicamentos foi detectada no período de 2017 e 2018. Houve maior frequência de notificações na região sudeste (48%) e os casos envolveram, predominantemente, pessoas do sexo feminino (52,1%), na faixa etária dos 18 a 65 anos (56,8%) e com neoplasias (22,9%). Além disso, 96% ocorreram durante a prestação de cuidados por um profissional, mais de 78% transcorreram no período diurno e 43% resultaram em danos leves. Na revisão sistemática, foram rastreados 6.014 artigos; destes, 1.863 duplicatas foram removidas. Após triagem, 4.143 foram excluídos por não atenderem aos critérios de inclusão e oito estudos foram elegíveis para a análise qualitativa. Não foram encontradas publicações na literatura cinzenta que contemplassem os critérios de inclusão propostos para esta revisão. Os estudos contemplam notificações de eventos adversos a medicamentos oriundas de 13 países, envolveram pacientes com idade média de 55 anos e sem comorbidades. Cinco estudos evidenciam que o número de notificações aumentou durante a pandemia contraponto outras duas publicações que apontam maior número de notificações antes da pandemia. Ademais, em um estudo, o resultado foi inconclusivo. Em dois estudos, foi identificado alto risco de viés.

Conclusão:

Os resultados do estudo demonstram que as notificações de EAM aumentaram durante a pandemia. No período pré-pandêmico houve destaque para a região sudeste conhecida com umas mais desenvolvidas, levando a danos leves principalmente vinculados ao erro de administração do medicamento comprometendo a segurança do paciente. Se faz necessário o reforço da importância no monitoramento e da real descoberta do motivo ao qual levou ao aumento nas notificações durante o período pandêmico a fim de melhorias nos processos de saúde e capacitação profissional para obter zero danos evitáveis.

Justification:

Adverse drug events are one of the leading causes of preventable deaths in health care systems and this problem has become even more challenging during the pandemic of COVID-19, due to the lack of robust evidence about effective drugs for treating the disease. Moreover, one of the main barriers to a thorough understanding of this phenomenon is the problem of underreporting, especially in low- and middle-income countries.

Objectives:

To analyze the profile and occurrence of adverse drug events reported by health professionals, patients, and companies/manufacturers in the national online notification system (NOTIVISA) in the five Brazilian regions and to evaluate the impact of the COVID-19 pandemic on adverse drug events notifications to health authorities globally.

Method:

To achieve the proposed objectives, two studies were carried out. The first study consisted of an epidemiological study and the notifications of adverse drug events entered in the database of the Brazilian NOTIVISA system from March 18, 2014, to December 04, 2018, were analyzed. Only cases involving adverse drug events were screened and this process was carried out by two researchers independently. We performed a descriptive analysis of the outcome and predictor variables of adverse drug events, patient characteristics, Brazilian region, degree of harm, and medication error classification.

The second study involved a systematic literature review conducted in the electronic databases:

Medline, Embase, Cinalh, Scielo and grey literature, using Health Sciences Descriptors (HSC) and Medical Subject Heading (MeSH). The review was reported according to PRISMA-2020 guidelines and the selection of studies as well as data extraction were performed by three independent reviewers. The risk of bias was checked using the ROBINS-I tool.

Results:

A total of 6.289 notifications were analyzed and an increasing increase in their number was verified until the year 2016, subsequently, gradual decrease in adverse drug events notifications was detected in the period of 2017 and 2018. There was a higher frequency of notifications in the southeast region (48%) and the cases predominantly involved females (52.1%), in the age group 18 to 65 years (56.8%) and with neoplasms (22.9%). In addition, 96% occurred during the provision of care by a professional, more than 78% occurred during daytime hours, and 43% resulted in minor injuries. In the systematic review, 6,014 articles were screened; of these, 1,863 duplicates were removed. After screening, 4,143 were excluded for not meeting the inclusion criteria and eight studies were eligible for qualitative analysis. No publications were found in the gray literature that met the inclusion criteria proposed for this review. The studies contemplate notifications of adverse drug events from 13 countries, involved patients with a mean age of 55 years and without comorbidities. Five studies show that the number of notifications increased during the pandemic, as opposed to two other publications that indicate a higher number of notifications before the pandemic. Moreover, in one study, the result was inconclusive. In two studies, a high risk of bias was identified.

Conclusion:

The results of the study show that ADE notifications increased during the pandemic. In the pre-pandemic period, there was an emphasis on the southeastern region known as the most developed, leading to mild damage mainly linked to drug administration error, compromising patient safety. It is necessary to reinforce the importance of monitoring and the real discovery of the reason that led to the increase in notifications during the pandemic period in order to improve health processes and professional training to obtain zero preventable damage.