A COVID-19 na mídia: a construção da representação social da doença na pandemia
COVID-19 in the media: the construction of the social representation of the disease in the pandemic
Publication year: 2023
Este estudo objetivou analisar as representações sociais da COVID-19 construídas durante a pandemia na mídia jornalística. Trata-se de uma pesquisa documental, exploratória, descritiva, com abordagem metodológica quali-quantitativa, pautada na Teoria das Representações Sociais. No que se refere ao método, foi escolhido como cenário o jornal O Globo.
A seleção das matérias para constituição da amostra obedeceu aos seguintes critérios:
um domingo e um dia da semana sorteados a cada mês, gerando um total de 421 matérias para análise. O período temporal da coleta de dados foi de 11 de março de 2020 até junho de 2021.Os dados foram submetidos às seguintes análises:
1) análise da linha do tempo da COVID-19; 2) análise estatística das seguintes variáveis: mês, ano, período da pesquisa, seção, espaço que ocupa na página, zona de visualização, tamanho da matéria, capa do jornal, gêneros jornalísticos e gêneros dos sistemas de comunicação de Moscovici; 3) análise lexical do corpus constituído pelo conjunto das matérias selecionadas.Os resultados da análise estatística foram:
maior número de matérias publicadas no 1º semestre de 2021 (39,7%), as quais, vistas em conjunto com a linha do tempo, mostram um crescimento expressivo do número de mortes, início da vacinação da COVID-19 no Brasil, crise em Manaus e CPI da COVID-19. Em relação à localização na página, observou-se maior prevalência em superior completa (30,2%), quanto a zona de visualização, 52% apareceram na zona principal. Quanto ao tamanho da matéria, 57,5% foram classificadas como média, mostrando que o jornal deu destaque para matérias relacionadas à pandemia. Sobre os gêneros jornalísticos, apurou-se 60,8% para informativo e os gêneros de comunicação de Moscovici, ressaltou-se a Difusão com 62,9%. Nos resultados da análise do material textual observou-se seis classes lexicais que foram discutidos a partir de três contextos: a) as dimensões sociais e econômicas da COVID-19. A crise macroeconômica e a taxa de mortalidade se apresentaram interligadas e evidenciou-se o viés econômico do jornal, culpabilizando o auxílio emergencial pelo déficit das contas públicas; b) aos fatores constituintes do enfrentamento da COVID-19. Avultou-se as percepções da população sobre a pandemia, o medo da morte por parte dos atores envolvidos com o ambiente hospitalar, cuja internação remetia à expectativa do agravamento e à morte. O enfrentamento das mudanças geradas pela pandemia e suas consequências para as rotinas cotidianas e a crise financeira vivida pela população. Neste sentido, observou-se que as formas de lidar com a pandemia foram diferenciadas, visto que o país se encontrava inserido em um quadro de enorme desigualdade social. E por fim, a vacina que foi abordada pela visão biomédica, com um silenciamento do jornal em relação à saúde pública e c) a política e seus representantes na pandemia de COVID-19 que englobou o momento político do Brasil, no qual destacou-se indícios de negligência por parte de representantes políticos. Conclui-se que as representações sociais veiculadas pelo jornal carrearam o seu viés econômico neoliberal, obscurecendo a desigualdade social, assim como a saúde pública, através do silenciamento sobre o Programa Nacional de Imunizações e o Sistema Único de Saúde.
This study aimed to analyze the social representations of COVID-19 constructed during the pandemic in the journalistic media. This is a documental, exploratory, descriptive research, with a quali-quantitative methodological approach, based on the Theory of Social Representations. With regard to the method, the newspaper O Globo was chosen as the scenario.