Publication year: 2023
Introdução:
As violências podem atingir de maneiras diversas os diferentes seguimentos populacionais. As mulheres negras têm maior probabilidade de sofrerem violência institucional obstétrica e podem apresentar maiores desafios para iniciar e manter o aleitamento materno. Objetivos:
Identificar a ocorrência da violência institucional obstétrica entre as participantes; identificar o aleitamento materno exclusivo; verificar a existência de associação entre a violência obstétrica e o quesito raça/cor; verificar a existência de associação entre a violência obstétrica e a duração do aleitamento materno exclusivo e; verificar a existência de associação entre o aleitamento materno exclusivo e a raça/cor autorreferida, para as mulheres que sofreram violência institucional obstétrica. Material e método:
Trata-se de um estudo observacional, transversal, descritivo e analítico, que teve a coleta de dados realizada de forma online, através das mídias sociais no período de novembro de 2020 a fevereiro de 2021. A amostra foi definida por conveniência, tendo como critério de inclusão: mulheres que estavam com seis meses pós-parto, que tinham acesso a mídias sociais com uso de smartphone e que aceitaram o convite online para a pesquisa; e os critérios de exclusão foram: mulheres com filhos que necessitavam de cuidados especiais para amamentação, com patologias que impediam a amamentação e com deficiência auditiva, visual ou cognitiva. Para a coleta de dados foram utilizados três instrumentos:
o primeiro sobre os dados de identificação e caracterização das participantes, o segundo foi o Questionário de Avaliação de Violência no Parto, e o terceiro sobre amamentação. Para análise dos dados foi utilizado o software R, versão 4.0.4 e considerado o nível de significância 5% (p<0,05). O estudo foi aprovado por Comitê de Ética em Pesquisa vinculado à Comissão Nacional de Ética em Pesquisa. Resultados:
Participaram do estudo 241 mulheres com idade média de 31,97, a maioria brancas, pós-graduada, com religião, exercendo trabalho remunerado fora do lar, com companheiro e casa própria. Em sua maioria provenientes da região sudeste, recebendo de 4 até 20 salários mínimos e recebendo ajuda nos cuidados para com a criança. A maioria das mulheres, 71,37%, estava em aleitamento exclusivo. A maioria das mulheres, 88,80%, foram identificadas como tendo sofrido violência institucional obstétrica, dentre elas 28,97% eram negras e 71,03% não negras. Não houve associação significativa entre as variáveis violência obstétrica e raça/cor (p=0,8811). Dentre as que sofreram violência obstétrica (n=214), 70,09% estavam realizando aleitamento exclusivo; para a associação dessas duas variáveis não houve resultado estatisticamente significativo (p=0,15662). Para essas mulheres, a associação entre aleitamento materno exclusivo e a variável raça/cor não apresentou resultado estatisticamente significativo (p=0,822). Verificou-se ainda que, para as mulheres que sofreram violência, houve associação significativa entre a raça/cor e o nível de escolaridade (p<0,001) e a renda (p<0,001). Conclusões:
A violência institucional obstétrica foi expressiva no presente estudo e, embora os resultados não tenham apresentado associação com o aleitamento materno e com a raça/cor, sabe-se que essa violência, assim como o racismo, tem influência deletéria na saúde e segurança materna. Assim, sugerem-se novas pesquisas que considerem a ótica racial e a interseccionalidade, além de educação continuada para os profissionais que prestam assistência às mulheres, afim de melhorar os indicadores de saúde e de promover uma maternidade segura e um processo de aleitamento materno favorável
Introduction:
The violence can affect different population segments in different ways. With regard to the population of black women, they are more likely to suffer institutional obstetric violence. In addition, black women may have greater challenges in initiating and maintaining breastfeeding. Objectives:
To identify the occurrence of institutional obstetric violence among the participants; identify exclusive breastfeeding; verify the existence of an association between institutional obstetric violence and the race/skin color element; verify the existence of an association between institutional obstetric violence and the duration of exclusive breastfeeding; and to verify the existence of an association between exclusive breastfeeding and self-reported race/skin color, for women who suffered institutional obstetric violence. Material and method:
This is an observational, cross-sectional, descriptive and analytical study, which had data collected online, with the recruitment of participants through social media, from November 2020 to February 2021. The sample was defined by convenience, having as inclusion criteria: women who were six months postpartum, who had access to social media using a smartphone and who accepted the online invitation to the survey; and the exclusion criteria were: women with children who needed special care for breastfeeding, with pathologies that prevented breastfeeding and with hearing, visual or cognitive impairment. Three instruments were used for data collection:
the first on the identification data and characterization of the participants; the second was the Questionnaire for the Assessment of Violence during Childbirth ("Questionário de Avaliação de Violência no Parto"), and the third was about breastfeeding. For data analysis, the R software, version 4.0.4, was used and a significance level of 5% (p<0.05) was considered. The study was approved by the Research Ethics Committee linked to the National Research Ethics Committee. Results:
The study included 241 women with an average age of 31.97 years, most of them white, post-graduated, religious, working outside the home, with a partner and own house. Mostly from the southeast region, receiving from 4 to 20 minimum wages and receiving help with child care. Most women, 71.37%, were exclusively breastfeeding at the time of data collection. Most women, 88.80%, were identified as having suffered institutional obstetric violence, among them 28.97% were black and 71.03% non-black. There was no significant association between the institutional obstetric violence and race/skin color variables (p=0.8811). Among the women who suffered obstetric violence (n=214), 70.09% were exclusively breastfeeding; for the association of these two variables, there was no statistically significant result (p=0.15662). For these women, the association between exclusive breastfeeding and the race/skin color variable did not show a statistically significant result (p=0.822). It was also found that, for women who suffered violence, there was a significant association between race/skin color and education level (p<0.001) and income (p<0.001). Conclusions:
Institutional obstetric violence was significant in the present study and, although the results did not show an association with breastfeeding and the race/skin color of the participants, it is known that this violence, as well as racism, has a deleterious influence on maternal health and security. Thus, further research on the subject is suggested, which considers the racial perspective and intersectionality, in addition to continuing education for professionals who assist women, in order to improve health indicators, and promote safe motherhood and a favorable breastfeeding process