Validação da escala de medo da COVID-19 em adultos com depressão resistente ao tratamento: um estudo de enfermagem
Publication year: 2024
Cerca de um terço das pessoas com transtornos depressivos não modifica seu estado psíquico após o uso de dois ou mais medicamentos, sendo classificadas com depressão resistente ao tratamento. Nessas pessoas, medos intensos podem agravar a depressão, especialmente em cenários ameaçadores como uma pandemia. Portanto, é crucial validar instrumentos psicométricos que facilitem a detecção de reações às pandemias, como a COVID-19, nessa população. O objetivo principal deste estudo é validar a Escala de Medo da COVID-19 em adultos com depressão resistente ao tratamento. Trata-se de um estudo transversal e analítico, realizado em uma instituição psiquiátrica pública no Rio de Janeiro, envolvendo usuários diagnosticados com depressão resistente ao tratamento que atenderam aos critérios de elegibilidade para participar da pesquisa. Foi realizado um cálculo amostral com parâmetros de precisão de 5% e um nível de confiança de 95%, resultando em uma amostra ideal de, no mínimo, 103 indivíduos. O estudo teve uma taxa de adesão de 79,5%, resultando em 140 participantes. A coleta de dados ocorreu de agosto de 2021 a janeiro de 2023, de forma remota, utilizando a Escala de Medo da COVID-19, o Inventário de Depressão de Beck e um questionário sociodemográfico, via formulário on-line. A análise descritiva dos dados foi feita no SPSS®, enquanto a Análise Fatorial Confirmatória foi realizada no software Jeffreys’s Amazing Statistics Program (JASP), utilizando o método robusto DWLS, com a colaboração de um psicometrista. Os resultados da validação indicaram que a Escala de Medo da COVID-19 é uma ferramenta confiável e válida para medir o medo da COVID-19 em adultos com depressão resistente ao tratamento, ampliando seu escopo de utilização. A análise estatística revelou que os itens da escala apresentaram boas cargas fatoriais, demonstrando excelente aderência à variável latente. A unidimensionalidade do instrumento foi confirmada, eliminando a possibilidade de dupla saturação. Os resultados mostraram associações significativas entre a depressão severa e o medo intenso da COVID-19 em algumas variáveis sociodemográficas, indicando que certos grupos de usuários com depressão resistente foram mais vulneráveis ao medo da COVID-19 e ao agravamento da depressão durante a pandemia. Além disso, os participantes com medo intenso da COVID-19 apresentaram níveis mais elevados de sintomas depressivos, sugerindo uma interação entre o medo da COVID-19 e a gravidade da depressão. O medo intenso refletiu mentalmente e fisicamente em sintomas de ansiedade e ataques de pânico. Os cuidados de enfermagem pós-pandemia, à luz da Teoria da Maré, podem criar um sistema de suporte que identifica e lida com esses riscos, e pode apoiar e empoderar a pessoa no enfrentamento da depressão de forma proativa. Assim, os resultados desta tese permitem aos enfermeiros fazer a prospecção de ações em saúde mental para estabelecer relações mais significativas e colaborativas com os usuários, facilitando a construção de uma rede de apoio que trabalhe ativamente para reduzir a agravamento da depressão no período pós pandemia.
About one-third of people with depressive disorders do not change their psychological state after using two or more medications, being classified as having treatment-resistant depression. In these individuals, intense fears can exacerbate depression, especially in threatening scenarios such as a pandemic. Therefore, it is crucial to validate psychometric instruments that facilitate the detection of reactions to pandemics, such as COVID-19, in this population. The main objective of this study is to validate the COVID-19 Fear Scale in adults with treatment-resistant depression. This is a cross-sectional and analytical study conducted in a public psychiatric institution in Rio de Janeiro, involving users diagnosed with treatment-resistant depression who met the eligibility criteria to participate in the research. A sample calculation was performed with 5% precision parameters and a 95% confidence level, resulting in an ideal sample of at least 103 individuals. The study had an adherence rate of 79.5%, resulting in 140 participants. Data collection took place from August 2021 to January 2023, remotely, using the COVID-19 Fear Scale, the Beck Depression Inventory, and a sociodemographic questionnaire via an online form. Descriptive data analysis was done in SPSS®, while Confirmatory Factor Analysis was performed in Jeffreys’s Amazing Statistics Program (JASP) software, using the robust DWLS method, with the collaboration of a psychometrician. The validation results indicated that the COVID-19 Fear Scale is a reliable and valid tool for measuring fear of COVID-19 in adults with treatment-resistant depression, expanding its scope of use. The statistical analysis revealed that the scale items presented good factor loadings, demonstrating excellent adherence to the latent variable. The unidimensionality of the instrument was confirmed, eliminating the possibility of double saturation. The results showed significant associations between severe depression and intense fear of COVID-19 in some sociodemographic variables, indicating that certain groups of patients with treatment-resistant depression were more vulnerable to fear of COVID-19 and worsening depression during the pandemic. Additionally, participants with intense fear of COVID-19 showed higher levels of depressive symptoms, suggesting an interaction between fear of COVID-19 and the severity of depression. Intense fear manifested mentally and physically in symptoms of anxiety and panic attacks. Post-pandemic nursing care, in light of the Tidal Model, can create a support system that identifies and addresses these risks, and can support and empower individuals to proactively cope with depression. Thus, the results of this thesis allow nurses to prospect mental health actions to establish more meaningful and collaborative relationships with patients, facilitating the construction of a support network that actively works to reduce the worsening of depression in the post-pandemic period.