O Hospital do Câncer IV como lócus da atualização do capital científico dos enfermeiros em cuidados paliativos oncológicos no Brasil (2005-2006)
Publication year: 2023
A partir da segunda metade do século XX, a morte passou a ter um lugar no ambiente hospitalar e, posteriormente, houve uma mudança da sua compreensão como etapa vital. Foi na década de 1960 que o movimento hospice moderno foi apresentado ao mundo por Cicely Saunders, onde o ser humano era priorizado em sua plenitude, respeitando-se sua dignidade e autonomia no processo de morte e incluindo-se a família nesse processo. Esses cuidados foram recomendados pela Organização Mundial de Saúde através do publicações relacionadas a implementação de programas de cuidados paliativos para todos os países do mundo, em todos os níveis de atenção em saúde, como parte de ações governamentais prioritárias, podendo ser adaptados de acordo com a situação regional, demográfica e recursos financeiros. Frente ao exposto, indo ao encontro dos princípios determinados pela Organização Mundial de Saúde no que tange às políticas, portarias e publicações nacionais e internacionais, o Hospital do Câncer IV, unidade exclusiva de cuidados paliativos do Instituto Nacional do Câncer, fortalecia-se no propósito de investir e desenvolver uma assistência qualificada, ampliada e com foco na qualidade de vida do ser humano. Assim, 2004 foi o ano de início de grandes investimentos institucionais relacionadas ao estabelecimento de diretrizes, desenvolvimento de estratégias, rotinas assistenciais e gerenciais, e investimentos voltados ao conhecimento técnico e científico na especialidade.
Os objetivos deste trabalho foram:
Descrever as circunstâncias que determinaram a necessidade de atualização do capital científico dos enfermeiros do HCIV em Oncologia Paliativa; Analisar as estratégias empreendidas pelos enfermeiros do HCIV para atuarem em conformidade com a literatura internacional, nacional e as diretrizes da Organização Mundial de Saúde sobre o tema dos cuidados paliativos; e Discutir os efeitos simbólicos dessas estratégias para o reconhecimento da importância dos cuidados paliativos de enfermagem oncológica no HCIV e no Brasil.Metodologia:
trata-se de um estudo histórico- social, de abordagem qualitativa, na perspectiva da História do Tempo Presente, cujo cenário foi o Hospital de Câncer IV. As fontes históricas foram diretas (escritas: relatório, manuais, norma técnica, entre outros; e depoimentos orais temáticos com sete participantes) e indiretas (artigos científicos e livros sobre o tema). Os resultados evidenciaram que os enfermeiros se encontravam inseridos em um universo designado como campo científico e empreenderam eficazes estratégias que resultaram no fortalecimento dos saberes, transformações no cuidado de enfermagem e no processo de ensino aprendizagem. As estratégias foram fundamentadas na literatura científica internacional e nacional, referências da Organização Mundial de Saúde e do St. Christopher’s Hospice, além do apoio do Grupo de Humanização do hospital e de uma aliança pactuada com a direção da instituição.Foram evidenciadas nesta pesquisa:
a ampliação do Projeto de Capelania hospitalar e da Sala do Silêncio; os investimentos em cursos de pós-graduação; a capacitação profissional e cursos de atualização técnico-científica, realizados na unidade e em instituições externas nacionais e internacionais; a participação em eventos nacionais e internacionais como organizadores, palestrantes e ouvintes; a atuação no processo de ensino-aprendizagem na Residência de Enfermagem; e o desenvolvimento e implantação do projeto Day Care – Espaço Curiosação em prol da humanização do cuidado. Concluiu-se que os enfermeiros, detentores de importante volume de capital científico, respaldados pela ciência e inseridos em uma rede de apoio profissional, contribuíram para que a unidade atendesse aos objetivos iniciados em 2004, dando continuidade aos projetos e implantação de novos. Desse modo, se destacaram, alcançaram significativos avanços no cuidado de enfermagem a pacientes oncológicos em cuidados paliativos, e seus familiares, à medida que atuavam como líderes e se fortaleciam como porta-vozes legítimos de um discurso autorizado nesse campo nacional.
From the second half of the 20th century onwards, death began to find its place in the hospital environment, leading to a subsequent shift in understanding it as a vital stage. It was in the 1960s that the modern hospice movement was introduced to the world by Cicely Saunders, prioritizing the holistic care of the human being, respecting their dignity and autonomy in the process of dying, and including the family in this process. These care practices were endorsed by the World Health Organization through publications recommending the implementation of palliative care programs for all countries globally, across all levels of healthcare, as part of prioritized government actions, adaptable according to regional, demographic, and financial circumstances. In line with the principles set forth by the World Health Organization regarding national and international policies, regulations, and publications, the Cancer Hospital IV, an exclusive palliative care unit of the National Cancer Institute, strengthened its commitment to investing in and developing qualified, comprehensive care with a focus on enhancing the quality of life for individuals. Consequently, 2004 marked the onset of significant institutional investments related to establishing guidelines, developing strategies, clinical and managerial routines, and investments geared towards enhancing technical and scientific knowledge in the field.