Publication year: 2022
Introdução:
Apesar dos avanços relativos ao atendimento da Parada Cardiorrespiratória (PCR), a sobrevida desses eventos é baixa principalmente em ambiente extra-hospitalar. Dados da literatura quanto a esses eventos ainda são escassos no Brasil, muito variados ao redor do mundo e indicam mau prognóstico para a PCR por causas traumáticas. Além disso, conhecer as características dos pacientes, da PCR e dos atendimentos, associados com mais alta chance de sobreviver com desfechos favoráveis, traz informações fundamentais para a assistência. Objetivos:
Caracterizar os pacientes, a PCR, o atendimento, os desfechos, o tempo de sobrevivência e as condições neurológicas dos atendidos por unidades de suporte avançado à vida e submetidos a Ressuscitação Cardiopulmonar (RCP); identificar fatores associados à sobrevida pré/intra-hospitalar e a desfechos favoráveis um ano após PCR; além de comparar os desfechos das PCR por causas externas e clínicas. Método:
Estudo de coorte, realizado em três etapas. Nas duas primeiras, os dados foram coletados nos registros das fichas do Serviço de Atendimento Móvel de Urgências (SAMU) e prontuários dos pacientes hospitalizados. Na terceira etapa, a condição neurológica dos sobreviventes à hospitalização foi avaliada pela Escala de Categoria de Performance Cerebral (CPC). A casuística foi composta por vítimas de PCR extra-hospitalar atendidos pelas unidades de suporte avançado do SAMU de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, de 2016 a 2018. Testes de associação foram utilizados e as razões de chances calculadas. O teste log-rank foi empregado na comparação de curvas de sobrevivência. Resultados:
Foram analisados 852 pacientes: 20,66% foram hospitalizados e 4,23% sobreviveram até a transferência ou alta. Desses sobreviventes, 58,33% apresentaram desfecho favorável (CPC 1 ou 2) um ano após PCR. As melhores chances de sobrevida até hospitalização foram dos pacientes mais jovens, vítimas de causas externas, com cardiopatia ou sem neuropatias como comorbidade, com PCR presenciada, submetidos a desfibrilação, intubação, menor tempo de RCP e sem recidiva de PCR extra-hospitalar. Pacientes com ritmo inicial chocável tiveram maior chance de melhores desfechos em todas as fases de seguimento e o local de atendimento inicial foi associado à sobrevida extra/intra-hospitalar. Os pacientes submetidos à desfibrilação, que não necessitaram de medicação endovenosa e intubação no préhospitalar, tiveram mais chance de sobrevivência à hospitalização, assim como aqueles sem recidiva de PCR extra/intra-hospitalar. Durante a hospitalização, pacientes que alcançaram ECG>13 apresentaram maior possibilidade de sobrevida hospitalar e desfecho favorável (CPC 1 ou 2) um ano após PCR. Alterações pupilares e pressão arterial média na avaliação hospitalar inicial tiveram associação com sobrevida hospitalar. Não houve diferença no tempo de sobrevivência hospitalar entre as PCR por causas externas e clínicas; no entanto, o óbito préhospitalar foi mais frequente entre as PCR por causa clínica, enquanto as mortes na internação tiveram maior frequência entre as causas externas. Conclusões:
A sobrevivência à hospitalização após PCR extra-hospitalar foi baixa; porém, a maioria dos sobreviventes à alta alcançaram desfecho favorável após um ano desse evento. Algumas características dos pacientes, da PCR e do atendimento ampliaram as chances de desfechos desejáveis e devem ser consideradas nos esforços para aprimoramento do atendimento à PCR extra-hospitalar.
Introduction:
Despite the development in the care of Cardiopulmonary Arrest (CPA), survival after these events is low, especially in an extra-hospital setting. Literature data on these events are still scarce in Brazil, widely variable around the world and indicates a poor prognosis for CPA due to traumatic causes. In addition, the knowledge of the characteristics of patients, CPA and care, associated with a higher chance of surviving with favorable outcomes, provides essential information for care. Objectives:
To characterize patients, CPA, care, outcomes, survival time and neurological conditions of those assisted by advanced life support units and undergoing Cardiopulmonary Resuscitation (CPR); identify factors associated with pre/inhospital survival and favorable outcomes one year after CPA; compare the outcomes of CPA due to external and clinical causes. Method:
Cohort study, carried out in three stages. In the first two stages, data were collected from the records of the Mobile Emergency Care Service (SAMU) and medical records of hospitalized patients. In the third stage, the neurological condition of hospitalization survivors was assessed using the Cerebral Performance Category Scale (CPC). The sample consisted of out-of-hospital CPA victims treated by SAMU advanced support units in Campo Grande, Mato Grosso do Sul, from 2016 to 2018. Association tests were used and odds ratios were calculated. The log-rank test was used to compare survival curves. Results:
A total of 852 patients were analyzed: 20.22% were hospitalized and 4.23% survived until transfer or discharge. Considering these survivors, 58.33% had a favorable outcome (CPC 1 or 2) one year after CPA. Younger patients, victims of external causes, with heart disease or without comorbid neuropathies, with witnessed CPA, undergoing defibrillation, intubation, shorter CPR time and no recurrence of extra-hospital CPA presented the best chances of survival until hospitalization. Patients with a shockable initial rhythm had a greater chance of better outcomes at all follow-up phases, and the place of initial care was associated with outof-hospital/in-hospital survival. Patients undergoing defibrillation, who did not require intravenous medication and intubation in the pre-hospital setting, had a greater chance of surviving to hospitalization, as well as those without recurrence of extra/in-hospital CPA. During hospitalization, patients who achieved GCS>13 had a greater possibility of in-hospital survival and a favorable outcome (CPC 1 or 2) one year after CPA. Pupil changes and mean arterial pressure in the initial hospital assessment were associated with in-hospital survival. There was no difference in hospital survival time between CPA from external and clinical causes; however, pre-hospital death was more frequent among CPAs due to clinical causes, while in-hospital deaths were more frequent among external causes. Conclusions:
Survival to hospitalization after out-of-hospital CA was low; however, most discharge survivors achieved a favorable outcome one year after this event. Some characteristics of patients, CPA and care increased the chances of desirable outcomes and should be considered in efforts to improve outof-hospital CPA care.