Rede de atenção à saúde materno-infantil: relação entre a adequação do pré-natal e a demanda de atendimentos de urgência e emergência obstétrica no serviço público municipal de São Paulo
Maternal and child health care network: relationship between the adequacy of prenatal care and the demand for urgent and emergency obstetric care in the public health system of São Paulo
Publication year: 2021
A organização da assistência na conformação de rede de cuidados à saúde, que tem sido direcionada pela Rede Cegonha no âmbito da saúde materna e infantil, tem como objetivo proporcionar melhores acesso, cobertura e qualidade dos serviços ofertados à população. O presente estudo tem como objetivo avaliar essa rede de atenção à saúde materno-infantil com base na relação entre a adequação do pré-natal e a demanda de atendimentos em serviços de urgências e emergências obstétricas. O estudo foi conduzido no município de São Paulo, envolvendo seis unidades básicas de saúde (UBS) e uma unidade de pronto atendimento obstétrico da rede pública, no período de fevereiro de 2017 a março de 2020. Foi empregado um delineamento observacional analítico, longitudinal prospectivo, utilizando abordagem quantitativa. A amostra foi composta pela população de mulheres grávidas, independentemente da idade materna, idade e trimestre gestacional, que realizaram acompanhamento de pré-natal nas UBS. As participantes foram acompanhadas desde a abertura do pré-natal até o término da gestação por contatos telefônicos e por aplicativo, além de contatos presenciais nas unidades de atendimento. As informações coletadas por meio de um formulário estruturado foram inseridas em um banco de dados analisado pelo programa IBM® SPSS® Statistics, versão 25. Foram realizadas análise estatística descritiva, bivariada não ajustada e multivariada ajustada, considerando nível de significância alfa () igual a 0,05 (intervalo de confiança de 95%). O estudo teve aprovação ética nos comitês pertinentes às instituições envolvidas na pesquisa. Foram investigadas 224 mulheres, do início do seguimento gestacional até o desfecho da gravidez, que tinham em média 25,9 anos de idade, variando de 14 a 41 anos, sendo que 12,5% delas tinham 18 anos ou menos. A maioria das participantes declarou cor da pele preta ou parda (73,7%) e era casada ou vivia uma parceria em união estável (75,4%). A média mensal da renda familiar foi de R$1.932,46 (desvio padrão de R$1.429,97), sendo que 30,9% das famílias viviam com R$1.000,00 ou menos. A maioria (56,7%) das mulheres não exercia atividade remunerada e a média de anos de estudo formal sem repetição foi de 9,9 anos, equivalendo ao ensino fundamental completo. A história clínica revelou que 70,1% das mulheres iniciaram o pré-natal com gestação de baixo risco. O pré-natal global foi adequado para 42,4% das participantes. Foram verificados 1.067 atendimentos em serviço hospitalar, com média de 4,75 atendimentos por gestante, e o atendimento em pronto-socorro obstétrico resultou em internação hospitalar em 21% dos casos. A variável adequação do pré-natal foi estatisticamente relevante na regressão (p 0,043) com razão de chance (OR) 2,2 vezes maior de as mulheres que tiveram um acompanhamento inadequado no pré-natal buscarem o serviço hospitalar de forma inoportuna. Os resultados encontrados no presente estudo permitem concluir que, para o grupo investigado, a inadequação do acompanhamento pré-natal teve relação com a procura inoportuna nos atendimentos em pronto-socorro obstétrico, com prejuízos para a rede de atenção à saúde materno-infantil, uma vez que isso sobrecarrega um ponto de atenção da rede assistencial com uma demanda que poderia ser solucionada em outro âmbito de cuidado.
The organization of assistance in the formation of a healthcare network, which has been directed by Rede Cegonha in the field of maternal and child healthcare, aims to provide better access, coverage and quality of services to the population. The objective of the present study is to evaluate this network of maternal and child healthcare based on the relationship between the adequacy of prenatal care and the demand for emergency obstetric services. The study was carried out in the city of São Paulo, involving six primary healthcare units and an emergency obstetric care unit of the public health network, from February 2017 to March 2020. An analytical, prospective longitudinal observational study design was used, following a quantitative approach. The cohort consisted of a sample of pregnant women, regardless of maternal age and gestational trimester, who underwent prenatal care at the primary healthcare unit. Participants were monitored from the beginning of prenatal care until the end of pregnancy by telephone and mobile application, as well as face-to-face meetings at the service units. Data collected via a structured questionnaire was entered into a database and were analysed using the IBM® SPSS® Statistics program, version 25. Descriptive statistical analysis, unadjusted bivariate and adjusted multivariate analysis were performed, considering a level of significance alpha () of 0.05 (95% confidence interval). The study received ethical approval by the relevant committees of the institutions involved in the research. The investigation followed a total of 224 women, from the beginning of the gestational care until the end of pregnancy. The cohort average age was 25.9 years old, with individuals ranging from 14 to 41 years old, and 12.5% of them of 18 years old or younger. Most participants declared their skin colour to be black or brown (73.7%) and were married or in a stable partnership (75.4%). The average monthly family income was R$1,932.46 (standard deviation of R$1,429.97), with 30.9% of the families living on R$1,000.00 or less. The majority (56.7%) of the women did not have a paid job and the average number of years of formal study, excluding repetition, was 9.9 years,corresponding to a complete primary education. The clinical history revealed that 70.1% of the women started prenatal care with a low-risk pregnancy. Global prenatal care was deemed adequate for 42.4% of participants. A total of 1.067 hospital consultations were recorded, with an average of 4.75 visits per pregnant woman and with the obstetric emergency assistance resulting in admission in 21% of cases. The variable adequacy of prenatal care was statistically relevant in the regression (p 0.043) with an odds ratio (OR) 2.2 times greater for women who had inadequate prenatal care to seek inappropriate hospital service. The results from this study allow us to conclude that, for the investigated cohort, the inadequacy of prenatal care was related to the inappropriate search for care in obstetric emergency rooms, with damage to the maternal and child healthcare network, as it overloads a point of care in the network with a demand that could be addressed to another level of care.