Violência simbólica entre adolescentes nas relações afetivas do namoro e a rede de apoio social
Symbolic violence among adolescents in emotional dating relationships and the social support network

Publication year: 2015

Este estudo tem como objetivo compreender como os adolescentes significam suas relações afetivas e situações de conflito/violência no namoro, bem como a participação da rede de apoio social em seu enfrentamento. O cenário em que essa violência eclode é caracterizado pela vigência da ideologia machista entremeando as relações de gênero, tendo como resultante a naturalização da dominação masculina como forma de violência simbólica. A relevância do presente estudo é trazer subsídios para elaborar estratégias que considerem o contexto de socialização dos adolescentes, abrindo espaços para novas articulações, capazes de recompor as fronteiras entre papéis, funções e qualidades para cada gênero, modificando as atuais ideologias. O referencial teórico-metodológico utilizado é inspirado na teorização de Pierre Bourdieu sobre poder, violência e dominação simbólica; incorporando-se as referências conceituais de gênero de Joan Scott, muito imbricadas no processo de análise. A abordagem qualitativa possibilitou apreender a complexidade do fenômeno estudado, e o recorte empírico foi constituído por 19 adolescentes, de ambos os sexos, que se encontravam na faixa etária de 15 a 19 anos, cursando o 2º ano do ensino médio de uma escola estadual de Ribeirão Preto/SP, no ano letivo de 2014. Para a construção dos dados, foram utilizados o grupo focal, a entrevista e o Diagrama de Escolta Social, respeitando-se os aspectos éticos para o desenvolvimento de pesquisas com seres humanos e iniciando a construção dos dados somente após a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto/USP. Por meio do método de interpretação de sentidos, baseado na perspectiva hermenêutico-dialética, deu-se a análise dos dados e depreenderam-se três categorias temáticas centrais com seus respectivos núcleos de sentido: Os significados das relações afetivas dos adolescentes (Os sentidos de ficar e namorar e suas relações com ciúme, gênero e violência simbólica; Isolamento social - "se você não pode o outro também não pode"), (Des)igualdades de gênero no namoro: da (des)construção da violência simbólica à expressão de outras formas de violência (Posicionamento da mulher frente à dominação masculina; As situações de violências física, sexual e psicológica no namoro: quem realmente é o agressor?), A (re)estruturação da família e sua função na rede de apoio social do adolescente (O mosaico familiar do adolescente contemporâneo e a funcionalidade da família como rede de apoio; Participação da família nos processos sexuais e reprodutivos do adolescente; Violência intrafamiliar - naturalização). Entendemos que atuar sobre a origem da violência já no início dos relacionamentos dos adolescentes talvez seja a melhor forma de combatê-la ou minimizá-la.

Os desafios são muitos:

enfretamento de políticas, profissões e disciplinas historicamente setoriais, fragmentadas e parcializadas; enfrentamento dos modelos hegemônicos de gênero, fortemente naturalizados no senso comum; e a inclusão de adolescentes e famílias em um debate que envolve valores, intimidades e mudança de crenças. Apesar dos desafios, pretendemos instigar a reflexão e a discussão para o combate deste tipo de violência, visando ainda à democratização das relações de gênero e à prevenção da violência conjugal
This study aimed to understand how adolescents internalize their emotional relations and conflict/violence situations in dating relationships, as well as the participation of the social support network in coping with it. The scenario in which this violence breaks out is characterized by the force of sexist ideology interspersing gender relations, resulting in the male domination being considered natural and as a form of symbolic violence. The relevance of this study is to provide support to develop strategies that consider the context of socialization of the adolescents, creating room for new articulations able to restore the boundaries among roles, functions and qualities for each gender, modifying the current ideologies. The theoretical framework used is inspired by the theory of Pierre Bourdieu on power, violence and symbolic domination, incorporating the conceptual references of gender by Joan Scott, much intertwined in the analysis process. The qualitative approach enabled grasping the complexity of the phenomenon studied and the empirical design was made up of 19 adolescents, of both sexes, aged 15 to 19 years, attending the 2nd year of a public high school in the city of Ribeirão Preto, state of São Paulo, in the academic year of 2014. Focus group, interview and the Social Convoy Diagram were used for data collection, considering the ethical aspects for human research development and starting the data collection only after approval by the Research Ethics Committee of the University of São Paulo at Ribeirão Preto College of Nursing. Data analysis was carried out using the method of interpretation of meanings, based on the hermeneutic-dialectic perspective, and three central thematic categories were identified with their respective units of meaning: The meanings of the emotional relationships of adolescents (The meanings of making out and dating and their relationships with jealousy, gender and symbolic violence; Social isolation - "if you cannot the other also cannot"), Gender (in)equalities in dating relationships: from the (de)construction of symbolic violence to the expression of other forms of violence (Women's position in face of the male domination; Situations of physical, sexual and psychological violence in dating: who really is the aggressor?), Family (re)structuring and its role in adolescents' social support network (The family mosaic of contemporary adolescents and the functionality of the family as a support network; Family participation in adolescents' sexual and reproductive processes; Intra-family violence - naturalization). It is understood that acting on the source of violence at the beginning of adolescents' relationships may be the best way to fight or minimize it. Several challenges are recognized, such as the following: coping with policies, professions and subjects that are historically sectorial, fragmented and partial; confronting the hegemonic gender models, which are strongly considered as natural by the common sense; and the inclusion of adolescents and families in a debate that involves values, intimacy and changing beliefs. Despite the challenges, the study intends to instigate reflection and debate to combat this type of violence, also seeking the democratization of gender relations and the prevention of conjugal violence