Publication year: 2022
Introdução:
A pandemia da Coronavirus Disease 2019 (COVID-19) elevou o número de pacientes internados em Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Estudos mostram que a doença tem causado sobrecarga de trabalho para os profissionais de enfermagem. Entretanto, pouco se conhece sobre o impacto dessa sobrecarga e do dimensionamento da equipe na ocorrência de eventos adversos, o que justifica a relevância desta pesquisa. Objetivo:
Avaliar a associação entre carga de trabalho e número de pacientes por profissional de enfermagem e a ocorrência de eventos adversos em pacientes críticos com COVID-19 na UTI. Método:
Estudo observacional, retrospectivo, desenvolvido na UTI de um hospital público de Francisco Morato, São Paulo. A amostra foi composta por pacientes com idade >-12 anos, internados na UTI (por mais de 24 horas) em decorrência de COVID-19 no período de 01/04/20 a 31/05/21. A carga de trabalho de enfermagem foi mensurada pelo Nursing Activities Score (NAS). As variáveis independentes do estudo foram razão do escore NAS por profissional de enfermagem (RNP) e razão do número de pacientes por profissional de enfermagem (RPP). Os eventos adversos analisados, variáveis dependentes do estudo, foram infecção relacionada à assistência à saúde (IRAS), lesão por pressão e óbito na UTI. Os testes Brunner-Munzel, Wilcoxon-Mann-Whitney e regressão logística binária foram aplicados nas análises, com nível de significância de 5%. Resultados:
A casuística foi composta por 386 pacientes (59,59% do sexo masculino, idade média de 58,77 anos). Ventilação mecânica invasiva (65,80%) e uso de sedação/bloqueador neuromuscular (62,69%) foram as intervenções mais frequentes. Os valores médios do NAS, RNP e RPP foram 71,04, 140,36 e 1,62, respectivamente. A frequência de lesão por pressão (31,09%) superou a de IRAS (16,06%) na amostra e um total de 218 pacientes (56,48%) morreu na UTI, porcentagem superior à prevista pelo Simplified Acute Physiology Score 3 (SAPS 3), 38,31%. Os pacientes que tiveram IRAS, lesão por pressão ou morreram durante o tratamento intensivo apresentaram significativamente maiores valores de RNP que o grupo não acometido pelo evento. Cada unidade da RNP do dia do evento aumentou a chance de ocorrência de IRAS e lesão por pressão em 2,0% e 2,1%, respectivamente. Para óbito, cada unidade de RNP calculada 72 horas antes do evento aumentou a chance de morte em 1,9%. Não foi identificada associação entre RPP e a ocorrência de eventos adversos na amostra. Conclusão:
Elevada carga de trabalho por profissional de enfermagem influenciou a ocorrência de eventos adversos em pacientes com COVID-19 na UTI. Implicações para a prática clínica:
Os resultados evidenciam claramente a importância de se considerar a demanda de cuidados requerida pelos doentes críticos para o dimensionamento correto da equipe de enfermagem, garantindo a segurança do paciente com doença infectocontagiosa na UTI.
Introduction:
The Coronavirus Disease 2019 (COVID-19) pandemic has increased the number of patients admitted to the Intensive Care Unit (ICU). Studies show that the disease has caused high workload for nursing professionals. However, little is known about the impact of this high workload and the nursing staff sizing on the occurrence of adverse events, justifying the relevance of this study. Objective:
To assess the association between workload and number of patients per nursing professional and the occurrence of adverse events in critically ill patients with COVID19 in the ICU. Method:
An observational retrospective study developed in the ICU of a public hospital in Francisco Morato, São Paulo, Brazil. The sample consisted of patients aged >-12 years, admitted to the ICU between 04/01/20 and 05/31/21 due to COVID-19 and had length of ICU stay more than 24 hours. Nursing workload was measured by the Nursing Activities Score (NAS). The independent variables of the study were the ratio of the NAS score per nursing professional (RNP) and the ratio of the number of patients per nursing professional (RPP). The dependent variables of the study were adverse events, and included healthcare-associated infections (HAIs), pressure injury and death in the ICU. The Brunner-Munzel, Wilcoxon Mann-Whitney tests and binary logistic regression were applied in the analyses, with a significance level of 5%. Results:
The sample consisted of 386 patients (59.59% male, mean age of 58.77 years). Invasive mechanical ventilation (65.80%) and use of sedation/neuromuscular blockers (62.69%) were the most frequent interventions in patients. The mean values of NAS, RNP and RPP were 71.04, 140.36 and 1.62, respectively. The frequency of pressure injuries (31.09%) exceeded that of HAIs (16.06%) in the sample and a total of 218 patients (56.48%) died in the ICU, constituting a higher percentage than predicted by the Simplified Acute Physiology Score 3 (SAPS 3) of 38.31%. Patients who had HAI, pressure injury or died during intensive care had significantly higher RNP values than the group not affected by the event. Each RNP unit on the day of the event increased the chance of HAI and pressure injuries by 2.0% and 2.1%, respectively. Each RNP unit calculated 72 hours before death increased the chance of this event by 1.9%. No association was identified between RPP and the occurrence of adverse events in the sample. Conclusion:
High workload per nursing professional influenced the occurrence of adverse events in patients with COVID-19 in the ICU. Implications for clinical practice:
The results clearly show the importance of considering the care demand required by critically ill patients for correct nursing staff sizing, ensuring the safety of patients with infectious disease in the ICU.