(Co)construindo percursos de saúde familiar: vozes de pessoas trans, famílias e profissionais

Publication year: 2024

Enquadramento:

As pessoas Trans e suas famílias estão expostas ao preconceito e à discriminação, enquanto condicionantes bidirecionais dos diversos sistemas ecológicos, geradores de stress com impacto não negligenciável nos sistemas familiares e societais, onde os sistemas de saúde em geral e de saúde familiar em particular se inscrevem.

Objetivos:

Mapear dimensões relevantes na conceção de cuidados com as pessoas Trans, as suas famílias e equipa de saúde familiar; sintetizar sugestões de melhoria; encetar o processo de melhoria das práticas numa lógica de (co)construção e analisar o desenvolvimento de competências no âmbito do Estágio de Natureza Profissional (ENP).

Metodologia:

Estudo exploratório, descritivo, de abordagem qualitativa, norteado pelas guidelines propostas pelo Consolidated Criteria for Reporting Qualitative Research (COREQ) e pelos pressupostos da investigação-ação. Para a colheita de dados recorreu-se ao questionário sociodemográfico, entrevista e estratégias participativas. O tratamento e análise de dados foi realizado com recurso à análise de conteúdo.

Resultados:

Participaram 4 pessoas Trans, 3 elementos da família e 18 da equipa de saúde familiar (EQSF).

Dos discursos dos participantes emergiram 4 dimensões relevantes na conceção dos cuidados de saúde com pessoas Trans e com as suas famílias:

criação de espaço de partilha; escuta das vivências nos processos de afirmação da identidade de género (IG) Trans; exploração dos recursos familiares e reconhecimento das expetativas sobre o papel da equipa. Como sugestões de melhoria de cuidados evidenciaram-se o reconhecimento da diversidade de IG e capacitação da equipa de saúde familiar. A evidência produzida, consolidada pela realização da scoping review e pelas aprendizagens decorrentes de processos de (co)criação em ampla articulação com os referenciais teóricos, conformaram ações estruturantes do desenvolvimento da prática especializada em enfermagem de saúde familiar (ESF) baseada na evidência.

Conclusões:

Partindo das vozes e dos silêncios das pessoas Trans, famílias e profissionais, encetou-se um percurso, de descoberta de sentidos que coloca as pessoas e as famílias no centro dos cuidados, valoriza as experiências dos profissionais, a aprendizagem ao longo da vida e investe na produção e divulgação científica, basilares para a (co)construção do processo de cuidados.

Background:

Trans people and their families are exposed to prejudice and discrimination, as bidirectional conditioning factors of the various ecological systems that generate stress with a non-negligible impact on family and societal systems, where health systems in general and family health in particular are inscribed.

Objectives:

To map relevant dimensions in the design of health care for Trans people, their families and family health team; synthesize suggestions for improvement; to start the process of improving practices in a logic of (co)construction and to analyse the development of skills within the scope of the professional internship.

Methodology:

Exploratory, descriptive study with a qualitative approach, guided by the guidelines proposed by the Consolidated Criteria for Reporting Qualitative Research (COREQ) and by the assumptions of action research. For data collection, a sociodemographic questionnaire, interviews and participatory strategies were used. The data processing and analysis was carried out using content analysis.

Results:

4 Trans people, 3 family members and 18 family health team participated. From the participants' speeches, 4 relevant dimensions emerged in the design of health care for trans people and their families: creation of a space for sharing; listening to the experiences in the processes of affirmation of Trans gender identity (GI); exploitation of family resources and recognition of expectations about the team's role. As suggestions for improving care, the recognition of the diversity of GIs and the empowerment of the family health team were highlighted. The evidence produced, consolidated by the scoping review and the learning resulting from (co)creation processes in broad articulation with the theoretical frameworks, shaped structuring actions for the development of evidence-based specialized practice in family health nursing (FHS).

Conclusions:

Starting from the voices and silences of Trans people, families and professionals, a path of discovery of meanings was initiated that places people and families at the centre of care, values the experiences of professionals, lifelong learning, and invests in scientific production and dissemination, which are basic for the (co)construction of the care process.