Publication year: 2022
Introdução:
A parada cardiorrespiratória (PCR) é um problema de saúde pública mundial, devido à elevada prevalência e morbimortalidade associados ao evento. Há evidências na literatura de que a PCR é antecedida por sintomas prodrômicos que podem se manifestar de forma isolada ou concomitante (cluster). O estudo de sintomas prodrômicos da PCR pode ser guiado pela teoria dos sintomas desagradáveis (TDSD). Na TDSD os sintomas são influenciados por fatores fisiológicos, psicológicos e situacionais, ao mesmo tempo que influenciam desfechos dos indivíduos. Até onde se sabe, não há na literatura estudos que analisaram a associação entre fatores influenciadores e clusters de sintomas prodrômicos e a relação destes sintomas com a sobrevivência até a alta hospitalar ou óbito. Objetivo:
Analisar a sobrevivência até a alta hospitalar ou óbito segundo a presença de cluster de sintomas prodrômicos da PCR. Método:
Estudo longitudinal, retrospectivo, correlacional, com abordagem quantitativa. A amostra foi constituída dos indivíduos que sofreram PCR e foram atendidos no Complexo do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (CHC-UFPR) entre os anos 2010 e 2020. Foram excluídos os prontuários em que não havia a documentação de sintomas prodrômicos e aqueles que pertenciam a pessoas com diagnóstico de morte encefálica. Todos os dados foram coletados dos prontuários. As variáveis foram descritas por medidas de tendência central e dispersão, além de frequências. Os clusters de sintomas foram determinados por análise de correspondência múltipla e expertise clínica da pesquisadora. As associações entre fatores influenciadores e cluster de sintomas foram analisadas por meio do Teste Exato de Fisher e Qui Quadrado para as variáveis categóricas e pelo teste de Wilcoxon-Mann-Whitney para as variáveis numéricas. A análise de sobrevivência foi realizada por meio do método de Kaplan-Meier e para as comparações foi utilizado o teste Log-Rank. O nível de significância adotado no estudo foi de 5%. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos do CHC-UFPR. Resultados:
Foram incluídos 120 prontuários de indivíduos com idade média de 58,7 (DP=18,3) anos, sendo a maioria do sexo feminino (n=65; 54,2%). Foram identificados 22 sintomas prodrômicos e formaram-se três clusters. O cluster 1 foi identificado em 60 prontuários (50%). O cluster 2 foi observado em 22 prontuários (18,3%). Já o cluster 3 foi identificado em 65 prontuário (54,1%). O cluster 1 apresentou associação estatisticamente significativa com sexo feminino (p=0,006) e diabetes (p=0,014); o cluster 2 com sexo feminino (p=0,017) e estado civil casado (p=0,045); e o cluster 3 com ritmo de diagnóstico da PCR (p=0,011), etiologia da PCR (p=0,007) e diabetes (p=0,050). Observou-se diferença na sobrevivência até a alta hospitalar ou óbito apenas para os indivíduos com sintomas do cluster 2 (p=0,04). Conclusão:
Os sintomas prodrômicos da PCR ocorrem em cluster e estão associados a fatores influenciadores fisiológicos e situacionais. Indivíduos com cluster de sintomas relacionados à hipoperfusão tiveram menor tempo de sobrevivência até a alta hospitalar ou óbito.
Introduction:
Cardiac arrest (CA) is a public health problem worldwide, due to the high prevalence and morbidity and mortality associated with the event. There is evidence in the literature that CA is preceded by prodromal symptoms that may manifest in isolation or concomitantly (cluster). The study of prodromal symptoms of CA can be guided by the Theory of Unpleasant Symptoms (TOUS). In TOUS, symptoms are influenced by physiological, psychological and situational factors, while influencing individual outcomes. To the best of our knowledge, there are no studies in the literature that analysed the association between influencing factors and clusters of prodromal symptoms and the relationship between these symptoms and survival until hospital discharge or death. Objective:
To analyze survival until hospital discharge or death according to the presence of a cluster of prodromal symptoms of CA. Method:
Longitudinal, retrospective, correlational study with a quantitative approach. The sample consisted of individuals who suffered cardiac arrest and were treated at the Complexo do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (CHC-UFPR) between 2010 and 2020. Records in which there was no documentation of prodromal symptoms and those belonging to people diagnosed with brain death were excluded. All data were collected from medical records. The variables were described by measures of central tendency and dispersion, in addition to frequencies. Symptom clusters were determined by multiple correspondence analysis and the researcher's clinical expertise. The associations between influencing factors and cluster of symptoms were analyzed using Fisher's Exact Test and Chi-Square test for categorical variables and Wilcoxon-Mann-Whitney test for numerical variables. Survival analysis was performed using the Kaplan-Meier method and the Log-Rank test was used for comparisons. The significance level adopted in the study was 5%. The study was approved by the Ethics Committee for Research on Human Beings of CHC-UFPR. Results:
120 medical records of individuals with a mean age of 58.7 (SD=18.3) years were included, most of them female (n=65; 54.2%). Twenty-two prodromal symptoms were identified and three clusters were formed. Cluster 1 was identified in 60 medical records (50%). Cluster 2 was observed in 22 medical records (18.3%). Cluster 3 was identified in 65 medical records (54.1%). Cluster 1 showed a statistically significant association with female sex (p=0.006) and diabetes (p=0.014); cluster 2 with female sex (p=0.017) and married marital status (p=0.045); and cluster 3 with CA diagnosis rhythm (p=0.011), CA etiology (p=0.007) and diabetes (p=0.050). There was a difference in survival until hospital discharge or death only for individuals with cluster 2 symptoms (p=0.04). Conclusion:
The prodromal symptoms of CA occur in clusters and are associated with physiological and situational influencing factors. Individuals with a cluster of symptoms related to hypoperfusion had a shorter survival time until hospital discharge or death.