Biblioteca Virtual en Salud Enfermería

O Enfermeiro Especialista em Saúde Materna e Obstétrica (EESMO) deve demonstrar competências nos domínios da responsabilidade profissional, ética e legal, melhoria contínua da qualidade dos cuidados, da gestão de cuidados e do desenvolvimento das aprendizagens profissionais, incluindo a aquisição e desenvolvimento das competências específicas da área da especialidade. O Estágio de Natureza Profissional (ENP) permitiu desenvolver e aprofundar essas competências e conhecimentos sobre o procedimento da episiotomia.

Objetivo:

Realizar uma análise crítica e reflexiva sobre as atividades desenvolvidas ao longo do ENP com vista à apresentação e discussão pública. Contextualizar a aquisição das práticas do EESMO e refletir sobre as mesmas baseadas na evidência científica e, ainda, demonstrar competências no domínio da investigação em enfermagem dando resposta ao problema colocado de modo a conseguir resolver problemas em situações novas de um modo auto-orientado e autónomo.

Metodologia:

Foi feita uma contextualização do ENP. Seguiu-se uma análise critica e reflexiva sobre as atividades desenvolvidas, de acordo com a sequência, estabelecida pela Ordem dos Enfermeiros (OE), para as competências especificas em Enfermagem de Saúde Materna e Obstétrica. Foram apresentadas as experiências exigidas de acordo com a legislação Europeia e Nacional e realizada uma reflexão sobre as mesmas. Desenvolveu-se também um estudo de carater observacional, analítico e transversal com uma amostra de mulheres internadas num serviço de Obstetrícia do Norte de Portugal, durante o período de 12 de maio a 12 de julho de 2024. Para a recolha de dados foram selecionados dois instrumentos de dados (Anexo B): Um questionário para a recolha de dados sociodemográficos e questões relacionadas com a saúde sexual e reprodutiva da mulher, outro para avaliação da Função sexual da mulher através do Índice de Funcionamento Sexual Feminino (FSFI) cuja versão portuguesa foi validada por Pechorro et al., 2009. Os dados foram codificados e inseridos numa base de dados no software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 26.0. Foi realizada a análise descritiva. Determinou-se o coeficiente Alpha de Cronbach para avaliar a consistência interna das dimensões da escala, Hill & Hill (2005) e usados os testes não paramétricos: Mann- Whitney para comparação de médias entre dois grupos independentes. Recorreu-se ao coeficiente de correlação de Spearman, para medir a relação linear entre as dimensões da escala. O valor de significância foi de 5,00%. O estudo obteve parecer favorável da Comissão Ética da Unidade Hospitalar. Os resultados permitiram afirmar que foram obtidas as competências especificas do EESMO bem como a aquisição e reflexão das experiências mínimas obrigatórias, solidificadas neste relatório. O estudo revelou que, em média, a Função sexual das mulheres que fizeram episiotomia foi considerada menos satisfatória em comparação com as que não fizeram episiotomia (27,73 ± 4,58 vs. 28,97 ± 4,31), sendo que em todas as Dimensões as pontuações mais altas indicaram melhores níveis de funcionamento sexual. A taxa de episiotomia encontrada na amostra foi de 52,10%. As mulheres que fizeram episiotomia relataram uma média menor de Desejo (3,68 ± 1,06 vs. 4,08 ± 1,03), Excitação sexual (4,46 ± 0,91 vs. 4,75 ± 0,91) menor Lubrificação (4,68 ± 0,97 vs. 5,09 ± 0,80) redução na frequência e intensidade dos Orgasmos (4,79 ± 0,99 vs. 5,01 ± 0,78) e na Dor (4,67 ± 1,28 vs. 4,73 ± 1,32). A única Dimensão do IFSF que apresentou uma média mais elevada foi a Satisfação sexual (5,45 ± 0,81 vs. 5,32 ± 0,96). De acordo com a realização de episiotomia, considerando variáveis como Idade, Habilitações literárias, Número de partos e Temporalidade do Parto anterior, apenas foram verificadas diferenças estatisticamente significativas para as variáveis Habilitações literárias e Número de partos. As mulheres com pelo menos Ensino Secundário que fizeram episiotomia apresentaram médias mais baixas nas Dimensões Desejo (3, 71 ± 1,10 vs. 4, 47 ± 0,99; p= 0,009), Excitação (4,60 ± 0,83 vs. 5,10 ± 1,06; p= 0,023) e Lubrificação (4,73 ± 0,93 vs. 5,33 ± 0,72; p= 0,021) em comparação com as que não fizeram episiotomia. Também as mulheres com dois partos que fizeram episiotomia apresentaram médias mais baixas na Dimensão Lubrificação (4,57 ± 1,01 vs. 5,20 ± 0,81; p= 0,026), em comparação com as que não fizeram episiotomia.

Conclusão:

O ENP e a reflexão crítica sobre o mesmo consolidaram, através da construção deste Relatório, a aquisição das competências para a prática da ESMO, a apresentação das experiências mínimas e a produção de material de investigação. O estudo desenvolvido sugeriu que a realização de episiotomia pode impactar negativamente a Função sexual nas várias Dimensões. Estes dados reforçaram a necessidade de adotar práticas baseadas em evidências que priorizem a integridade física e o bem-estar das mulheres, contribuindo para a melhoria da qualidade dos cuidados em saúde materna e obstétrica, sendo o papel do enfermeiro fundamental. As políticas e práticas clínicas devem ser revistas para assegurar que a episiotomia seja utilizada de forma apropriada e baseada em evidências.