Avaliação da capacidade diagnóstica e prognóstica do S100B coletado na saliva de vítimas de trauma cranioencefálico contuso leve: estudo preliminar
Evaluation of the diagnostic and prognostic capacity of S100B collected in the saliva of victims of mild blunt traumatic brain injury: preliminary study

Publication year: 2023

Introdução:

O biomarcador S100 mensurado no sangue tem sido explorado em pesquisas que evidenciam seu potencial em fornecer medidas objetivas na predição, especialmente, de diagnóstico de lesão em vítimas de trauma cranioencefálico (TCE) contuso leve. Entretanto, são escassas as pesquisas do S100 na saliva, um biofluido promissor, reforçando a relevância deste estudo.

Objetivo:

Avaliar a capacidade diagnóstica e prognóstica do S100 coletado na saliva de vítimas de TCE contuso leve.

Método:

Estudo preliminar do tipo coorte prospectivo que analisou vítimas de TCE contuso leve, caracterizado por história de ocorrência de impacto na cabeça do tipo contuso ou trauma que envolveu mecanismo de aceleração/desaceleração e pontuação da Escala de Coma de Glasgow (ECGl) de 13 a 15, admitidas em quatro hospitais de São Paulo e Ponta Grossa, Brasil, entre setembro de 2021 e fevereiro de 2022.

Os critérios de inclusão dos pacientes foram:

ter idade 18>= e < 60 anos, ser admitido no hospital em até quatro horas do evento traumático, ter realizado tomografia computadorizada (TC) de crânio e ter ferimento contuso na cabeça como lesão principal. As variáveis independentes foram os valores do S100 na saliva (3ª e 6ª hora pós-trauma) e no plasma (3ª hora pós-trauma) identificados pelo método de ELISA. As variáveis dependentes incluíram diagnóstico de lesão evidenciada na TC de crânio e recuperação total mensurada pela Glasgow Outcome at Discharge Scale (GODS) na alta hospitalar e Glasgow Outcome Scale Extended (GOSE) aos 3 e 6 meses pós-trauma. Os testes t Welch, t Student, Qui-Quadrado de Pearson, Wilcoxon-MannWhitney e modelo de efeitos mistos, além de Receiver Operating Characteristic Curves e análise da área sob a curva (AUC), foram realizados (nível de significância de 5%).

Resultados:

A casuística foi composta por 32 vítimas de TCE contuso leve (68,8% sexo masculino; idade média de 39,3 anos). As quedas (47,0%) foram a causa externa mais frequente e a maioria dos pacientes recebeu atendimento pré-hospitalar (59,4%). O tempo médio entre o evento traumático e a admissão hospitalar foi de 1,5 (DP 1,0) hora. Um total de 5 pacientes (15,6%) apresentou lesão na TC de crânio e não houve óbito na amostra. A concentração do S100 no plasma das vítimas de TCE contuso leve na 3ª hora pós-trauma foi significativamente maior do que na saliva (p=0,002) coletada no mesmo momento, e ambos apresentaram bom desempenho (AUC >0,700) na predição de diagnóstico de lesão. Para recuperação total mensurada pela GODS, o valor do S100 identificado no plasma e na saliva não apresentou bom desempenho (AUC<0,700). Na análise da recuperação total das vítimas de TCE contuso leve aos 3 e 6 meses após o trauma, apenas o biomarcador mensurado no plasma demonstrou satisfatória capacidade preditiva (AUC=0,800).

Conclusão:

O biomarcador S100 coletado na saliva na 3ª hora póstrauma apresentou bom desempenho na predição de diagnóstico de lesão de vítimas de TCE contuso leve. Quanto à capacidade prognóstica, o S100 analisado neste biofluido não demonstrou desempenho satisfatório.

Implicações para a prática clínica:

Considerando as vantagens do biofluido saliva, os resultados deste estudo preliminar direcionam para uma possível substituição da análise do S100 no plasma pela saliva na predição de diagnóstico de lesão e, consequentemente, no processo decisório sobre a realização de TC de crânio durante o atendimento inicial da vítima de TCE contuso leve.

Introduction:

The S100 biomarker measured in the blood has been investigated in studies that show its potential to provide objective measures in the prediction of the diagnosis of injury in victims of mild blunt traumatic brain injury (TBI). However, research on S100 in saliva, a promising biofluid, is scarce, reinforcing the relevance of this study.

Objective:

To evaluate the diagnostic and prognostic capacity of S100 collected in the saliva of victims of mild blunt TBI.

Method:

Preliminary prospective cohort study that analyzed victims of mild blunt TBI, characterized by a history of blunt-type head impact or trauma involving an acceleration/deceleration mechanism and a Glasgow Coma Scale (GCS) score of 13 to 15, admitted to four hospitals in São Paulo and Ponta Grossa, Brazil, between September 2021 and February 2022.

The patient inclusion criteria were:

age 18 >= and < 60 years, admission to the hospital within four hours of the traumatic event, submission to computed tomography (CT) of the head and presence of blunt head injury as the main injury. The independent variables were the S100 values in saliva (3rd and 6th hour after trauma) and in plasma (3rd hour after trauma) identified by the ELISA method. Dependent variables included diagnosis of injury evidenced on head CT and total recovery measured by the Glasgow Outcome at Discharge Scale (GODS) at hospital discharge and Glasgow Outcome Scale Extended (GOSE) at 3 and 6 months posttrauma. Welch t, Student t, Pearson Chi-square, Wilcoxon-Mann-Whitney and mixed effects model tests, as well as Receiver Operating Characteristic Curves and area under the curve (AUC) analysis, were performed (significance level of 5%).

Results:

The sample consisted of 32 victims of mild blunt TBI (68.8% male; mean age 39.3 years). Falls (47.0%) were the most frequent external cause, and most patients received prehospital care (59.4%). The mean time between traumatic event and hospital admission was 1.5 (SD 1.0) hour. A total of 5 patients (15.6%) presented injury of the head CT and there were no deaths in the sample. The concentration of S100 in the plasma of victims of mild blunt TBI in the 3rd post-trauma hour was significantly higher than in the saliva (p=0.002) collected at the same time, and both showed good performance (AUC>0.700) in predicting the diagnosis of injury. For total recovery measured by GODS, the S100 value identified in plasma and saliva did not perform well (AUC<0.700). In the analysis of the total recovery of victims of mild blunt TBI at 3 and 6 months after trauma, only the biomarker measured in plasma showed satisfactory predictive capacity (AUC=0.800).

Conclusion:

The S100 biomarker collected in saliva at the 3rd posttrauma hour showed good performance in predicting the diagnosis of injury in victims of mild blunt TBI. As for the prognostic ability, the S100 analyzed in this biofluid did not demonstrate satisfactory performance.

Implications for clinical practice:

Based on the advantages of saliva biofluid, results of this preliminary study point to a possible replacement of S100 analysis in plasma by saliva in predicting the diagnosis of injury and, consequently, in the decision-making process regarding the performance of head CT during the initial care of the victim of mild blunt TBI.