Percepção de médicos pediatras sobre a sua relação com a indústria de fórmulas infantis no município de Jundiaí
Perception of pediatricians about their relationship with the infant formula industry in the city of Jundiaí

Publication year: 2023

Introdução:

Nos últimos anos, as indústrias de produtos alimentícios para crianças menores de cinco anos cresceram e as estratégias de marketing são cada vez mais sofisticadas. A exposição ao marketing prejudica o início, duração e exclusividade da amamentação, e diminui a confiança das mães em sua capacidade de amamentar. Os profissionais de saúde, especialmente os médicos pediatras, são parte das campanhas de marketing, são agentes promocionais e têm forte influência nas atitudes e práticas alimentares infantis.

Objetivos:

Compreender como os médicos pediatras percebem a sua relação com as indústrias de fórmulas infantis.

Método:

Para esse estudo de caráter qualitativo, foram entrevistados médicos pediatras da cidade de Jundiaí que atuam na rede particular de saúde, e que atenderam crianças de 0 a 3 anos nos 30 dias anteriores à entrevista. As entrevistas foram gravadas e transcritas na íntegra. As transcrições foram analisadas pelo método da Análise de Conteúdo, e a interpretação pela Teoria do Comportamento Planejado.

Resultados:

Os trechos das entrevistas foram organizados nos constructos que preveem a intenção do comportamento dos médicos pediatras em prescrever fórmula infantil. A partir das três categorias pré-definidas pela Teoria do Comportamento Planejado Atitudes, Normas Subjetivas e Controle Percebido, surgiram nove temas: Motivos para prescrição de fórmula infantil, Condutas sem evidências científicas, Entidades de classes e contraindicações, Manejo das dificuldades na amamentação, Influência da família, Influência da indústria, Influência do representante da indústria, Cumprimento à NBCAL, e Critérios para prescrição de determinada fórmula infantil.

Considerações finais:

No presente estudo foi possível perceber que os médicos pediatras entrevistados recebem incentivos das indústrias produtoras de fórmula infantil sem identificar um conflito de interesses, que há um despreparo dos profissionais em relação ao manejo do aleitamento materno, e desconhecimento e descumprimento da NBCAL. Chama a atenção, os médicos pediatras terem condutas desatualizadas, sem evidências científicas. Ressalta-se a necessidade de desenvolvimento de mais estratégias governamentais com o objetivo de aumentar o conhecimento e a adesão à legislação vigente pelos profissionais de saúde, e de monitoramento e fiscalização nos estabelecimentos de saúde através dos órgãos competentes, para frear o marketing abusivo das empresas de fórmulas infantis. A enfermagem é reconhecida como categoria profissional importante na promoção, proteção e apoio à amamentação, e deveria liderar equipes multiprofissionais. As diferentes condutas em saúde podem confundir as mães e famílias, e este estudo revela importantes percepções de médicos pediatras a respeito do conflito de interesses que dificultam o aleitamento materno.

Introduction:

In recent years, the industries of food products for children under five years of age have grown and marketing strategies are increasingly sophisticated. Exposure to marketing impairs the initiation, duration, and exclusivity of breastfeeding, and decreases mothers' confidence in their ability to breastfeed. Health professionals, especially pediatricians, are part of marketing campaigns, are promotional agents and have a strong influence on children's eating attitudes and practices.

Objectives:

To understand how pediatricians perceive their relationship with the infant formula industries.

Method:

For this qualitative study, pediatricians from the city of Jundia%C3%AD who work in the private health network and who treated children aged 0 to 3 years in the 30 days prior to the interview were interviewed. The interviews were recorded and transcribed in full. The transcripts were analyzed using the Content Analysis method, and the interpretation using the Theory of Planned Behavior.

Results:

The excerpts from the interviews were organized into the constructs that predict the behavior intention of pediatricians in prescribing infant formula. From the three categories pre-defined by the Theory of Planned Behavior - Attitudes, Subjective Norms and Perceived Control, nine themes emerged: Reasons for prescribing infant formula, Conduct without scientific evidence, Class entities and contraindications, Management of breastfeeding difficulties, Family Influence, Industry Influence, Industry Representative Influence, NBCAL Compliance, and Criteria for Prescribing a Specific Infant Formula.

Final considerations:

In the present study, it was possible to perceive that the interviewed pediatricians receive incentives from the industries that produce infant formula without identifying a conflict of interest, that there is a lack of preparation of professionals in relation to the management of breastfeeding, and lack of knowledge and non-compliance with NBCAL. It is noteworthy that pediatricians have outdated conduct, without scientific evidence. It is emphasized the need to develop more government strategies with the aim of increasing knowledge and adherence to current legislation by health professionals, and monitoring and inspection in health establishments through the competent bodies, to curb the abusive marketing of companies. of infant formulas. Nursing is recognized as an important professional category in the promotion, protection and support of breastfeeding, and should lead multidisciplinary teams. The different health behaviors can confuse mothers and families, and this study reveals important perceptions of pediatricians regarding the conflict of interests that make breastfeeding difficult.