Publication year: 2023
Introdução:
O cardioversor-desfibrilador implantável (CDI) é considerado uma das opções terapêuticas mais eficazes para a prevenção da morte súbita cardíaca devido à sua capacidade de identificar e interromper arritmias ventriculares potencialmente fatais pela aplicação de terapias de choque. Ao mesmo tempo em que esses dispositivos salvam vidas e conferem segurança aos pacientes, também podem causar desfechos psicológicos desfavoráveis. Objetivos:
Estudar os desfechos reportados por pacientes com CDI, incluindo a qualidade de vida relacionada à saúde, a ansiedade e a aceitação do dispositivo por meio de instrumentos de medida padronizados e identificar preditores de melhores respostas para cada um desses construtos. Método:
Trata-se de uma coorte prospectiva realizada no período de janeiro de 2020 até junho de 2021 em um hospital público universitário de alta complexidade, localizado na cidade de São Paulo. Foram incluídos indivíduos com idade entre 18 e 90 anos, submetidos a implante de CDI ou a procedimento de reoperação para a manutenção do dispositivo. A avaliação dos desfechos reportados foi realizada em 30 e 180 dias após a alta hospitalar, e os instrumentos de medida utilizados foram o EuroQol (EQ-5D-3L), o Florida Shock Anxiety Scale (FSAS) o Florida Patient Acceptance Survey (FPAS) para avaliar a qualidade de vida relacionada à saúde, o nível de ansiedade relacionado ao CDI e a aceitação ao dispositivo, respectivamente. Os desfechos do estudo incluíram as mudanças nos escores dos construtos avaliados, quantificadas por meio da diferença mínima importante (DMI). Para a comparação dos pacientes que atingiram ou não a DMI utilizou-se a análise univariada por meio dos testes t de Student, Exato de Fisher e Qui-quadrado. Com a finalidade de determinar os preditores de melhores escores, foram desenvolvidos modelos de regressão logística multivariada pelo método de stepwise, sendo consideradas as variáveis que apresentaram P 0,10 na análise univariada. Resultados:
Entre os 154 pacientes incluídos, houve predomínio do sexo masculino (72,1%) e a idade média foi de 55,1 ± 13,5 anos. Mais da metade dos pacientes 11 (55,2%) foram submetidos à reoperação (55,2%), sendo o CDI atrioventricular o principal dispositivo (52,6%). Para qualidade de vida, os escores médios da percepção do estado geral de saúde pelo EQ-5D-3L, nas avaliações de 30 e 180 dias foram de 78,7 e 73,8 pontos, respectivamente, denotando uma boa qualidade de vida na população. Para ansiedade relacionada ao CDI, os escores do FSAS em 30 dias foram de 23,5 e em 180 dias de 23,9 pontos, refletindo um nível de ansiedade mínimo. Para a aceitação ao CDI, a pontuação média do FPAS foi de 72,6 em 30 dias e de 74,7 pontos em 180 dias, denotando que os pacientes se encontravam adaptados ao dispositivo. A DMI para os construtos qualidade de vida, ansiedade e aceitação do CDI foi observada em 33 (22,4%), 36 (24,5%) e 43 (29,3%) pacientes, respectivamente. Idade igual ou maior que 60 anos (OR=2,5; IC 95%=1,14-5,53; P=0,022), ausência de fibrilação atrial (OR=3,8; IC 95%=1,26-11,63; P=0,017) e sexo feminino (OR=2,2; IC 95%=1,02-4,97; P=0,045) foram preditores independentes de melhores respostas para qualidade de vida, ansiedade e aceitação do CDI, respectivamente. Conclusão:
O presente estudo permitiu conhecer melhor o perfil dos pacientes com CDI, em termos de qualidade de vida, ansiedade e aceitação do dispositivo e demonstrou a estabilidade dos escores obtidos entre os dois momentos de avaliação. A identificação de preditores para melhores escores de qualidade de vida, ansiedade e aceitação do dispositivo pode subsidiar a implementação de cuidados específicos para os pacientes com maiores chances de apresentar resultados desfavoráveis.
Introduction:
The implantable cardioverter-defibrillator (ICD) is considered one of the most effective therapeutic options for preventing sudden cardiac death due to its ability to identify and interrupt potentially fatal ventricular arrhythmias by applying shock therapies. While these devices save lives and provide patient safety, they can also cause poor psychological outcomes. Objectives:
To study patient-reported outcomes, including health-related quality of life, anxiety, and acceptance of the ICD using standardized measurement instruments, and to identify predictors of better responses for each of these constructs. Methods:
This prospective cohort study was conducted from January 2020 to June 2021 at a high-complexity public university hospital in São Paulo. Individuals aged between 18 and 90 years who underwent ICD implantation or a reoperation procedure were included in this study. Patient-reported outcomes evaluation was performed at 30 and 180 days after hospital discharge, and the measurement instruments used were the EuroQol (EQ-5D-3L), the Florida Shock Anxiety Scale (FSAS), and the Florida Patient Acceptance Survey (FPAS) to assess health-related quality of life, ICD-related anxiety level and device acceptance, respectively. Study outcomes included changes in the scores of the evaluated constructs, quantified using the minimally important difference (MID). Univariate analysis was performed using Student's t test, Fisher's Exact test, and Chi-square test to compare the characteristics of patients who achieved or did not reach the MID. Multivariate logistic regression models were developed using the stepwise method to determine the predictors of better scores, considering the variables that presented P 0.10 in the univariate analysis. Results:
Among the 154 patients included, there was a predominance of males (72.1%), and the mean age was 55.1 ± 13.5 years. More than half of the patients (55.2%) underwent reoperation (55.2%), with the atrioventricular ICD being the main 13 type of device (52.6%). Quality of life average scores of the perception of the general state of health by the EQ-5D-3L in the 30- and 180-day assessments were 78.7 and 73.8 points, respectively, denoting a good quality of life in the population. ICD-related anxiety scores, evaluated by FSAS, at 30 days were 23.5, and at 180 days, 23.9 points, reflecting a minimal level of anxiety. The average FPAS score was 72.6 in 30 days and 74.7 points in 180 days, denoting a good device acceptance level. The DMI for quality of life, anxiety, and device acceptance was observed in 33 (22.4%), 36 (24.5%), and 43 (29.3%) patients, respectively. Age equal to or greater than 60 years (OR=2.5; CI 95%= 1.14-5.53; P=0.022), absence of atrial fibrillation (OR=3.8; CI 95%= 1.26- 11.63; P=0.017), and female gender (OR=2.2; 95% CI= 1.02-4.97; P= 0.045) were independent predictors of better responses to quality of life, anxiety, and device acceptance, respectively. Conclusion:
The present study provided a better understanding of the ICD patients' profile regarding quality of life, anxiety, and device acceptance, and demonstrated the stability of the scores obtained between the two evaluation moments. Identifying predictors for better quality of life scores, anxiety, and device acceptance can support the implementation of specific care for patients more likely to have unfavorable results.